O mundo está girando mais depressa. Parece que o homem, anestesiado por uma década de maravilhamento tecnológico, resolveu retomar o leme de sua História e de sua sociedade. Ao redor do mundo, pululam mobilizações que, antes de tudo, questionam os rumos materiais que a humanidade vem tomando.

A boa e velha mídia: no dia seguinte da polícia de Oakland dispersar manifestantes com extrema violência, o Wall Street Journal publica foto de policial de Oakland acariciando um gatinho.
A boa e velha mídia: no dia seguinte da polícia de Oakland dispersar manifestantes com extrema violência, o Wall Street Journal publica foto de policial de Oakland acariciando um gatinho.

Na Europa, a população decidiu não mais sustentar o descalabro dos poderosos. Decidiram que não vão negociar seus direitos em nome de um orçamento equilibrado. Os gregos queimam impostos em praça pública. Os espanhóis criam meios alternativos de trocar alimentos e serviços.

Nos Estados Unidos, desempregados ocupam o coração financeiro do mundo. Vão buscar a parte que lhes cabe da especulação rentista de Wall Street. Afogado por financiamentos e sem amparo de um Estado igualmente endividado, o americano médio perdeu acesso à educação e à saúde e, hoje, se equipara ao latino pobre da década de 1980.

Os brados não param nas ruas. Acadêmicos e formadores de opinião se debruçam sobre o que fazer nesse novo tabuleiro. Invocam celebridades do século passado para equacionar os problemas: tamanho do Estado, liberalização econômica, políticas de educação. Só que as variáveis das ocupações populares atuais já não são mais as mesmas, tornando o desafio ainda mais intrigante.

A grande surpresa dos movimentos de hoje é a sua baixa politização. Por mais que foices e martelos estampem as bandeiras nas ruas, não há uma reinvindicação claramente socialista na Europa. Nas marchas brasileiras contra a corrupção também não há um viés libertário ou anárquico.

O homem desse mundo novo foi acostumado a confortos materiais que não quer perder. No entanto, ao perceber que ainda depende da vida em sociedade, decidiu inconscientemente evitar as mazelas ideológicas que dizimaram o mundo no século passado. Assim, as ideias, mais que as ideologias, são o motor da transformação que está por vir.

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Como não poderia deixar de ser, alguém fez um tumblr com as mulheres mais lindas do Occupy Wall Street.

O tom pluralista deve prevalecer. O mundo não suporta mais polarizações. Sabemos que entre trabalho e família é possível de se escolher os dois. Que entre coletividade e individualismo é possível a coexistência pacífica. Embora o humano seja uma partícula muito mais inquieta que um elétron, se conseguimos condensar bibliotecas inteiras em um chip, conseguiremos resolver esses novos dilemas. Como humanos.

Flaco Marques

Rapaz do interior de SP que vive suas desventuras na cidade grande. Poliglota valente, busca equilibrar o jeito cosmopolita de ser com a simplicidade caipira de viver.