O automóvel é o totem da sociedade moderna. Desde o século passado, nos organizamos em torno das quatro rodas que podem significar diversas coisas, desde potência sexual até opção de moradia.
A importância do carro é tão marcante que seus métodos de produção tornaram-se casos acadêmicos, como o Fordismo e Toyotismo. A cada novo modelo lançado, o carro vai se institucionalizando e conformando a vida das pessoas em outros sentidos além do mero deslocamento e transporte.
Ouvi dezenas de mulheres que escolhem um pretendente a partir da propriedade ou não de um veículo. Quanto mais invocado o carro, maior o interesse da moça. Da mesma forma, alguns rapazes mensuram a masculinidade um do outro por meio da gravidade do ronco do seu motor.
No Brasil, o consórcio de Juscelino Kubitschek e as auto montadoras rendeu o financiamento da construção de Brasília. O então presidente deu como garantia o privilégio do transporte sobre rodas sobre outros métodos, como ferrovia e hidrovia. O Brasil iria se integrar pelo asfalto.
Pois bem, esse compromisso hoje cobra seu preço. O frete rodoviário no Brasil encarece ainda mais o produto final para os consumidores distantes dos grandes centros produtores. A omissão estatal nas rodovias federais, além de complicar as trocas internas, também é responsável pela ceifação de vidas. Não bastando, não se tem outra alternativa de transporte: ou é rodoviário ou é rodoviário.
E o caos nas cidades?
E os rachas da molecada?
E a poluição gerada pelo número cada vez maior de veículos circulando?
Reflexões como essas, além da preocupação ambiental, levaram a criação do Dia Mundial Sem Carro. A data é uma iniciativa global da World Carfree Network (www.worldcarfree.net), que tem como objetivo fazer com que as pessoas reflitam sobre outras maneiras de se deslocar e se relacionar como um todo. A fundação também possui propostas para reaproveitamento de espaços urbanos degradados.
No entanto, a figura do carro é só a cereja do bolo, a ponta do iceberg. Será que somos humanos piores por causa de nosso transporte? Ou a nossa natureza humana corrompeu também a nossa forma de se deslocar?
O dia 22 de Setembro é uma boa data para se pensar nisso. E também para agir, cada um ao seu modo, como fizeram o Danilo e o Thiago, os caras aí das fotos.
Para finalizar, sugiro duas ótimas leituras:
- Entrevista com o antropólogo Roberto Da Matta na última Trip.
- Texto e vídeo no Isso Não é Normal sobre o transporte em São Paulo.
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