A Copa do Mundo transformará os estádios brasileiros. Neles o torcedor terá todo o conforto, segurança e outros itens exigidos pela FIFA em todo o mundo. Quem já foi a um estádio desses sabe que são bem diferentes dos nossos.

Teremos enfim aqueles estádios estilo europeu que uns tanto admiram. Torcedor próximo ao campo, sem grades ou muros, ali pertinho do banco de reserva com os profissionais do campo ouvindo direitinho todos os nossos xingamentos.

Mas, afinal, é isso que querem os torcedores brasileiros?

Em busca de um conforto e uma segurança, tratando cada vez mais o torcedor como um cliente VIP, o Brasil vai aos poucos transformando seus estádios. Arquibancadas de concreto vão perdendo espaço para as cadeiras numeradas. Câmeras de seguranças nos seguem a cada segundo desde a chegada até sua saída do estádio. Bandeiras e artefatos de torcida são cada vez mais proibidos. Bebidas são regradas. O conforto e a segurança teoricamente aumentam e o público cada vez mais diminui.

Maior público?

Dados da RSSSFBrasil mostram que as melhores médias de público de cada clube em campeonatos brasileiros são anteriores aos anos 90, época em que cabiam 5 pessoas em cada metro quadrado, podia beber cerveja e as bandeiras da torcida eram liberadas em todo o país. Para os mais jovens é difícil, para não dizer impossível, imaginar um clube levando durante todo o campeonato uma média de 60 mil torcedores, como Flamengo fez em 1980.

Quem vê essa foto jamais imagina que essa é a maior torcida do Brasil

Para ser mais exato hoje é difícil imaginar qualquer jogo em estádios brasileiros com mais de 60 mil espectadores. Segundo o Cadastro Nacional de Estádio da CBF, apenas oito estádios em todo o Brasil são capazes de receber mais de 50 mil pessoas, destes cinco superam a marca de 60 mil: Maracanã, Arruda, Mineirão, Castelão (MA) e Morumbi. Isso no papel, pois todos sabemos que em qualquer jogo a capacidade é sempre diminuída por questões de segurança.

Conforto?

O conforto tão desejado por aqueles que frequentam estádios não está somente na cadeira. Na realidade há milhares espalhados pelo Brasil que são contra e pregam que as arquibancadas de concreto são melhores para torcer.

O conforto começa antes, com um transporte de qualidade com rapidez e agilidade para levar os torcedores até o estádio. Não posso falar que o Morumbi é um excelente estádio se para estacionar perto tenho que desembolsar mais de 20 reais para um guardador de vaga que está sempre por lá. O negócio é tão rentável que cada um tem seu espaço e ali ganha a vida, apenas para guardar vaga e vigiar carros. A regra é simples: só tem vaga e segurança para quem paga.

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Também faz parte do pacote conforto a compra segura e tranquila de um ingresso, fugindo das enormes filas e das mãos de cambistas. A última vez que fui ao Maracanã, que já havia passado por algumas reformas até receber o Pan-americano, fui obrigado a ficar mais de duas horas ao Sol esperando minha vez.

Segurança?

Eis aqui a parte mais complicada de toda santa partida de futebol. É muito fácil falar em segurança, colocar 500 mil policiais na rua, traçar rotas e esquemas, câmeras para flagrantes e tudo mais. Mas na prática é complicado.

Quanto mais a polícia se defende, mais os marginais dão um jeito de fazer arruaça. Seja aqui ou em qualquer outro lugar do mundo, haverá torcedores dispostos a brigar. E nada vai impedi-los. Se não for no estádio, será longe dele, mas com a mesma causa: torcida de futebol.

Não é paixão pelo time. É simpatia pura e exclusiva pela torcida. E assim vão fazendo alianças com umas, arrumando rixas com outras e por diversas vezes torcidas de um mesmo time são capazes de brigar entre si pelo simples fato de não se entenderem.

De resto o quesito segurança é a mesma segurança pública que toda cidade precisa.

O jeito brasileiro de torcer não pode ser ignorado

Nossos torcedores não são europeus

O brasileiro tem seu jeito de torcer e cada clube tem seu tipo de torcedor. Isso deve ser levado em consideração na hora de construir e reformar os estádios e arenas. Não é possível pensar num estádio padrão FIFA para agüentar a famosa avalanche gremista. Não é possível imaginar que todos ficarão sentados em seus locais marcados no meio da Gaviões. Quase todos os clubes possuem uma parte da torcida que não se encaixa nos padrões FIFA de qualidade.

O conforto sugerido pelos pensadores do futebol e das leis não pode ignorar os costumes e hábitos de cada região. Enquanto o Estádio Olímpico João Havelange com todo seu conforto e segurança faz jus ao apelido de Vazião, com seu mosaico azul como bem sugeriu Bruno Nigro após ver o estádio tomado graças ao R10, as boas e velhas arquibancadas do Castelão lotam em jogos do Campeonato Cearense.

O jeito brasileiro não cabe num estádio padrão FIFA. Para nós, o melhor estádio ainda é aquele com espaço para ambos com cadeiras e arquibancadas.

Link YouTube | Avalanche gremista

Tadeu Rover

Jornalista diplomado e editor do <a>OsGeraldinos.com.br</a>. Esteve na Copa do Mundo da Alemanha