Em dezembro do ano passado, recebemos um belo puxão de orelha por meio de nossa página de contato:

Monges tibetanos em debate. Crédito: Anna Carter
Monges tibetanos em debate. Crédito: Anna Carter

“A capacidade desperdiçada do PdH”

Prezados, primeiramente gostaria de deixar uma coisa clara: não estou aqui com pedras nas mãos, muito menos caçando coisa pra fazer ou exercitando arrogância. Resolvi investir o meu tempo escrevendo para vocês porque achei que perdi maior parte do meu tempo lendo o PDH. E só o faço porque, independente de gostar ou não dos textos, senti que vocês fazem o trabalho com tesão em escrever. Porque vocês investem seu tempo nisso e são bons no que fazem, mas acredito que estão se desvirtuando.
Assinei o feed do PDH há menos de 10 dias e já cansei de ler os textos. Uma amiga do trabalho me enviava um link ou outro do PDH e eu curtia muito, muito mesmo. Eu achava vocês muito bons na escrita e escolha dos temas.
A minha crítica é 100% construtiva, queria muito que vocês leiam meus comentários por achá-los pertinentes e dignos de parar o meu trabalho para escrevê-los. E porque sou um leitor muito exigente, principalmente. Sei que vocês gostam do papo reto, então seguem em tópicos:
1. Quantidade e qualidade estão divididos por um abismo enorme no PDH. Se é que algum dia vocês pretendem fazer com que andem juntos, vão pastar até lá e ainda podem dar de cara no chão.
2. Vocês me parecem pessoas bem inteligentes (falo totalmente sem ironia ou puxasaquismo), mas não dá pra saber tudo. Se atenham em escrever sobre o que sabem. Sei que já dizem fazer isso, mas não sinto que soa verdade;
3. Melhorem a revisão na hora de publicar, vi diversos erros gramaticais, mas a maioria se deve a erros de digitação. Faz parecer que é descaso e sei que não é;
4. Vocês não são programa de comédia. Não precisam fazer o povo rir todo dia, muito menos satisfazê-lo. Sejam menos pretensiosos e mais verdadeiros. Escrever um texto sobre “falar com o coração” e não fazê-lo nos outros textos é desrespeitar todos os “leitores tão ou mais inteligentes” que vocês pregam nas dicas de como escrever textos para o PDH;
5. Senhores, a miscelânea é saudável, mas a internet já está cheia disso. Sejam originais sendo vocês mesmos, com foco em alguns temas, os que acharem mais fodas. Chega de post com cara de reportagem, pra isso posso ler sites de notícias. Vocês têm total capacidade e sabem disso;
6. O mistério e a espera de um novo post mexe com o público e entendo que 2 ou 3 por dia é demais e desnecessário. Tira o clima de “o que será que vem no próximo??”.
Bem, é isso. Espero que entendam que considero vocês muito bons, mas apenas estão perdidos.

Abrimos a conversa para o time e trocamos várias ideias com o autor dessa mensagem – cuja identidade escolhemos preservar por conta de outro email que será aberto nesse artigo. Conversei com ele por skype, para expor em mais detalhes nosso contexto e obstáculos. Ele acabou se dispondo a revisar voluntariamente alguns de nossos textos, por vezes nos apontando erros ortográficos.

Eis que, seis meses após o contato inicial, recebemos nova mensagem:

“PdH fazendo o que se propõe”

Senhores,
é um prazer estar de volta à caixa de email de vocês. Após conversar com o Guilherme via Skype e acompanhar quase todos os textos desde dezembro, devo dizer que me sinto orgulhoso em fazer parte do grupo de leitores assíduos do PdH.
Sinto que os leitores crescem e se desenvolvem a cada passo mais a frente que vocês dão, em conjunto. Não sei exatamente como fizeram isso, mas acertaram em cheio a sintonia entre os conteúdos e os “níveis” dos textos juntamente com o momento dos leitores que os acompanham.
Vocês são gente escrevendo pra gente, é esse o tesão do PdH em minha humilde opinião. São economistas, marketeiros, administradores, filósofos… mas ao mesmo tempo são pessoas comuns quando escrevem.

Eu gostaria de compartilhar com vocês um passo enorme em minha vida: atendi minha primeira paciente ontem! Sou psicólogo formado em uma ótima universidade, mas como manda o mercado e as contas a pagar, estou preso em uma função de RH. Gosto de usar o termo preso, porque sempre existem meios de nos desprendermos das amarras, não é uma condição eterna e sim um estado atual. Basta achar a chave.

Achei interessante colocar esses 50 minutos que passei ontem em palavras, porque sinto que conversar com vocês (mesmo que só lendo) me fez ter mais atitude em minha vida. É muito difícil reconhecer que um cara que se acha inteligente, bem articulado e seguro precisa de ferramentas externas para crescer e sair de uma areia movediça. E que essas ferramentas muitas vezes são textos online.
Quando criança, tínhamos vitrola e Atari em casa! Comprei meu primeiro celular aos 23 anos (hoje tenho trinta e poucos), sendo o último da turma a ter um aparelho. Resumindo: sempre fui contra o movimento cibernético e mudei meus conceitos de uns 2 anos pra cá, sendo que vocês foram responsáveis por mais de metade dessa mudança, e a outra parte se resume em sites que vocês indicaram. Adoro o Mr. Mustache.

Acho impressionante a competência do PdH em usar a internet, um meio tão supérfluo em 98% dos casos, para mudar vidas.
Não posso dizer que só vocês mudaram a minha vida, mas tiveram grande importância em alimentar diariamente um sonho de mudar.
Tive professores excelentes na faculdade, tenho uma irmã brilhante e alguns amigos malucos que me ajudaram a ver a vida de maneira diferente da tradicional.
Mas de alguma maneira, vocês estiveram mais presentes que todos eles no meu cotidiano e a diversidade e astúcia com que colocam os temas foram de fundamental importância na vontade de mudar.

O atendimento clínico é o sonho da minha vida, e pelo que sinto e experimento, vai perdurar ao longo de muitos anos. Decidi alugar a sala com ou sem paciente, para poder chamar de minha. De uns meses pra cá entrei em um grupo de estudo com um psicanalista foda e voltei à terapia, passos fundamentais e importantíssimos para quem atende.
Dedico minha primeira sessão à vocês, equipe do PdH, não como psicólogo, mas sim como homem.

Um grande abraço.

Difícil transpor em palavras meu sentimento ao receber essa mensagem. Com todas nossas falhas e tropeços, é essa nossa busca: fazer um veículo capaz de afetar positivamente a vida das pessoas, que cultive o pensamento crítico, nos ajude a transpor preconceitos e amarras desnecessárias. Ao nos colocarmos nas trincheiras, assumidamente fodidos e em processo de crescimento, aspiramos estimular vocês a também agirem. Sem pregação professoral, apenas nos colocando ombro a ombro, francos.

Leia também  Estamos nos afogando num mar de informações, o que podemos fazer?

Olhando agora em nossa home vejo artigos sobre a bicuriosidade masculina, sobre amadurecimento masculino, sobre filmes surrealistas, sobre filmes com zumbis em cuba, sobre mulheres nuas, sobre swing, sobre novas formas de conteúdo, sobre educação financeira, sobre nutrição caseira, sobre incomensurabilidade, sobre futebol, uma performance musical única e um discurso legendado maravilhoso de David Foster Wallace. Tudo na mesma página, ao mesmo tempo, com bons debates em curso. Jamais seria capaz de vislumbrar tal realidade há seis anos, quando surgimos.

Pois não somos jornalistas sensacionalistas escrevendo para um público adormecido em busca de entretenimento vazio e algodão doce em forma de palavras. Somos uma rede com mais de quinhentos colaboradores voluntários, espalhados por aí. Não temos acionistas. Não temos como norte a audiência, nem o lucro – ainda que ambos sejam meios hábeis essenciais para aumentar o impacto positivo do que fazemos.

O veículo é de pessoas para pessoas.

Buscamos oferecer um espaço amplo, desafiante, no qual antagonismos e contradições coexistam por meio do diálogo respeitoso entre os mais distintos pontos de vista. A ideia é, continuamente, cultivar as conversas que realmente importam.

Sinto estarmos só arranhando o potencial de tudo a ser feito. Vamos seguindo.

Abração a todos!

ps.: já viram a nova seção com o melhor do PdH? Estamos adicionando artigos, pouco a pouco.

ps2.: tivemos recorde histórico de visitas únicas em um mesmo dia – 426.486 em 22/05 – com o recente texto “Como uma mulher se sente“. Esse texto foi também o que mais rápido acumulou leituras em nossa história, com 810.000 até o momento. Simbólico para um projeto nascido sob a alcunha de PapodeHomem, não?

Guilherme Nascimento Valadares

Fundador do PDH e diretor de pesquisa no Instituo PDH.