O cheiro dos sutiãs queimados no fim da década de 1960 parece não ter chegado à Malásia. Desde o começo deste mês, o país no sudeste asiático conta com o Clube das Mulheres Obedientes.

Trata-se de um grupo que reúne – por enquanto – mais de 800 esposas muçulmanas que se propõem a servir, entreter e obedecer seus maridos de maneira cega, sem objeção alguma. Rohayah Mohamad, uma das fundadoras, aponta que o cerne da questão é o sexo, “um tabu na sociedade asiática. Ignoramos isso em nosso casamento, mas tudo está ligado ao sexo. Qual o problema de ser uma puta para seu próprio marido?”.

O único tipo de obediência apreciada no PdH é este.

A criação do grupo é uma resposta popular ante o número de abusos sexuais e divórcios. Para as esposas que integram o clube, o mau comportamento das mulheres casadas (como se negarem a fazer “sexo de recreação”) é o estopim para crises na relação, responsável por levar os maridos ao alcoolismo, ao uso de drogas, à prostituição, à violência doméstica e ao divórcio, uma das grandes preocupações do governo local. Dos 28 milhões de malaios, 60% são muçulmanos e este universo é responsável por 82% dos divórcios. Estatísticas oficiais mostram que um casal se separa a cada 15 minutos.

Apesar de hipoteticamente conter essa epidemia de desamor, o governo não vê com bons olhos a iniciativa do clube e sugere que as mulheres devem se informar e manter suas posturas. “Até hoje, infelizmente, ainda há muçulmanas que são ignorantes em relação aos seus direitos ou inibidas culturalmente a exercitar seus direitos plenamente”, diz a ministra de política familiar da Malásia, Shahrizat Abdul Jalil.

Aparentemente, as mulheres que fazem parte do clube tomam para si o peso dessas estatísticas. Elas assinam sozinhas a culpa pelo fracasso no casamento. Assim, cometem o gravíssimo erro de abrir mão de sua dignidade. Abdicam de seus reais desejos em prol de uma felicidade forjada e levantam uma questão: até onde ir para salvar um relacionamento?

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.