Ah, o clichê.
O clichê é a bóia para quem não sabe nadar.
É cantar “adeus ano velho” ao findar a contagem regressiva no reveillon. É gritar “vai pagar a conta” para o amigo que senta na ponta da mesa no bar. É questionar “é pra ver ou pra comer” quando a tia serve a sobremesa. A resposta padrão, o senso comum, a piada óbvia. O cantar “a porra do Brasil” em resposta ao refrão da música.
O clichê é o “papai e mamãe”. É a montanha russa. É ter um cachorro chamado Rex. Chamar um gaúcho de viado, um baiano de preguiçoso e um argentino de arrogante. É dar um porta-retratos de presente no dia das mães, tomar sorvete napolitano, pedir pizza de frango com catupiry e comer pastel com garapa.
Comentar sobre o clima no elevador, reclamar da corrupção, do trânsito e da Seleção Brasileira. Repetir o que outros dizem sem se perguntar o motivo. Torna comum o que poderia ser interessante. O clichê distancia pessoas.
O clichê é o piloto automático do cérebro. É recuar a bola paro goleiro e levantar a mão pedindo impedimento quando sofre um gol. É dizer que o ano só começa depois do Carnaval. É reclamar que o final de semana acabou quando sobem os créditos do Fantástico. É ver futebol na Globo, reclamar da narração do Galvão Bueno e repassar um texto do Pedro Bial.
O clichê é o freio de mão da criatividade. Não aquela criatividade de criações mirabolantes, mas a capaz de produzir respostas próprias para velhas questões da rotina. O clichê acostumaa mente aos paradigmas (palavrinha bem clichê) e torna você um personagem de filme de Sessão da Tarde. Não um Ferris Bueller, mas sim um com falas banais e final previsível.
Clichês são as frases dos outros que você usa por preguiça de pensar por conta própria.
O clichê é chato e é chato ser clichê. Ninguém quer ser comum, mas você é. Eu sou também.
Menos clichês, mais talento.
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