Toda discussão em fóruns de internet e comentários de blogs segue o mesmo script:

1. começa com alguém criticando o texto original pela sua parcialidade e/ou pelas ligações do autor com CIA, maçonaria, bruxaria e alienígenas;

2. em seguida, o sujeito dá um escorregão para um festival de lugares-comuns.

Para evitar um altíssimo esforço sináptico da próxima vez em que alguém for tentar foder de verde e amarelo uma calorosa e saudável porradaria virtual, temos aqui um singelo e bem ilustrado manual de retórica chonga for dummies. Ele é a cartilha de um curso que pode se estender ad infinitum. As aulas devem ser estudadas lenta e pacientemente, por tópicos. O aluno é encorajado a usar o espaço para comentários logo abaixo como exercício para mandar qualquer vestígio de racionalidade para o caralho e provar que já aprendeu a lição. Apenas após tirar nota máxima em cada quesito tente praticar a próxima modalidade.

Este texto é parcial (De partitio loci)

“E quando ele disse que eu fui parcial, respondi: ‘Parcial de cu é rola, mermão!'” (Einstein, em conversa com Charles Chaplin)

Aí o Albert Einstein mostrou pra banca o seu opúsculo A Teoria Restrita da Relatividade, demonstrando que tempo e espaço não são medidas absolutas que independem do ponto de vista do observador. Seu orientador cofiou o bigode, deu a milenar limpadinha na garganta para iniciar um discurso intelectual e ralhou: “Sua teoria é perfeita, mas achei seu texto muito parcial. Por que você não analisou a questão com imparcialidade, sopesando os dois lados, e mostrando os argumentos do campo newtoniano, que curiosamente já conhecemos há quase meio milênio?”

Quando um sujeito afirma que seu texto é parcial, ele usa um vocábulo latino que diz:

“Seu texto fodeu com todas as minhas opiniões simplórias por meio de argumentos claros, racionais e irrefutáveis. Mas como isso me ofende e tenho nojinho de aceitar a verdade, vou reclamar de você não ter dado o braço a torcer para uma mentira por uma noção de civilidade canhestra que possuo, como se isso fosse alguma vantagem textual.”

Imparcialidade não existe. Já somos parciais assim que escolhemos do que falar. Uma poesia elogiando o perfume de uma tulipa é “imparcial”? Não, se você descobrir que foi escrita por um nazista em 1944 para dizer que a vida é linda, em vez de falar das câmaras de gás.

Não só não existe, como sua busca é nociva: você quer ser “imparcial” numa eleição? Basta votar em branco.

E por que só “reclamar” que um texto é imparcial quando você discorda dele e não tem contra-argumentos? Por acaso já disse alguma vez: “Esse texto é perfeito, encerra o assunto, não mudaria uma vírgula – mas é parcial”?

Também não adianta fazer um texto tentando ser “imparcial” só por comentar os dois lados de uma questão comentando duas visões sobre o tema. A verdade costuma ser muito mais ampla do que apenas dois lados. E um texto que faça isso para se dizer “imparcial” está tentando dizer que é “verdadeiro”: inevitavelmente o texto terá uma opinião, e seu autor apenas quer que você a aceite sem discussão.

Imparciais são as pedras. As plantas eu já tenho lá minhas dúvidas – um girassol é “imparcial”?

Seu texto é falacioso (Creosophismata)

Em primeiro lugar, falácia é teu cu, meu amigo. Desde que manuaizinhos de retórica pulularam com a orkutização da internet, virou moda entre as pessoas “racionais”, “críticas”, “que pensam com a própria cabeça” dizer que uma exposição de conceitos é falaciosa porque não se atentou a todos os detalhes demonstrados.

Germânia e outro time sem Libertadores, em 1914

Dizer que o céu é verde não é uma falácia. É uma mentira. Os dois conceitos não são intercambiáveis.

Uma falácia é um argumento com falha lógica. Exemplo:

Nenhum corintiano tem Libertadores.
João é brasileiro.
Logo, João não tem Libertadores.

Nitidamente, João pode ter o grande azar de ser brasileiro, mas também a grande sorte de não ser corinthiano. Há uma falha na conclusão aí, facilmente questionável (nego consequentiam). Mas você que adora falar que tal coisa é “falaciosa”, encontre a falácia aqui:

Todo homem é um avestruz.
João é um homem.
Logo, João é um avestruz.

Já encontrou? Pois pense bem, que é mais complicado do que parece. Qual é a falácia?

Ora, meu caro, nenhuma. O argumento está perfeitamente colocado. Se nem João nem homens são avestruzes, isso não quer dizer que o argumento é falacioso: falácia diz respeito apenas à lógica da argumentação – ou seja, se as duas premissas de um silogismo como esse exposto acima estão apresentadas sem falhas, de forma à consequência ser inescapável. Se as próprias premissas são verdadeiras ou não, ou se a conclusão é real, isso você vai verificar olhando as coisas na realidade – a lógica não tem como função provar a si própria.

Mas o que mais se vê na internet é o povo apontar alguma coisa como “falácia”, quando às vezes sequer um argumento (ou mesmo uma premissa) o é. Para mostrar como confundem “falácia” com “irreal” (ou com o que acham que é irreal ou mentiroso), segue um exemplo mais capcioso:

Todo homem é um animal.
Sócrates é um animal.
Logo, Sócrates é um homem.

Todo mundo sabe que Sócrates é um homem, até prova em contrário. Se você apresentar este argumento numa discussão na internet, as chances de que alguém diga que é falacioso são de 1 em 1.000.000. Tudo isso só porque a conclusão é verdadeira, sem atentarem para a falha lógica das premissas: Sócrates poderia ser o nome do meu hamster, do meu ornitorrinco ou do pernilongo que vem me estuprar toda noite.

Falso ad hominem (Falsus ad hominem)

Imagine alguém refutar todo o trabalho de Malcolm X na luta pelos direitos dos negros alegando que “ele é ex-presidiário, um criminoso”…

Uma modalidade curiosa deste último macete é quando você usa um adjetivo pouco elogioso a alguém e este, ou a plateia, afirma que você fez um ataque falacioso ad hominem.

A falácia ad hominem é bem mais rara do que se pensa. Apenas é a única expressão em latim que a putada conseguiu decorar no maravilhoso reino das discussões infundadas e das trocas de vídeo de dupla penetração chamado internet. Então, qualquer coisa que pareça envolver o interlocutor já é chamado de “falácia ad hominem”.

Os argumentos se dividem em apenas dois meios: ad rem (pela coisa) e ad hominem (pelo interlocutor). Nem todo ad hominem é uma falácia. É fácil perceber isso: eu não posso defender a paz mundial enquanto construo uma bomba atômica. Quem me criticar por isso estará usando um argumentum ad hominem corretíssimo e nada falacioso.

A falácia ad hominem significa uma espécie de non sequitur (quando uma conclusão não se conclui inescapavelmente de cada premissa) mascarada por algum detalhe, seja verdadeiro ou não, do interlocutor. A falácia ad hominem comum hoje é feita por advogados defendendo bandidos: dizem que seus crimes não devem ser punidos porque o autor do crime é pobre. Como se houvesse uma ligação lógica entre ser pobre e ser criminoso – e como se a Justiça não devesse ser aplicada a quem comete um crime que não seja para se defender de uma ameaça.

Um evento muito comum nas discussões interneteiras é algum energúmeno que passou colando do maternal afirmar que qualquer ofensa é “ad hominem”. Ora, chamar de idiota não é argumento ad hominem: sequer argumento ou premissa é. É apenas o direito democrático de ter uma opinião nada abonadora sobre alguém – e também o crime de injúria, de acordo com o artigo 140 do Código Penal, embora quem processe alguém por ser chamado de “idiota” certamente foi criado pela avó e tem sério surto de viadagem pública.

(No parágrafo acima, “energúmeno”, “idiota”, “criado pela avó” e “viado” também não são ad hominem, e nem sequer difamação, por não terem tido como alvo um sujeito único delimitado.)

Repetir o que já foi refutado (Regressus ad baguus)

Link YouTube | Você é um mentiroso e caluniador! Um caluniador e mentiroso! Um mentiroso e caluniador! Você é um safado! Um canalha! Um mentiroso e safado! Caluniador e mentiroso! Você é um mentiroso e caluniador! Um caluniador e mentiroso! Um mentiroso e caluniador! Você é um safado! Um canalha! Um mentiroso e safado! Caluniador e mentiroso! Você é um mentiroso e caluniador! Um caluniador e mentiroso! Um mentiroso e caluniador! Você é um safado! Um canalha! Um mentiroso e safado! Caluniador e mentiroso! 

Parece que saiu na Cláudia que esse macete é a última moda do verão para cagar numa discussão. Alguém apresenta uma tese. Vai lá um discordante e apresenta uma antítese. O alguém inicial… repete o que acabou de ser refutado, como se seu próprio amor à causa e seu próprio fanatismo histérico e cego ao que já foi provado errado fossem provas da veracidade da tese. É uma técnica disseminada entre crentes, comunistas, terroristas, fãs de Dan Brown e de Caio Fernando Abreu, usuários de papetes, leitores da Caros Amigos e torcedores de times sem Libertadores.

É uma tática sutil, laboriosa e complexa para foder qualquer possibilidade de argumentação racional em uma discussão – porém, muito fácil de ser aplicada se você simplesmente enfia sua verdade na cabeça e ignora qualquer resquício de disciplina lógica vigente no planeta. O fanatismo faz milagres engenhosos.

Enquanto apenas repetir o argumento inicial já dá um cara de “palavra final” ao que é Vale A Pena Ver de Novo, a estratégia pra cagar todo o meio de campo é ainda mais eficiente se combinada a uma teoria grandiosa que explique tudo o que você quiser saber, mas deriva de uma premissa única, que auto-explique suas refutações.

Um exemplo foi a quizumba que mais se pareceu com um MMA universitário nos cursos de Psicologia, sobretudo na segunda metade do século passado, graças à psicanálise. Enquanto seus defensores partem da suposição de que forças inconscientes “reprimem” pulsões do indivíduo, seus críticos mostram argumentos os mais diversos para interpretar algumas ações sem tal repressão inconsciente. A resposta dos psicanalistas, coerente com sua própria teoria, é a de que o próprio fato de você não aceitar a teoria é uma prova de que a teoria está certa. E seguem-se mais exemplos de “repressão”. Se der cara eu ganho, se der coroa você perde.

Ironia mequetrefe (Foeturus nequam subsidio)

Enfermeiros negros cuidam de membro da Klu Klux Klan: a vida já é, por si só, muito irônica. E você pensava que suas tiradinhas fajutas eram o ápice da ironia, né?

O método socrático é uma oposição radical aos sofistas, pouco conhecidos de nós. Trata-se da arte de deixar que o oponente exponha seus pontos, e continuar perguntando sua opinião e comparando “às conseqüências lógicas dela, até que o oponente é flagrado numa contradição flagrante com a realidade – a famosa reductio ad absurdum, golpe aplicado com uma meia lua pra trás e os três de soco com duas barras de especial e ki piscando. Esta é a famosa ironia socrática.

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Entretanto, toda santa vez que alguém tenta ser irônico, fingindo que concorda com você só para mostrar que seu argumento leva a um caminho na melhor das hipóteses ridículo, parece que o faz como se tivesse descoberto ontem esta milenar técnica de retórica. É como se fosse muito surpreendente alguém ser irônico – afinal provavelmente ninguém nunca o tenha sido antes de você na Humanidade.

Até uma criança é capaz de praticar uma ironiazinha como forma de tentar supor que você é um idiota. Mas sempre que uma discussão internetística tiver um comentário discordante e este for o mais longo possível, se não tiver a sorte de ser daqueles únicos 0,06% de pessoas no país que sabem contra-argumentar, será fatalmente um longo arrazoado, chatíssimo e forçado hiperbolicamente tentando ser irônico, engraçadíssimo e provando que você só fala besteira. Invariavelmente, o efeito causado é que é irônico: o idiota sempre acaba parecendo ser ele mesmo.

Agora que Lula nos tirou do neolítico, está na hora de descobrirmos algumas coisas mais avançadas na arte de ridicularizar nossos oponentes. Trollar é uma arte que não aceita fracos. Não adianta propalar: “Ah, é, vamos continuar concordando com esse cara, afinal está tão na moda ser babaca.” Não. Essas ironias sem sentido e mais desprovidas de graça do que o programa do Marcos Mion não são provas de que você não é um babaca – pelo contrário, geralmente provam que seu discurso é mais nulo e manjado do que o Marcos Mion.

Ora, a ironia fina, machadiana, costuma ser demorada, se ater a detalhes, pegar o camarada com a boca na botija pela filigrana. Não é apenas dizer uma frase fingindo que concorda com seu oponente e emendar: “Como você é esperto, hein?”

Ironia é isso

Talvez a melhor resposta em um duelo filosófico na história, com o uso da ironia no modo very hard, foi dada pelo filósofo Sidney Morgenbesser (1921-2004). Convidado a uma palestra em Oxford, terra da escola analítica de filosofia da linguagem, que acredita na possibilidade e busca encontrar uma língua mais científica, o filósofo e linguista J. L. Austin (1911-1960) explicava que, apesar de, na língua inglesa, uma dupla negativa possuir um sentido positivo (o que não funciona em português: “Não vou lá, não”), não há nenhum exemplo de língua em que uma dupla positiva implica uma sentença negativa. Sidney Morgenbesser apenas virou para Austin num tom de deboche e disse:

“Yeah, yeah…”

Sentiu o que é ironia que faz a espinha gelar? Isso foi feitosem nenhuma consoante. Só restou a seu oponente pegar o banquinho e sair de fininho, morrendo de vontade de se jogar pela descarga. E você aí, achando que tá mostrando como seu oponente é ruim apenas por uma frase fingida e uma pseudo-reductio ad absurdum.

O irônico da coisa é que a própria ironia mequetrefe faz muito leigo na discussão cavar a própria cova.

Non sequitur bizarro (Alienus non sequitur)

A falácia non sequitur é comum quando alguém defende uma posição já esquematizada: um partido político, uma religião, uma filosofia, um time que não tenha Libertadores. Desta forma, sempre se reúnem argumentos díspares que defendam aquele esquema – embora não se perceba que eles nada têm a ver um com o outro.

Tal como repetir o que já foi refutado, é muito bom para tentar sair por cima de discussões em que você foi jogado contra o corner, está sendo violentamente socado sem nem conseguir mais manter a guarda para proteger a cabeça, faltam 10 segundos para a luta acabar e você quer revidar nem que seja com um chute no saco.

A modalidade bizarra do non sequitur precisa ser aplicada pelo aluno com pressa, pois logo sairá de moda. O que está em voga hoje é o discurso politicamente correto, em que se defende não mais uma idéia, mas um coletivo de pessoas (ou ao menos assim se acredita) que sejam as vítimas históricas de determinada circunstância. Como tudo passível de discussão nessa vida, há argumentos bons e ruins dos dois lados. Quem aplica o non sequitur bizarro é justamente aquele que não sabe que argumentos ruins, mesmo que em sua defesa, apenas queimam a sua causa.

Uma modalidade de defesa é comum na discussão sobre cotas na Universidade. Por maiores que sejam os benefícios que tenham trazido aos negros, o que se discute é a abolição do sistema de mérito, e por conseqüência lógica inescapável o fato de que o preconceito racial pode vir a aumentar, e não diminuir, perante os profissionais negros. Refutação non sequitur: dizer que eles têm direito histórico. Como se a ideologia direito histórico fosse ajudar a diminuir o preconceito racial no país.

Hitler para Mussolini: “Um dia, meu nome será usado para acabar com qualquer discussão. Não é um barato, migs?”

Já uma modalidade de ataque ficou famosíssima justamente graças á internet, como atesta a Lei de Godwin:

“À medida que cresce uma discussão on-line, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou nazismo aproxima-se de um (100%).”

Como a lei é universal e inapelável, os nazistas acabam aparecendo até mesmo nas verduras. Foi com a internet que os vegetarianos se uniram em grandes grupos visíveis aos não-iniciados pela primeira vez. Como criticá-los? Aplicando o que é chamado argumentum ad Hitlerum: lembrar que Hitler era vegetariano. Difícil é lembrar que Hitler também bebia água e gostava de pintura e música erudita – o que não torna nenhuma das duas coisas criticáveis.

Se numa discussão sobre um fato simples, como os elétrons envolvidos na reação da água com o açúcar, já se faz praticamente um nó nos neurônios da galera, é surpreendente que toda hora que se discute algum fato complexo – seja político, econômico, metafísico, epistemológico ou que envolva Libertadores –, alguém surja colocando mais uma variável na bagaça, como se isso fosse tornar a coisa mais crível. Está aberto o caminho para o non sequitur bizarro. Pior: essa artimanha tem a maior aparência de verdade dentre todas as citadas – é a rota mais rápida para um Zé-rodela enganar a si próprio, jurando que acabou de inventar o papel higiênico macio.

Parei de ler em… (Desino legere caduco)

Nunca, nunca, nunca na vida vi alguém soltar um “Parei de ler em…” e apontar algum ponto no que estava lendo que era falso. Todo mundo já deve ter largado um texto pela metade pelo montante de asneiras cometido pelo autor. Mas deve haver algum mecanismo mágico que faz com que, assim que alguém comente que parou de ler na passagem X, essa passagem se torne a maior verdade absoluta de todo o saber cósmico.

Inescapavelmente quem aplica essa tramoia revela duas coisas:

1. que já estava de má fé em relação ao texto logo de cara, apenas procurando um motivo para criticá-lo sem se dar ao trabalho de lê-lo minuciosamente, nem que seja uma palavrinha que ofenda sua hipersensibilidade faniquiteira.

2. que não sabe que o texto inteiro, afinal, pode suplantar uma das partes: se cito em uma passagem algo reprovável, pode ser porque eu mesmo o reprovo, e lá na conclusão destroce a pauladas aquilo que foi dito. (Não é curioso que seja uma tática muito usada pelos mesmos que reclamam de textos “parciais”?)

Link YouTube | Parei se assistir em… Não, mentira. Nem dei o play. Afinal, é Legião Urbana

Aliás, assim é que são feitas monografias, dissertações e teses. Muitas vezes, começa-se justamente pelo mais criticável. Ou vocês ouviram a música “Perfeição”, da Legião Urbana, e vociferaram, dorso da mão à cintura e pezinho a fustigar violentamente o assolhado, “Parei de ouvir em ‘vamos celebrar a estupidez humana’!”?

Fica a tática alquímica perfeita para a galera: se usar um “Parei de ler em…”, você acabará transformando até a mentira mais deslavada em uma verdade com peso científico. Não tem como falhar.

Este texto tá muito difícil (Legendo capengo)

Há um efeito curioso em alguém saber uma língua, mesmo que só a língua materna: ela é tratada como um mecanismo para se adquirir cultura, desde que ninguém possa nos mostrar que estamos errados em algo em que acreditamos. E também nunca pode ser usada para se adquirir mais cultura a respeito da própria língua.

Usar uma única palavra desconhecida na internet te faz ser chamado de pedante e começam a achar seu texto muito difícil. O livro do Einstein também padeceu disso – afinal, quem é que sabe exatamente o que é um movimento browniano? Mas tá lá, todo mundo o admira e o trata como verdade inviolável (embora justamente os físicos não pensem exatamente assim). Agora, se você faz alguém se encafifar um pouco indo até o dicionário, ou presumindo um significado não de todo conhecido para uma palavra, já imediatamente será chamado de pedante.

Link YouTube | Nada como conhecer a boa e velha língua portuguesa…

O que é que as pessoas leem, se não querem saber de algo que ainda não sabem? Não é mais fácil então apenas se repetir e gastar esse tempo se masturbando feito um chimpanzé em vez de declarar ao incréu interlocutor que tem horror a aprender alguma coisa?

Também é uma mutreta eficiente para se tentar sair por cima quando não se tem contra-argumento algum. Dá uma impressão de que, se sua razão é fraca, ao menos sua intenção é boa – ser facilmente compreensível por aqueles incapazes de discutir, por exemplo. É um bom exemplo de mutatio controversiae que prova que quem o faz, sabe menos, mas quer a vitória.

Ai, tá bom! Você é o dono da verdade, então! (Suspectus domine veritatem)

Mas se mesmo com todos os itens aqui esmiuçados estiver muito difícil foder por completo um debate na internet, sempre há a opção de apelar para a última frase, o non plus ultra da cagada no ventilador. A única regra é nunca usar essa pilantragem no começo da disputa, mas sempre no final, se (e somente se) você se ver com todo o seu arsenal de respostas possíveis devidamente refutadas:

Ai, tá bom, você é o dono da verdade, então!

Então é só me mostrar onde foi que eu errei, porra!

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.