Falam que o Campeonato Brasileiro é o mais disputado do mundo. E se feita a comparação com outros campeonatos nacionais pelo mundo, realmente temos uma competição que podemos chamar de equilibrada. Mas esse é um potencial pouquíssimo aproveitado. A nossa liga nacional ainda é muito injusta.
A culpa disso está na forma de distribuição de cotas televisivas, a maior fonte de renda dos clubes brasileiros. O sistema usado nas cotas televisivas atrofia – e muito – o nosso potencial para um campeonato realmente disputado.
Para ilustrar a ideia, o Flamengo teve a maior cota da Série A deste ano, com R$ 84 milhões. No lado oposto da tabela, o Náutico, com uma receita de R$ 18 milhões.
Com isso, o futebol brasileiro está sofrendo uma verdadeira “espanholização”, com determinados clubes mais favorecidos dando passadas em direção ao status de “Barcelonas” ou “Real Madrids”, e demais clubes caindo aos poucos na inércia futebolística, incapazes de disputar um campeonato com aspirações dignas.
O que os ingleses e os americanos podem ensinar para o nosso futebol
Já deu pra notar que o modelo de cotas televisivas brasileiro não é lá o ideal.
Vale, portanto, apresentar o modelo da liga nacional mais rica do planeta, a Premier League, da Inglaterra.
Na encerrada temporada 2011/2012, o campeonato inglês rendeu quase um bilhão de libras esterlinas aos clubes. Convertendo, uma soma de R$ 3 bilhões.
O sistema é simples e direto: do total de £1055,3 milhões de receita oriunda da TV, £738.1 milhões(70% do total) foram disponibilizados para repartir de forma igual pelos clubes. Dos 30% restantes, 15%f são “prize money”, que premiam o time de acordo com classificação no campeonato. E os últimos 15% são de acordo com o número de jogos transmitidos.
Neste modelo, o Wolverhampton, rebaixado como lanterna, recebeu 39 milhões de libras, o que corresponde a 64,4% da receita do Manchester City, o campeão. Para refrescar a memória, a receita do Náutico só representa 21,4% da do Flamengo.
Já a famosa liga de futebol americano, a NFL, apresenta uma fabulosa cota televisiva totalmente igual para os 32 times participantes. É um pote de riqueza, dividida de forma comunista para todos.
É só vermos o exemplo do campeão do Super Bowl da temporada de 2010, o Green Bay Packers. Time de Green Bay, Wisconsin, uma cidadezinha com pouco mais de 100.000 habitantes. O Green Bay Packers superou o New York Giants, nome que já dispensa comentários.
Se fosse no Brasil, os Packers não teriam a mínima chance de chegar na final, muito menos conquistar o título.
É também possível traçar um paralelo entre a liga de beisebol, a MLB, e o campeonato brasileiro. A MLB já foi a liga esportiva mais popular dos EUA e hoje em dia amarga baixos números de audiência frente a NFL. E um dos motivos foi a manutenção de um sistema arcaico de distribuição da cota televisiva.
Atualmente, a audiência do Super Bowl supera em 85 milhões a do World Series. É importante lembrar que o beisebol já foi, de longe, o esporte mais popular e assistido dos EUA. E aí está uma lição de economia para o Brasil.
Enquanto a MLB demora para se renovar e continua com modelos de cotas televisivas desproporcionais, a NFL está dando aula de gestão e distribuição financeira. O futebol americano é construído sob um modelo de igualdade e justiça e o beisebol é construído sobre um modelo onde os ricos sempre ganham e os mais pobres geralmente não tem chance.
Todos os clubes brasileiros oferecem o mesmo para a televisão, que é o direito de transmissão dos seus jogos em seus mandos de campo. Como todos os 20 times se cruzam, em iguais números de jogos em casa, nada justifica cotas televisivas tão desiguais.
Apenas lembro que não estou aqui nesse texto defendendo uma igualdade comunista para o futebol brasileiro. O que defendo é uma redemocratização. Um campeonato mais homogêneo, mais interessante e, sobretudo, menos escroto.
Se for para fazer a diferença no orçamento, que seja com venda de produtos oficiais, bilheterias, títulos, e patrocínios captados pelo próprio clube.
Vamos fazer um campeonato menos enfadonho. Um campeonato baseado na verdadeira meritocracia.
O nosso querido “football” veio na bagagem de Charles Miller em 1894.
Por que não poderíamos trazer o modelo de gestão numa outra mala qualquer?
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