Diante de uma situação de violência é comum que tenhamos dificuldade em decidir qual seria a melhor forma de intervir ou ajudar a pessoa a sair daquela situação. A seguir, você poderá conferir um miniguia que orienta alguns passos importantes nesse processo.

Caso queira, acesse o livro completo nesse link.

Eu sei ou desconfio que uma menina está passando por uma violência grave. O que devo fazer?

​1 – A violência está acontecendo neste momento?

Caso sim, chame a polícia. Diante de uma situação de urgência ou emergência, em que a violência está acontecendo e não é possível saber qual
é o risco e a gravidade, devemos tentar interromper aquilo que está acontecendo.

2. Você desconfia que uma menina possa estar em situação de violência, mas isso não está acontecendo neste momento?

O adulto deve se responsabilizar pela proteção dessa menina e intervir sempre pensando no menor prejuízo para ela. Essa intervenção pode envolver uma denúncia aos órgãos de proteção – como Conselho Tutelar ou pelo Disque100 – ou uma conversa com os pais ou pessoas cuidadoras, se essas pessoas se mostrarem abertas a isso. A decisão pela melhor forma de agir nesse contexto deve considerar a condição atual da menina, sua relação com a pessoa autora da agressão e os riscos percebidos no momento.

3. Você tem alguma proximidade para conversar com essa menina?

Se você for parente, alguém do convívio, uma pessoa envolvida na educação dessa menina ou que tenha intimidade para conversar com ela, você pode chamá-la para uma conversa. E, sem fazer perguntas invasivas, diga que ela pode te procurar se precisar de algo. Segue uma sugestão para começar a conversa:

— Tenho notado você diferente ultimamente. Está tudo bem?
— Tá sim. Normal…
— Então tá bom, mas saiba que se você precisar de ajuda ou simplesmente quiser conversar sobre qualquer coisa, eu estou aqui para te ouvir e te ajudar no que for preciso.

Deixe espaço para ela conversar quando estiver pronta!

4. Você não tem tanta proximidade com ela?

Um primeiro passo pode ser avisar algum responsável pela menina sobre as suas percepções.

5. E se a pessoa que tem causado a violência for um dos responsáveis por essa menina?

Por mais difícil que seja essa realidade, a pessoa autora da agressão pode ser o pai, padrasto, avós, pessoas que são os principais responsáveis pelo cuidado dessa menina. Nesse caso, cabe mais uma pergunta: Existe alguma outra pessoa responsável? Se existir, ela sabe o que está acontecendo? Se houver outra pessoa responsável, você pode tentar informá-la, levantar
um alerta e se propor a ajudar:

“Tenho percebido algumas mudanças de comportamento da fulana ultimamente. Ela tem crises de choro e fala que não pode contar o que está acontecendo para ninguém. Além disso, ela solta uns comentários de que tem medo do avô. Você tem notado isso também? Tá acontecendo alguma coisa em casa? Eu estou preocupado com a situação e disposto a ajudar da melhor forma que eu puder”.

6. E se o responsável não fizer alguma coisa?

Infelizmente a violência intrafamiliar tende a ser mantida sob sigilo por vários motivos. Alguns deles: negação dos familiares em relação ao que aconteceu, a tentativa de preservar a estrutura da família, a tendência em
relativizar o que é dito pela criança, a naturalização de formas de violências
no contexto doméstico, dentre outras. Nesse caso, é possível:

Acionar o Conselho Tutelar:
É dever da sociedade cuidar dessa menina e não podemos nos omitir. Nesse caso, é importante acionar o Conselho Tutelar da sua cidade para que essa menina possa ter a atenção e o cuidado especializado.

7. Como acionar o Conselho Tutelar?

Pelo fato de cada cidade ter o seu Conselho Tutelar, é preciso que você busque o da sua região. Se você não tem o número de denúncia ou não sabe onde ele fica, procure ou entre em contato com a Secretaria de Educação ou de Assistência Social da prefeitura do seu município. A sua denúncia pode ser realizada pessoalmente, por ligação, e-mail, de forma anônima ou até mesmo escrita à mão. É importante dar o máximo de informações e
detalhes possíveis do ocorrido ou da sua suspeita, ainda que não tenha total certeza. A função do Conselho Tutelar é justamente verificar.

A função do Conselho Tutelar é representar a sociedade na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, como o direito à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à liberdade, à cultura e à convivência familiar e comunitária. Ele é responsável por fiscalizar e intervir diretamente em situações em que esses direitos estão sendo violados. A sua atuação é municipal e ocorre em parceria com escolas, organizações sociais e serviços públicos.

8. Essa menina vai para um abrigo? A família vai perder a guarda?

Não necessariamente. O Conselho vai tentar entender a situação e, se necessário, irá recorrer à Justiça para garantir o bem-estar da criança ou do adolescente. Se for entendido que o melhor para ela é permanecer com a família, poderão ser tomadas providências para o afastamento do autor da violência, por exemplo. Caso se entenda que a família como um todo não tem
condições de proteger essa menina, pode ser que ela seja encaminhada para um espaço temporário de acolhimento para crianças e adolescentes em situação de risco.

Eu sei ou desconfio que uma mulher está passando por uma violência grave.

Devo chamar a polícia?

A violência está acontecendo neste momento?

Se SIM, chame a polícia.

Leia também  5 motivos para você assistir ao UFC 142 Rio: Aldo vs. Mendes

Diante de uma situação de urgência e emergência, em que a violência está acontecendo e não é possível saber qual é o risco e a gravidade, devemos tentar interrompê-la.

E se ela negar a agressão?

SITUAÇÃO:

“Denunciei uma situação de urgência que ouvi na casa vizinha e, quando a polícia chegou, a mulher disse que não estava acontecendo nada. Por que eu vou ajudar se a vítima não quer ajuda?”

ORIENTAÇÃO:

O fato dessa mulher negar a agressão não significa que esteja protegendo o
agressor. Ela pode estar protegendo a própria vida porque sabe que sair de casa daquela maneira pode trazer mais riscos. Denunciar uma situação de emergência pode ser determinante para garantir a integridade física e proteger a vida da mulher.

SITUAÇÃO:

“Minha denúncia não teve efeito nenhum?”

ORIENTAÇÃO:

Quando um agressor sabe que tem alguém prestando atenção na situação, isso pode fazê-lo pensar que tem alguém ouvindo e que a polícia pode aparecer a qualquer momento. Isso pode diminuir as chances de novas violências por um período. Além disso, demonstra para a mulher que as pessoas próximas estão percebendo que está acontecendo algo de errado, que ela tem com quem contar e que pode romper aquela relação.

E se a violência não estiver acontecendo neste momento, o que eu faço?

SITUAÇÃO:

Um vizinho escuta brigas frequentes e desconfia que o morador ao lado agride a companheira. Depois da última briga que ouviu, ele passou dias refletindo sobre o que deveria fazer e até que, num dia calmo, decidiu fazer uma denúncia à polícia sem falar com a moça.

Minutos depois, um policial bateu na porta da vizinha. Ele diz ao próprio suspeito de agressão ter recebido uma denúncia de violência. O homem
se mostra surpreso, diz que estava vendo filme, convida o oficial a checar.

Não há nada errado na casa e o agressor afirma ter sido trote. Assim que a viatura vai embora, o vizinho supõe que a jovem o denunciou e começa outra briga, com ameaças ainda mais graves: “Você se acha muito esperta, né? Agora eu quero ver o que você vai fazer! Porque se você ligar pra polícia de novo, eles nem vão perder o tempo deles voltando aqui”.

ORIENTAÇÃO:

Se você desconfia que aquela mulher tenha passado por violências, mas sabe que não está acontecendo neste momento, não chame a polícia imediatamente. O melhor é conversar com a pessoa e entender com ela como pode apoiá-la para que saia dessa situação por conta própria. A denúncia (feita por pessoas que não estejam envolvidas ou pela vítima) é um momento em que a tensão pode aumentar a vulnerabilidade dessa mulher. Quando ela mesma faz a denúncia, em alguma medida, essa mulher não será pega totalmente de surpresa pelas situações decorrentes disso. Em muitos casos, ela vai precisar criar alguma organização para lidar com a reação do autor de agressão ao saber da denúncia (como ir para um abrigo ou para a casa de outra pessoa).

Como saber a hora de tomar alguma atitude, se estou distante?

“Tenho medo de avisar alguém e ela ficar chateada comigo, achando que eu estou desrespeitando a privacidade dela e interferindo demais…”

Se a vida dessa mulher está em risco, é preciso acionar a rede de pessoas próximas a ela, ainda que ela se sinta mal com isso. Em situações de violência, nós precisamos fazer algo, sim, pois isso pode salvar uma vida. O que você pode fazer é garantir que só vai falar com as pessoas que realmente possam ajudar em situações de emergência sobre os temas que tenham a ver com a segurança dela.

Como posso oferecer ajuda se eu não tenho intimidade com a pessoa?

Se for uma conhecida ou vizinha, por exemplo:


Dê abertura para que ela procure seu apoio e saiba como entrar em contato.
Algumas sugestões de frases que você pode usar dependendo do contexto:
“Precisando, é só bater lá em casa”, “Eu sempre vou pra zona sul. Se precisar de carona, é só falar”, “Toda tarde eu tô aqui na pracinha com as crianças”.

Se for uma colega de trabalho, de escola ou alguém mais distante:

Mostre sua preocupação para outra pessoa, alguém próxima a
ela, ou para a área responsável. Assim, mais de uma pessoa estará atenta às mudanças e pensando em formas de ajudá-la.

Medidas simples podem fazer a diferença para que essa mulher se sinta cuidada.

Esse texto foi editado pela Equipe PDH a partir de entrevista e orientações de JESSICA PAULA DA SILVA MENDES – Mestre em Psicologia, psicóloga da Defensoria Pública do Estado do Paraná e atuante na sede da Casa da Mulher Brasileira

Lançamento do nosso novo livro: “Como conversar com homens sobre violência contra meninas e mulheres” em 2024

Em breve, lançaremos o nosso novo livro-ferramenta: “Como conversar com homens sobre violência contra meninas e mulheres” que tem como objetivo apoiar as pessoas que atuam com equidade de gênero, fornecendo informações de qualidade e estratégias de atuação.

Partindo de uma linguagem simples, com dados concretos, guias práticos e falas de diversos especialistas, o livro tem a proposta de aproximar os homens como aliados pelo fim da violência contra meninas e mulheres, promovendo responsabilização e mudanças reais.


publicado em 06 de Dezembro de 2023, 18:29

Gabriella Feola

Editora do Papo de Homem e autora do livro <a href="https://www.amazon.com.br/Amulherar-se-repert%C3%B3rio-constru%C3%A7%C3%A3o-sexualidade-feminina-ebook/dp/B07GBSNST1">Amulherar-se" </a>. Atualmente também sou mestranda da ECA USP