Mayara Petruso mandou um recado para todos nós por meio de seu Twitter. Um recado que muitos tomaram como ofensa e afronta, mas poucos realmente entenderam seu significado. Afinal, as limitações dos 140 caracteres impedem que o real conteúdo seja digerido pela sociedade global sedenta por opiniões anônimas e gratuitas.

Antes de tudo, vamos conhecer as mensagens da paulistana com nome indígena. É, isso mesmo. O nome da nossa mensageira ariana tem origem na língua dos primeiros habitantes dessa Terra de Vera Cruz. Mayara quer dizer “a sábia”. Pois bem. Sua mãe não poderia ter lhe dado melhor nome. Mas voltemos às mensagens:

Do alto de seu quatrocentenário, clama ao rebanho a agir| Crédito: Blog Dois Espressos
Intelectualizada, mostra estilo e conhecimento técnico| Crédito: Blog Dois Espressos

Em primeira mão, notemos que as mensagens são de um português catedrático. Concordâncias intrincadas e léxico vasto. Realmente, Mayara Petruso carrega na linguagem e no sobrenome, marcas indeléveis de pertencimento a uma casta privilegiada. Nesse sentido, cabe aqui um grifo nosso, salientando a lusofonia hábil de nossa mensageira:

“…e afundem o pais de quem trabalhava pra sustentar os vagabundos que fazem filho pra ganhar bolsa 171.”

Atordoante.

No entanto, o estilo de Petruso não é o que mais atém os olhos estupefatos do leitor. Sua acuracidade técnica é um desbunde. Estudante de Direito, mostra amplo domínio sobre as leis de nossa pátria. Com uma perspicácia ímpar, seu comentário acerca do processo eleitoral é fulminante. “Deem direito de votos pros nordestinos” é um comentário irônico e honesto que desconstrói elegantemente o seguinte artigo de nossa Constituição:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III – iniciativa popular.

A desconstrução não para por aí.

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Nas mensagens, Mayara também mostra seu lado humano. Aquele lado existencialista, fantástico e caótico que torna a natureza humana frágil e fascinante. Sendo uma cidadã do mundo, a nossa mensageira adverte os brasileiros, com um tom de mágoa maternal:

“Brasileiros, fodam-se agora!”

E lamenta a inocorrência de uma saída mais nobre. Uma solução que somente os corações dispostos a se sacrificar teriam a ousadia de cogitar. No entanto, os brasileiros, em sua pequeneza, se acovardaram:

“Agora passem fome, friu… é impressionante, quando precisamos da violência não a temos, pq ninguém pensou em matar o dragão?”

Assim como as ideias de Kant, Hegel e Marx, a mensagem de Mayara Petruso necessita de páginas e mais páginas de comentários. Grupos de estudos devem ser formados para refletir sobre a grandeza e profundidade de sua postura. E por que não, de suas propostas.

Infelizmente, o Brasil é um país atrasado. Mentes brilhantes como a de Mayara são gemas raras. Estão escondidas nos rincões da internet, nas trevas dos clubes noturnos, nos bancos egrégios de nossas universidades. São peças de difícil acesso. Complexas e fugidias, como um simples ligar de computador.

Flaco Marques

Rapaz do interior de SP que vive suas desventuras na cidade grande. Poliglota valente, busca equilibrar o jeito cosmopolita de ser com a simplicidade caipira de viver.