Em pouco mais de dois meses vivendo, viajando e trabalhando pela Tailândia, descobri que, hoje, nomadismo digital não é pra mim. Trabalhar e viajar pode parecer um sonho. Mas, depois que vivi isso, considero que é o estilo de vida que não desejo. Prefiro trabalhar ou viajar, separadamente. Ou integrar plenamente, como nos dez dias que passei plantando e aprendendo na fazenda Pun Pun. Prefiro ter, ao longo da vida, autonomia e liberdade para viajar e trabalhar com qualidade.
A experiência à distância não supre minha necessidade de conexão com outras pessoas. O trabalho presencial é muito mais inspirador pra mim. Offline e online se complementam, é verdade. Mas quando a entrega de valor é feita, exclusivamente, via internet, a relação presencial, real, física, se perde. A conexão virtual não satisfaz minha necessidade de conexão presencial.
Trabalhar à distância pôs em evidência o que é trabalho e o que não é, na minha vida. Viajar, passear, descobrir o mundo não é trabalho. Passar horas na frente do computador é. Ao viajar trabalhando, esses limites ficam mais claros. E é mais difícil encontrar um equilíbrio. Poderia me gabar de trabalhar à beira-mar em uma praia deslumbrante na Tailândia. Mas a verdade é que, pra mim, a sensação que ficou é de que não foquei no trabalho, nem aproveitei bem o destino. Aprendi que prefiro trabalhar numa escrivaninha e ir pra praia sem computador.
Não me interessa uma busca desenfreada pelo lugar mais barato do mundo. Sim, queremos todos qualidade de vida gastando pouco. Mas, pra mim, a relação com o local onde vivo precisa ir além. Me sinto mais abraçado quando mergulho e respeito a cultura local, me relaciono com a comunidade, contribuo e faço parte dela. A maioria dos blogs, livros e depoimentos de nômades digitas passam longe disso. Não são todos, mas muitos estão apenas correndo atrás do destino em que possam extrair ao máximo – e não contribuir. É nomadismo, não há raízes.
Trabalho exige rotina. E viajar é sobre não ter rotina. São estilos de vida muito diferentes. Nem sempre a internet será de qualidade. Nem sempre a comida vai vir na hora da fome. Nem sempre o fuso horário vai bater com a melhor hora pra conversa com o cliente. Criar um negócio viajando é muito difícil, porque é necessário ter intensidade. Viajar quebra o tempo de dedicação. O nomadismo digital talvez funcione melhor para trabalhos mais previsíveis e negócios com mais corpo do que os meus.
Viajar é maravilhoso. Trabalhar também. E, pra mim, faz mais sentido aproveitar plenamente cada uma das atividades com tempo, qualidade, foco e dedicação.
Nota: Esse texto foi originalmente publicado no blog do autor.
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