Geralmente sou um cara pacífico, tranquilo e tomador de cerveja, mas às vezes as pessoas fazem de tudo para a porção psicopata de mim assumir controle da situação. Deixem-me explicar a última ocasião.
Na semana passada aconteceu algo raro no futebol mundial, dois clássicos regionais em menos de cinco dias. Na quarta-feira o Grêmio decidiu (e perdeu, sem comentários) o título da Libertadores da América como Boca Juniors e no domingo enfrentou o Inter no Beira-Rio (sem resultado no momento de fechamento deste texto).
Epa, “mas onde estão os dois grenais?”. Pois é, a festa e a empolgação dos colorados foi tamanha na quarta à noite que parecia noite de Grenal. Como se um raio tivesse caído duas vezes no mesmo aterro do Guaíba. Não foi o caso, felizmente, ainda que a festa tenha parecido exatamente isso.
Aí é que tá, os gremistas já estavam contando que o time ia reverter os 3×0 desastrosos da Bombonera. Diziam que o imortal tricolor é capaz de tudo, que “eu acredito em papai noel e fada madrinha”, “que Nova Schin é cerveja”, ou seja, um monte de bobagem.
Enfim, tavam lá no estádio uns 50 mil gremistas e uma criança enquanto eu assistia em casa o drama esportivo. PQP, 2×0 pro Boca em casa foi foda.
Tão foda que ninguém veio me encher o saco na quinta-feira. Preciso dizer que isso é coisa rara aqui no extremo sul, onde o espaço da torcida visitante é sempre bem ocupado pelo rival, seja chapolináceo ou imortal.
Aí, eis que, enquanto eu ia dirigia para o trabalho vi uma mulherzinha vestindo uma camisa do inter e carregando uma bandeira do Boca na calçada.
“Vou atropelar”, pensei logo.
80 metros, 70 metros.
“vou tirar só um fino e passar buzinando”
60 metros, 50 metros
“só vou passar buzinando”
40 metros, 30 metros
“ah, foda-se, vão achar que eu também sou chapolim”
Passei ao lado humilhado. Droga. Ano que vem tem mais, espero.
Daniel Bender é gremista, escreve na Papo de Homem e também é dono do excelente Bender Blog.
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