Continuação do artigo com estratégias e dicas para elevar sua habilidade como motorista. Se perdeu, leia antes a primeira e a segunda parte. O texto abaixo é bastante detalhado e vai exigir sua concentração.
Agora que você já conhece alguns hábitos que podem auxiliá-lo a reduzir os riscos de envolvimento em um acidente, é hora de saber o que fazer em uma situação de colisão iminente.
Ao desviarmos de um obstáculo que surgiu inesperadamente a nossa frente, ou ao desempenharmos manobras em alta velocidade, podemos ter de retomar o controle de um automóvel desgovernado sem aderência com a pista. Aqui falaremos de algumas dicas para que você possa dominar a máquina ao invés de ser dominado por ela.
Retomando o Controle e Transferência de Peso
Para que você mantenha o controle absoluto do seu automóvel nas mais inesperadas situações é necessário que entenda um processo chamado transferência de peso.
Quando seu automóvel está trafegando com o máximo de aderência em uma via nivelada e em linha reta, a distribuição das massas do automóvel é quase uniforme em todos os pneus.
No instante em que o peso do automóvel é excessivamente aplicado à uma roda, o pneu começa a ser arrastado na superfície causando um comportamento indevido.
A imagem acima ilustra o peso aplicado a cada um dos pneus de um automóvel parado. Os pneus dianteiros recebem um peso maior porque o veículo em questão possui motor frontal.
A lei da inércia determina que corpos em repouso tendam a permanecer em repouso enquanto corpos em movimento tendam a permanecer em movimento. Logo, quando aceleramos um automóvel, embora o eixo tracionado seja propelido para frente, a carroceria tende a permanecer em repouso.
Por essa razão, em acelerações fortes a carroceria, que é presa ao eixo tracionado, é puxada violentamente, provocando a característica subida da dianteira do automóvel. Esse conhecido fenômeno das arrancadas transfere parte do peso da dianteira erguida para a traseira afundada, reduzindo o peso sobre os pneus dianteiros.
A falta de peso associada ao excesso de torque em uma arrancada forte faz com que as rodas girem em falso até que a distribuição de massa se normalize, permitindo que a tração possa ser recuperada. Essa é a razão das fritadas de pneus quando exageramos no pedal.
Analogamente, quando pressionamos o pedal do freio a frente do veículo tende a afundar no chão aumentando o peso sobre os pneus dianteiros. O excesso de peso aplicado aos pneus da frente provocam o arrasto que muitas vezes precedem uma colisão.
Quando exigimos demais da capacidade de frenagem do nosso automóvel, as pinças de freio pressionam os discos com muito vigor fazendo com que as rodas parem de girar, travando por completo. Em situações como essa, em que o automóvel segue deslocando-se de arrasto sem aderência nas rodas, é inútil tentarmos esterçar na tentativa de desviarmos de qualquer obstáculo.
A falta de aderência total nas rodas, que também pode ser identificada em aquaplanagens, só pode ser remediada com a recuperação de tração.
Portanto, imagine a típica situação em que freamos com força diante de um automóvel que reduz bruscamente a velocidade na nossa frente. Ela poderia ser melhor contornada com uma suave pressão no freio, seguida de uma tentativa de desvio de trajetória.
Em curvas, o peso de um automóvel se aplica sobre as rodas ainda mais desuniformemente.
Na ilustração acima pode-se notar que o pneu dianteiro esquerdo está extremamente sobrecarregado enquanto o pneu traseiro direito está sobre influência de pouquíssimo peso. Em curvas muito acentuadas o automóvel pode até mesmo erguer essa roda traseira direita do chão por falta de peso sobre ela.
A Curva no Limite
Na situação acima, os pneus esquerdos, que já estavam trabalhando no limite, começarão a perder aderência no momento em que qualquer força adicional for aplicada sobre eles. Logo, quando você está fazendo uma curva em velocidade demasiadamente elevada, ou quando você tentou desviar de um obstáculo de forma brusca, o peso sobre o pneu dianteiro externo à curva estará no limite da aderência.
Dessa forma, é imperativo que você não aumente o peso sobre esse pneu, seja esterçando o volante ainda mais em direção a curva, seja pressionando os freios. Caso você cometa esse erro, as rodas externas à curva perderão aderência e começarão a escorregar conduzindo o automóvel sob o comando da inércia.
O resultado será uma saída de frente para fora da curva. A famosa saída pela tangente.
Todavia, se você entrou em um curva com uma velocidade incompatível e se deparou com seu automóvel no limite da aderência dos pneus, o que fazer? Em se tratando da maioria dos automóveis brasileiros cuja força motriz está nas rodas dianteiras, é possível que essa seja um situação de inevitável colisão. Uma vez que seu automóvel tenha saído de frente, a ação mais prudente é reduzir a velocidade através da redução na caixa de marchas, também conhecida como freio motor.
Entretanto, reduzir a marcha em uma situação instável como essa pode ser perigoso. Quando pisamos na embreagem e desengatamos o câmbio, o automóvel fica solto aliviando o peso sobre as rodas dianteiras podendo comprometer ainda mais o quadro de perigo. Portanto, a redução deve ser rápida e precisa de modo a reduzir ao máximo a transferência de peso no momento em que o carro estiver desengatado.
Contudo, o mais prudente é que você não se coloque em situações que requeiram ações de retomada de controle como as mencionadas acima. Para isso, é importante que você jamais entre em uma curva com velocidade superior à que seu conjunto mecânico suporta.
Para alguns automóveis, o próprio limite de velocidade em determinadas estradas é significativamente alto e suficiente para provocar uma saída de pista.
Portanto, quando estiver trafegando em vias que você não conhece com a palma de sua mão, não arrisque. Redobre os cuidados, dirija com muita prudência e atenção, mesmo que isso signifique buzinadas dos motoristas locais que desejam tentar a sorte.
A velocidade que emociona é a mesma que mata. Dirija com cautela pois um único erro que você venha cometer, pode acabar por se tornar o último.
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