Não precisa dar refresh achando que seu computador deu pau e um texto de meses atrás pipocou na tela sem querer. 

O título soa familiar, mas o “outros” entrega que já conversamos sobre o tema no passado. Cá estamos para pouco um mais de caipiragem, lamúrios da classe trabalhadora, sofrimento, amor e as vaticinadas respostas ao vento que a palavra “folk” traz à mente sem esforço nenhum. 

Mas também é possível que você não faça ideia do que estou falando. Então, se quiser dar uma passadinha antes pelos textos “Curso intensivo para apreciação de folk” e “25 folks para estourar seus tímpanos” seria bem legal.

Dessa vez tentei alterar os métodos. E aí que a lista nasceu assim:

Os novos parâmetros para a escolha

  • Fugir das primeiras canções que surgirem na cabeça;
  • Listá-las opondo composições mais recentes aos clássicos, quebrando a linearidade;
  • Vale escolher artistas obscuros ou que guardem pouca familiaridade com o gênero.

1. “Trials, Troubles, Tribulations

Revisitação do spiritual sulista dos 1950 encabeçado por Justin Vernon (Bon Iver) e Sharon Van Etten. Os menos conhecidos Matthew E. White, Megafun e Fight The Big Bull completam a formação do tal Sounds Of The South.

2. Ambulance Blues

1998, Bridge School Benefit Concert, Mountain View, Califórnia. Era para ser mais uma edição da festa, mas aí o Neil Young resolveu usar o R.E.M. como banda de apoio e trocar o violão pelo banjo. Brotou essa versão absurda.  

3. Antichrist Television Blues

Dentro de todo esse turbilhão de influências, ruídos, instrumentos incomuns e referências que parecem não fazer sentido entre si – mas que sempre funcionam -, bate um coração folkista no Arcade Fire. Ele aparece na belíssima “The Suburbs” e brilha como nunca nessa aí de cima. Vale acompanhar a letra verso por verso.

4. Time Has Told Me

Nunca sei o que mais me impressiona aqui: se o dedilhado “quebrado” de Nick Drake ao violão ou a guitarra chorosa de Richard Thompson.

5. My Maniac and I

Começa praticamente uma valsa e termina lindamente. Um mega arranjo para uma puta voz!

6. “Crucify Your Mind”

Rodriguez, o personagem central do excelente Searching For Sugar Man, é tão bom, mas tão bom, que levou décadas para se encontrar com o sucesso.

7. “The Past Recedes”

Guitarrista inventivo, técnico e com sonoridade própria, compositor das melhores pérolas do Red Hot Chili Peppers, produtor ligeiro, multi-instrumentista, influência para mais de uma geração e, acima de tudo, dono de uma carreira solo fodida. 

Acho que ainda faltou adjetivo para o tamanho do Frusciante. Essa aí vem do Curtains

8. “Atlantic City”

“The Boss” brincando de Bob Dylan. Deu tão certo que “Atlantic City” entrou direto no cancioneiro básico do folk e no setlist do mítico Levon Helm.

9. “We are Nowhere and It’s Now” 

O Bright Eyes tem uma carreira irregular, é verdade. Mas aqui eles aparecem no ponto mais alto da montanha russa. Coisa fina.

10. “Old Cotton Fields At Home”

Conheci essa por indicação de um querido primo. A versão do Creedence Clearwater Revival também merece sua atenção.

11. “Delicate”

Ana Carolina e Seu Jorge fizeram um imenso desserviço à música. Não só pela versão desastrosa de “The Blower’s Daughter” (É ISSO AÍÍÍÍÍÍÍ), mas porque muita gente acabou torcendo o nariz para o Damien 

Rice. Se você é um desses, vale insistir com “Delicate”.

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12. “She Belongs To Me”

Versão do bootleg do lendário show em que Dylan é chamado de “Judas” pela plateia. Há dúvidas se o fato se deu em Manchester ou em Londres. 

A real é que as canções acústicas foram eletrificadas e as eletrificadas foram tocadas somente ao violão, como no caso “She Belongs To Me”.

13. “Hit Ground Running”

Bill Callahan é constante. Seja na fase Smog, seja na carreira (assumidamente) solo. É daqueles que a crítica musical aguarda os álbuns para jogá-los direto nos pontos mais altos das listas de melhores do ano.

14. “San Vicente”

América do Sul e seu gigantismo. Não é folk tradicional, mas entra justamente no sentido original da palavra (“povo”, em alemão) e também no contexto de música folclórica regionalista. 

No mesmo Clube da Esquina mora o clássico “O Trem Azul”, de Lô Borges – esse um folk rock sangue puro.

15. “The King Of Carrot Flowers”

A primeira canção da pedra fundamental do indie folk, o álbum In The Aeroplane Over The Sea, de 1998. De lá para cá, todo mundo que pegou num violão acabou influenciado pelo Neutral Milk Hotel, sabendo disso ou não.

16. “True Love Waits”

Thom Yorke e um violão. É só e é tudo isso.

17. “Sara”

Taí um cara extremamente competente. Chad faz várias apresentações por aí como one-man band – com gaita, guitarras e violões, peças de bateria aos pés e programações. Diaper Island, o disco que traz “Sara”, é um daqueles bons para se escutar de cabo a rabo nesse outono que se avizinha. 

18. “Just Like This Train”

Court And Spark está naquela lista de discos que crescem à medida em que você envelhece. 

Essa aí é a minha favorita nele.

19. “Easier”

Pouca gente sabe criar arranjos tão intrincados sem soar chato como os nova-iorquinos do Grizzly Bear. Ótima canção para quem se derrete por Bon Iver e companhia.

20. “Carolina Cotton Mill Song” 

Da leva de canções sobre direitos dos trabalhadores rurais, bem ao estilo Pete Seeger e Woody Guthrie

21. “I Know No Pardon”

Neil Young assinaria essa coisinha aqui. Andy Cabic, o vocalista do Vetiver, é  brother do Devendra Banhart e de uma galerinha massa da Costa Oeste. Ah, a boa notícia é: tem disco novo da banda neste ano.

22. “Via Chicago”

Jeff Tweedy conta uma historinha da capital informal do Meio-Oeste americano. A versão ao vivo dos últimos anos ganhou uma quebradeira maravilhosamente confusa que vem e vai embora sem você nem se dar conta. Gigante demais.

23. “Richard Ramirez Died Today Of Natural Causes”

Mark Kozelek parte da morte por causas naturais do serial killer Richard Ramirez, o satanista “Night Stalker” – que aguardava no corredor da morte em San Quentin -, para ironizar uma porção de lugares comuns americanos. 

Do denso e essencial Benji, do ano passado. 

24. “Journey Through The Past”

Paul Thomas Anderson, obrigado por me lembrar dessa. A versão ao violão tem outro clima. Como se a viagem ao passado fosse bem mais saborosa.

25. “Se tiver de ser na bala, vai”

Helio Flanders e o Vanguart para fechar a conta. 

Por aqui também se faz caipiragem da melhor qualidade.

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.