Se você não estava por perto para ver o grande boom do punk pop no início dos anos 2000, deixa eu te contar uma coisa: era glorioso.
Moicano. Tatuagem de estrela. Munhequeiras. Uma razão para me rebelar da minha vida relativamente positiva e existência nem um pouco difícil. Tudo que um garoto branco da classe média alta como eu poderia sonhar!
E, também, vocais agudos sobre “leaving it all behind”.
Mas o mais importante, tocar em bandas medíocres de punk rock — e naquela de metal chamada Lifeblood (risos) e na aspirante a Incubus ou a 311 (mais risos) — me ensinou o básico sobre a vida adulta.
Então coloque sua jaqueta jeans cheia de tachas, ponha para tocar um Saves The Day e vamos começar.
1. Isso não é como planejamos
A maior parte da vida não acontece como você quer. Quando eu tinha 16 e comecei a fazer shows com minhas bandas pelo meio-oeste, você dirigiria três horas até Des Moines esperando um show esgotado numa casa noturna com o melhor sistema de som possível.
Na verdade, se tiver sorte você vai tocar num clube encardido, perto de um Chili’s de segunda classe picareta, com um sistema de som atualizado pela última vez em 1982. A sua, possivelmente, seria uma de cinco bandas. E a público consistiria, em sua maioria, nos membros das outras bandas.
É assim que é a vida adulta: pior do que o esperado. E está tudo bem. Não conseguir o que você planejava te ensina a ser mais autossuficiente, a deixar rolar as coisas e ainda procurar se divertir.
2. Compartilhar é cuidar
Já que a escalação da maioria dos shows de US$5 tem entre sete e dezenove bandas, vocês nem sempre tem tempo de carregar o equipamento novo de todo mundo e fazer um teste de som.
Então, apesar de viajar centenas de quilômetros com amplificadores caros e peças de bateria, agora vocês estão (muito provavelmente) usando os equipamentos da última banda. Vocês só conectariam suas guitarras. Às vezes o equipamento deles era pior que o de vocês. Às vezes melhor. Seja o que for, vocês improvisavam e lidavam com isso.
Também significava que você precisava ser respeitoso com o equipamento dos outros. Você não poderia dar um kickflip em cima do amplificador Marshall de alguém porque, bem, não era seu.
A maior parte da maioridade é gasta “dividindo equipamento” com o resto do mundo. Dividimos estradas. Dividimos espaços públicos. Nós dividimos em nossa sociedade. Ser respeitoso com o espaço e coisas compartilhadas é o que nos mantêm seguindo em frente.
3. Não estamos nessa por dinheiro
Ser pago é sempre irado, mas ninguém se envolve com punk rock achando que vai ganhar um monte de dinheiro. No começo dos anos 2000, quando a gasolina às vezes era menos de um dólar o galão, se te pagavam 20 dólares era mais que suficiente para cobrir as despesas de viagem, além do fast food que comíamos ou a cerveja que bebíamos ilegalmente. (Desculpa, mãe.)
Nós fazíamos esses shows por 20 dólares porque queríamos fazer música e dividi-la com pessoas aleatórias. Queríamos criar uma conexão com outra pessoa que também gostasse dessa peculiar forma de arte. Queríamos melhorar como artistas, para que algum dia pudéssemos exigir dinheiro pelo nosso tempo e arte.
Minha banda nunca chegou ao ponto de ser bem paga, mas ela me ensinou o valor de fazer as coisas de graça para que você fique bom o suficiente para um dia cobrar dinheiro. Usei isso regularmente na vida adulta, sabendo que o meu tempo é precioso agora porque passei muito tempo desenvolvendo meus talentos.
Eu ainda faço algumas coisas de graça, para me aprimorar. Mas eu sei que estou me tornando mais competente e que, um dia, minhas habilidades serão valorizadas e eu espero ser pago se alguém quiser usá-las.
4. Você tem que se dar bem com pessoas
Uma banda é composta por pessoas com diferentes personalidades. Na minha banda principal, os Varsity Dropouts, nós todos viemos da mesma cidadezinha em Nebraska, com passados parecidos. Mas tínhamos ideologias pessoais distintas. Gostávamos de músicas diferentes. Tínhamos temperamentos diferentes. Alguns de nós (eu) eram grandes babacas controladores de tudo.
No verão de 2004, estava em turnê com essa banda maravilhosa de Sioux Falls, sendo basicamente o roadie por duas semanas depois de eu ter ajudado a agendar a turnê, alguns meses antes de eu começar a faculdade. Eram seis caras com menos de 20 anos presos numa van. Personalidades se chocaram, especialmente quando se tratava de escolher a música ou quem iria dirigir.
Quando você está confinado num espaço por duas semanas com pessoas, cara, vocês realmente começam a se odiar. Principalmente se vocês são novos demais para saber como lidar de maneira apropriada com suas diferenças. Agora que sou mais velho, sei que a maioria dos problemas se originaram da nossa (minha) imaturidade em lidar com essas situações.
Mas a maior parte da vida adulta é só sobre se dar bem com outras pessoas, mesmo quando você está bravo com elas. É tudo sobre dar um passo para trás, perceber que provavelmente você é parcialmente culpado pela maioria das coisas, e depois descobrir como consertá-las, inclusive sua atitude.
5. A maioria das coisas fracassa
Minha banda punk rock do ensino médio eventualmente se separou. Eu era um ano mais velho e logo estaria partindo para a faculdade. Ah, e alguns dos outros membros achavam que eu era um filho da mãe muito controlador (eles estavam certos). Eles não queriam mais fazer parte de uma banda comigo, então fizemos nosso último show a doze anos atrás e foi isso.
Bandas fracassam, como a maioria das coisas que você tenta na vida. A maioria das suas amizades irá fracassar. A maioria dos seus relacionamentos românticos irá fracassar. Você vai deixar empregos, parar de ver seus programas favoritos, se desapaixonar por diretores de cinema. E Isso é completamente normal.
Uma boa parte da maioridade é sobre seguir em frente, e se dar conta do que você gosta e do que você não gosta. Mas todas essas mudanças geralmente são positivas, porque elas te levam a crescer como pessoa. Você se torna mais talentoso, conhece novas pessoas, cria novos vínculos. Tudo se encaminha para o melhor.
6. Obrigado pelas memórias
Eu não penso sobre fazer parte de uma banda faz um tempo. Naquela época em que viajei com a banda por duas semanas – puta merda – tocamos em um boliche numa cidadezinha um Dakota do Sul para cerca de cem pessoas.
Tocamos em um bar estranho em Minneapolis para quinze, e eles nos forçaram a fazer tudo acusticamente (risos).
Tivemos que nos esconder em um posto de gasolina na interestadual em sei lá onde porque tornados estavam se formando ao nosso redor e estávamos com medo de morrer.
Numa noite, não tínhamos nenhum lugar para dormir, então convencemos nossa garçonete do Perkin’s a nos deixar dormir no chão da casa dos pais dela, perto de Council Bluffs, Iowa, depois de nos forçar a dirigir por uma floresta tenebrosa. Pela manhã, os pais dela nos deixaram dirigir seus quadriciclos e fizeram café da manhã.
Nos esgueiramos no Warped Tour em Kansas City fingindo ser roadies e ganhamos passes para os bastidores, algo que eu aprendi literalmente em um antigo episódio de “Doug”, da Nickelodeon, – eu arrumei meu cabelo no espelho do banheiro junto com o Simple Plan.
Minha vida é melhor por causa dessas memórias aleatórias. Eu fico feliz em ter vivenciado todos esses momentos estranhos porque acho que crescer é sobre isso, coletar essas experiências incríveis e saber que elas não vão embora. Eu sempre serei capaz de olhar para trás e pensar: “Uau, eu fiz isso. Que divertido”.
Hell yeah.
***
Nota da tradução: esse texto foi originalmente publicado em inglês no Medium do autor e agora traduzido para o português pelo PapodeHomem.
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