Vamos fazer um exercício simples. Cite o nome de um grande craque da seleção masculina de futebol das olimpíadas 2016. Agora, cite o de um atleta paralímpico. Se você conseguiu os dois nomes, meus parabéns. Saiba que essa, infelizmente, não é a regra.

A história das paralimpíadas começou no fim da segunda guerra mundial, como uma tentativa de reabilitar soldados feridos em combate. Com o número  enorme de militares vítimas de lesões graves, o neurocirurgião Ludwig Guttmann investiu na construção de uma reabilitação, usando o esporte como principal ferramenta.

Em 1948 ele organizou uma competição com os veteranos, e isso acabou evoluindo para um torneio internacional. Os jogos foram tomando forma ao longo dos anos, e em 1976 já eram cerca de 40 países.

Ludwig Guttmann 

Mesmo com toda essa bagagem, a competição ainda sofre bastante com a falta de participação de torcedores. Enquanto os jogos que terminaram no último domingo alcançaram ótimos números nos estádios e arenas, e uma devoção quase que total das atenções na tv e internet,  as paralimpíadas tendem a ficar um pouco para escanteio. Os ingressos quase não estão saindo e já começam a circular as primeiras postagens em redes sociais incentivando a participação das pessoas nos torneios. 

Campanha para convencer a população a assistir aos jogos? Ingressos a 10 reais? Já imaginaram isso acontecendo nas olimpíadas? Eu também não.

Mas correntes e posts de facebook a parte, os números mostram o quanto estaríamos perdendo ao deixar de ver as competições. A olimpíada de 2016 registrou um total de 19 medalhas para o Brasil. Enquanto isso, a paralimpiada de 2012, ocorrida em Londres, trouxe para nossa casa um total de 43 conquistas, sendo 21 ouros, 14 pratas e 8 bronzes, rendendo ao nosso país a sétima colocação no quadro de medalhas. E os feitos incríveis desses atletas não param por aí.

Ádria Santos

Essa velocista encerrou sua participação nos jogos paralímpicos de Pequim, em 2008, mas ficou marcada como a maior medalhista feminina entre as brasileiras, tendo sido campeã por 4 vezes.

Daniel Dias

Mineiro e recordista mundial de natação, ele trouxe pra casa 9 medalhas nos jogos paralímpicos de Pequim, superando a marca de Clodoaldo Silva. No ano seguinte, recebeu um oscar do esporte, o Troféu Laureus, de melhor atleta paralímpico de 2008. 

Leia também  PapodeHomem de casa nova

Miracema Ferraz

Mesmo tendo participado de apenas uma edição dos jogos, Miracema fez história ao reunir, pela primeira vez, 6 medalhas em uma edição.

Ela venceu uma prova na modalidade arremesso e conquistou a prata nas disputas de 100m, 200m, 400m e 800m em cadeira de rodas e slalom.

Alan Fonteles

Em Londres, Alan superou o melhor velocista do mundo até então, Oscar Pistorius, na prova dos 200m rasos.

Ele vem se mantendo como o principal da categoria desde 2012.

Lucas Prado

O cego mais rápido do mundo em 2008 era brasileiro! O Lucas conseguiu esse título durante a competição em Pequim, depois de conquistar três medalhas de ouro seguidas nos 100m, 200m e 400m.

Shirlene Coelho

E a Shirlene, conhece? Ela tem paralisia cerebral e quebrou um recorde mundial na modalidade lançamento de dardo nas paralimpíadas de Londres, em 2012.

* * *

A história de cada um desses competidores paralímpicos (e de tantos outros) é de uma singularidade enorme e, sem dúvida, traz uma carga muito grande de superação. Mas é importante lembrar  o quanto as conquistas deles e delas são motivo de orgulho pro país. Enxergar esses atletas como grandes representantes do esporte brasileiro, assim como acontece com figurinhas carimbadas como Daiane dos Santos, Neymar ou Marta, é urgente. Eles treinam e trabalham duro para chegarem onde estão, além de darem um show no quesito medalhas. 

As oportunidades pra ver tudo isso de perto já estão chegando. Os jogos começam dia 7 de setembro e são 23 modalidades ao todo.

Mas e a crise, hein? Sem essa. Os preços, diferentemente do que aconteceu com as olimpíadas, estão bastante acessíveis. Os ingressos mais baratos podem ser encontrados por 10 reais e as vendas já estão sendo feitas nas bilheterias oficiais e pela internet. As razões pra deixar de lado o time dos que vão perder os jogos são muitas, e nessa falta de interesse sem conhecimento quem sai perdendo somos nós.

Carol Rocha

Leonina não praticante. Produziu a série <a> Nossa História Invisível</a>