O jornalismo tem papel essencial durante o processo político que antecede as eleições. Não somente no caráter informativo e investigativo dos fatos que envolvem as coligações, crises partidárias e meio que financiam as campanhas. Mas, principalmente, na apresentação e discussão de propostas de mandato.
Até aí, nenhuma novidade. O problema é que estamos vivenciando uma cobertura sem qualquer uma dessas características em alguns municípios. O que também não é novidade. Mas é assustador.
Tornou-se comum a utilização de infames trocadilhos e expressões modistas em títulos e legendas em sites. Uma técnica chula de gerar acesso à página e pegar um público genérico não só interessado no fato, fazendo com que a piada ganhe mais destaque que a pauta noticiada.
Além disso, não parece que estamos em ano de eleição. As notícias referentes a alguns candidatos resumem-se em comentários bobos sobre o passado, as mudanças de postura de acordo com os interesses políticos e críticas singelas que eu, você ou qualquer cidadão faria na timeline do Facebook. Algo pequeno, razoável, pouco para quem tem o dever de acender a fagulha que molda a opinião de uma comunidade.
Quer um exemplo prático?
Há 20 dias eu telefonei para a redação do site Midia News, de Cuiabá. Me apresentei como leitor e eleitor. Disse que tinha uma sugestão. Foi basicamente assim:
— Meu nome é Fred Fagundes. Queria falar com a redação. Sou leitor e tenho uma sugestão. Tudo bem?
— Claro. Um instante. — disse a recepcionista.
Poucos minutos depois alguém da redação atendeu o telefone. E eu disse:
— Eu acredito que os comentários do site são parte da matérias. Muitas vezes, os debates complementam e revelam novas vertentes para a notícia. É claro que nem sempre é assim, pois existem os trolls que estão ali apenas para bagunça. Mas acredito que muita gente, antes de ler a matéria, bate o olho nos comentários. A minha sugestão é a seguinte: já que estamos em ano de eleição e teremos – acredito – muitas matérias sobre política, por que não criar um perfil oficial para cada candidato?
Seria assim:
- o administrador criaria um perfil para os candidatos a prefeito de Cuiabá e VG.
- o perfil, claro, teria um destaque direfente ao do usuário comum. Pode ser uma foto, um negrito, algo que deixe claro que se trata de um perfil oficial.
- o jornal entregaria um manual de conduta para o partido, a assessoria de imprensa estaria sempre de olho nos comentários e o candidato poderia interagir mais com as notícias e os eleitores.
- a ideia é gerar uma maior comunicação entre candidato e eleitor. Não apenas ataques. Mas a oportunidade de apresentar propostas, algo que anda bastante fraco esse ano.
Além disso, estamos falando de uma oportunidade ótima de pauta. Seria um grande passo do veículo, uma vez que desconheço site que fez algo parecido.
Do outro lado da linha:
— Ah, legal. Só um minuto que vou passar pra menina que aprova os comentários.
Falei tudo de novo. Ouvi a resposta.
— Bacana. Obrigado pela sugestão. Eu vou falar com o rapaz que cuida disso. Vamos ver o que podemos fazer.
Desligaram. Sem pegar meu nome, telefone ou mesmo e-mail.
Esse total desinteresse é um símbolo do jornalismo cheio de melindres. É óbvio que utilizar o Midia News como parâmetro é uma bobagem, mas a falta de ação e personalidade do jornalismo político existente, por exemplo, nos periódicos da capital reflete na reação de quem é receptor da mensagem: preguiça.
Não sou jornalista. Respeito os jornalistas. Reconheço os sindicatos. Compreendo as dificuldades. Mas estou passando minha visão de consumidor. As opiniões publicadas nos últimos meses são batidas, as análises sem fundamento e os artigos absurdamente rasos. O período eleitoral está passando e o jornalismo, de maneira irresponsável, vai matando job. Ruim pra sociedade, principal dependente do indispensável tom crítico do setor.
Quando falamos em política, falamos de sociedade. A minha atitude surgiu após encontrar uma lacuna que poderia ser prejudicial ao município – a de falta de diálogo. Não tem nada de singelo em indicar uma alteração na estrutura de uma ferramente. Muitas transformações nascem a partir das possibilidades que focam no debate. Portanto, responda: o que você já fez pra mudar — ou pelo menos chacoalhar — a estrutura política na sua cidade?
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