Se você tem uma vaga ideia do que é surfe, já deve ter ouvido sobre Andy Irons. Agora, se você não é um rauli, conhece muito bem o surfista havaiano. Em uma transposição livre do surfe para o futebol, Andy Irons está para Kelly Slater assim como a Argentina está para o Brasil. Ou vice-versa, dependendo da nacionalidade do leitor.
Irons foi o único que ousou desafiar o império de Slater. Quando o americano resolveu fazer um hiato em sua carreira avassaladora, Irons começou a despontar. Seu primeiro título profissional de peso foi o Ocean Pacific Pro, disputado na Califórnia em 1998. Depois disso, manteve resultados modestos até que, em 2002, arrebatou quatro canecos e levou a coroa mundial para casa.
No ano seguinte, com a ascensão de Irons, Slater voltou ao batente pela integridade de sua grandeza no esporte. E justamente aquele era o momento em que Irons estava dropando todas. Tanto que os dois travaram uma batalha épica no Pipeline Masters do Hawai daquele ano. Ao final, Irons venceu o tour e ultrapassou o surfista americano no ranking mundial. Slater não digeriu bem esse golpe, nem o terceiro mundial consecutivo de Irons em 2004.
Os gênios voltaram a se encontrar em 2006, no Rip Curl Pro, e Slater faturou seu oitavo título. O feito acalmou um pouco as aflições geradas pelo meteórico e insolente Andy Irons, o bárbaro que ameaçou sua coroa e o retirou da sua jovem aposentadoria.
No entanto, como surfe tem tudo a ver com paz e respeito, a rivalidade entre Slater e Irons era saudável. De certa forma, não há por que qualquer rivalidade esportiva ser nociva. Tanto que, de posse de uma humildade e simplicidade estranha a outros esportes, Irons afirma que uma das motivações de seu surfe é Kelly Slater.
Link YouTube | Se não sabe inglês, clique aqui.
A recíproca é verdadeira, tanto que Slater disse em entrevista ao site Surfline:
“Sinto-me abençoado por termos resolvido nossas diferenças. Eu aprendi do que sou sou feito, do que sou capaz, por causa do Andy.
E nós, mortais, temos muito que aprender com essa relação. Lições que o surfe não se cansa de ensinar para o mundo. A relação entre Slater e Irons nos diz que não precisamos odiar os inimigos, pois são eles que nos ensinam o que somos, quais nossas fraquezas e qualidades. São eles que testam nossos limites. São eles que nos fazem crescer.
Andy Irons morreu ontem em Dallas, EUA. A causa da morte ainda sofre muita especulação, de dengue a overdose. Não há um posicionamento definitivo. Se essa dúvida existe, por si só, não será uma conclusão fácil. Um mito vai se criando.
Independente da causa que levou Andy desse mundo, seu legado permanece intacto. Não só pela sua performance, mas por dividir com Slater um foco extremo inabalável, na busca da excelência e do virtuoso. Os dois não poderiam se encontrar em outro momento, em outro esporte e em outras condições. O surfe sem Irons perde um pouco da sua graça. E Slater, um pouco de seu brilho.
Andy Irons morreu aos 32 anos, sendo tricampeão mundial de surfe pela Associação de Surfistas Profissionais (APS). Era casado com a modelo Lyndie Dupuis desde 2003, que está grávida de oito meses do surfista.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.