Um comentarista deixou estas pérolas no post sobre vegetarianos:

Queira ou não, a thaty (outra comentarista) disse uma verdade que pode doer à alguns: um dia ninguém mais vai comer carne e vão lembrar de antigamente e rir “hahaha antigamente comiam carne”.

Antigamente… antigamente os canibais comiam gente, antigamente sacrificavam animais em nome de deus, antigamente não sabiam que fumar faz mal à saúde, antigamente escravizavam negros.

Bem, uma das coisas que mais me enerva neste papo de não comer carne é a postura arrogante da patota da alface. Muitos se consideram superiores ou evoluídos por não consumirem mais proteína animal.

Mas, peraí, superior em quê afinal?

Comer carne é o auge da evolução natural. Comer toneladas de carne por ano é uma prova de que a espécie humana escalou adequadamente a pirâmide alimentar e, ainda mais, subverteu-a a seu favor. Se não comêssemos bois eles não existiriam.

Isso é válido tanto para os muares, galináceos e praticamente todas as espécies de animais, vegetais e peixes que consumimos em quantidades industriais.

Vamos recapitular. Há uns 10 mil anos, lá no oriente-médio, terra natal de dois dos cereais mais importantes em nossa dieta (trigo e cevada), existia uma espécie de mamífero quadrúpede ungulado chamada Auroque. Esta espécie era endêmica de toda a Eurásia, então aparecia desde Portugal até a Coréia. Não era exatamente um boi, mas era um ancestral muito maior, mais forte, mais agressivo e selvagem.

auroque
Taí o Auroque, um chifrudo que não levava desaforo pra casa

Esta espécie, o auroque, é para os bois o que os lobos são para os cães. A variedade selvagem nunca domesticada pelo homem.

Voltando ao oriente médio, naquela época alguns agricultores decidiram tentar fazer com que os auroques se reproduzissem em cativeiro. Quando conseguiram essa façanha complicada, passaram a selecionar os mais dóceis e produtivos das ninhadas para melhorar a qualidade do gado. A isto se dá o nome de eugenia.

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Pois bem, a carne de boi que comemos hoje é fruto de milhares de anos de seleção criteriosa por parte dos criadores.

“Mas Bender, entre ser um boi e um auroque eu prefiro ser a variedade selvagem!”

Opa, não prefere não. Os auroques estão extintos desde o século XVII. Ou seja, os indivíduos que se adaptaram ao novo ambiente dominado por humanos sobreviveram e conseguiram multiplicar em muito sua população.

Como se sabe, e os concursos de misses atestam, o objetivo de qualquer animal é reproduzir-se. Esta máxima vale para qualquer indivíduo de qualquer espécie.

“Mas Bender, o que isso tem a ver com os vegetarianos?”

Bem, os vegetarianos dizem que devemos ter pena dos animais e não comê-los. Mas não comê-los significa também não criá-los ou, antes ainda, não domesticá-los e mantê-los vivos em suas variedades selvagens.

darwin
Hmmm, adoro comer boi morto assado!
crédito

No caso de grandes mamíferos, o homem moderno tem sido razoavelmente eficiente em evitar a extinção em massa. Os elefantes, os tigres e as antas estão aí para provar isso.

Isso não se aplica, claro, a espécies agressivas e não-domesticáveis como o auroque ou a extinta megafauna australiana ou americana.

O que os vegetarianos romanticamente não entendem é que existem apenas duas formas de viver: a da caça e a da presa.

Eles romanticamente acreditam na utopia de um mundo em que megacidades ecológicas coexistam com espécies selvagens, algumas muito agressivas como era o auroque. Na prática, a evolução da civilização pegou todo mundo. Assim como os auroques que não se adaptaram foram extintos, os seres humanos mais anti-sociais também foram excluídos da sociedade.

Hoje, comandando o Bos taurus (ou boi atual) só há espaço para o homo socialis.

Daniel Bender

Jornalista, Diretor de E-commerce e Caçador de Descontos no <a>1001 Cupom de Descontos</a>. Sempre disponível para conversar no boteco. "