Assim é minha vida hoje.

Meu nome é Lauren. Sou uma mulher de 23 anos, moro em Nova York, e não produzo lixo. Sério. Nada vai pro caminhão, nada vai pro lixão. Absolutamente nada.

Sei o que você está pensando. Essa garota deve ser uma hippie. Ou mentirosa. Ou não existe. Mas eu asseguro que nada disso é o caso.

Nem sempre vivi o que algumas pessoas já chamam de vida de “lixo zero”.

Porém, há cerca de três anos comecei a fazer essa mudança, quando cursava Estudos Ambientais na Universidade de NY, protestando contra as petrolíferas, e era presidente de um clube que mantinha conversas semanais sobre tópicos ambientais. Em minha mente eu me considerava super ambiental, ou como minha avó disse, uma “abraçadora de árvore”. Todo mundo pensava em mim como “garota sustentabilidade”. Sem dúvida eu estava fazendo minha parte pela terra, certo?

Errado.

Em um dos cursos que eu fazia na universidade havia uma aluna que sempre trazia um saco de plástico contendo um recipiente de isopor cheio de comida, uma garrafa de água e talheres de plástico, e um saquinho de salgadinho. Aula após aula eu assistia ela jogar tudo no lixo, e eu ficava pasma! Fazia caras e bocas, mas nunca disse ou fiz nada a respeito. Só ficava furiosa.

Um dia eu estava particularmente irritada depois das aulas e fui para casa fazer a janta e tentar esquecer aquilo tudo, mas quando abri o refrigerador congelei. Percebi que cada item que eu tinha ali estava embalado, de uma forma ou de outra, em plástico.

Essa foi a primeira vez na vida que senti que podia me olhar no espelho e dizer “SUA HIPÓCRITA”. Eu era a menina verde, não a garota do plástico! O que eu estive fazendo minha vida toda? Naquele momento tomei a decisão de eliminar o plástico da minha vida.

Eliminar o plástico implicava aprender a fazer eu mesma todos os produtos embalados que usava.

Isso incluía tudo, de pasta de dente a produtos de limpeza, coisas que eu não tinha ideia de como fazer e tive que aprender com extensas pesquisas online. Um dia tropecei num blog chamado Casa do Lixo Zero. Ele acompanhava a vida de Bea Johnson, uma mulher casada com dois filhos levando uma vida de lixo zero na Califórnia.

Nesse ponto eu já havia eliminado quase todo o plástico da minha vida. Pensei, “Se uma família de quatro consegue viver sem lixo, então eu, uma solteira de (então) 21 anos de idade em Nova York sem dúvida conseguirá.” Assim, fiz a transição.

Lauren Singer | Foto cortesia da autora

Como fui do plástico zero para lixo zero?

Primeiro parei de comprar produtos embalados e comecei a levar minhas próprias sacolas e potes para encher de produtos a granel no supermercado. Parei de comprar roupas novas, apenas adquirindo usadas. Continuei a fazer todos os meus produtos de  cuidados pessoais e higiene.

Reduzi significativamente minhas posses, vendendo ou doando todas as coisas supérfluas, por exemplo, ficando com apenas uma de minhas seis espátulas, e me livrando de 10 calças jeans que eu não vestia desde o ensino médio, e um trilhão de itens decorativos que já não me tinham significado nenhum.

Mais importante do que isso, comecei a planejar as situações que potencialmente poderiam gerar lixo; comecei a dizer NÃO para coisas como canudinhos nos meus drinks no bar, a sacolas de plástico ou papel nas lojas, e recibos.

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Claro, essa transição não aconteceu da noite para o dia.

O processo levou mais de um ano, e demandou muito esforço. A parte mais difícil era olhar bem para mim mesmo, uma aluna de Estudos Ambientais, um exemplo consumado do que seria ser sustentável, e perceber que eu não vivia alinhada com meus valores.

Percebi que embora eu me sinceramente me importasse com muitas coisas, eu não incorporava a filosofia na prática. Quando reconheci isso, e o aceitei, me permiti mudar, e desde então cada dia de minha vida tem sido melhor. Aqui apresento algumas poucas melhorias que ocorreram na minha vida desde que me livrei de gerar lixo:

1. Economia

Agora faço uma lista de compras, o que significa que estou preparada e não saio apanhando itens caros impulsivamente. Além disso, comprar comida a granel significa não pagar um adicional pela embalagem. Com relação a minhas roupas, não compro roupas novas; compro usadas e assim obtenho descontos enormes.

2. Estou comendo melhor

Já que não compro comidas embaladas, não dá para comprar quase nada que não é saudável. Assim acabo comendo muitas frutas e vegetais orgânicos, grãos e legumes a granel, assim como muita comida sazonal e local, já que as feiras oferecem o melhor da safra sem embalagem.

3. Sou mais feliz

Antes de adotar meu estilo de vida lixo zero, eu me via correndo até o supermercado antes que fechasse, porque não havia feito as compras direito, ou pedindo tele-entrega porque não tinha comida, ou indo o tempo todo à farmácia para comprar esse ou aquele creme ou loção, e limpando a casa o tempo todo, porque tinha coisas demais dentro dela.

Agora minha semana típica tem uma viagem até a feira, onde compro todos os ingredientes de que preciso. E essa viagem não é só para comida, mas também para os produtos de limpeza, higiene e beleza, já que todas as coisas podem ser feitas com ingredientes simples, cotidianos. Não só é mais fácil e sem estresse, é mais saudável (não há químicos tóxicos!).

Nunca antecipei que ativamente escolher não produzir lixo me levaria a ter uma melhor qualidade de vida. Pensei que significaria apenas não ter que tirar o lixo. Mas o que a princípio foi uma decisão de estilo de vida, se tornou um blog Lixo é pra Tossers [N. do T.: Um tosser é alguém que joga coisas, por exemplo, pela janela, mas também é um insulto comum, que significa algo como “idiota”.] que se catalisou conversas com pessoas interessantes e que pensam parecido comigo, o que levou a amizades.

E agora essa mudança me leva a abandonar meu ótimo trabalho de pós-graduada como Gerente em Sustentabilidade para o Departamento de Proteção Ambiental de Nova York para começar minha própria empresa de lixo zero, The Simply Co., onde vendo produtos que aprendi a fabricar artesanalmente ao longo dos últimos dois anos.

Não comecei a viver assim para dar exemplo – comecei a viver desse jeito porque uma vida sem lixo, para mim, é a melhor forma que conheço de viver alinhada com tudo em que acredito.

* * *

Nota: esse texto foi originalmente publicado na MindBodyGreen e traduzido sob autorização da autora.

Lauren Singer

Blogueira sobre lixo zero no <a>Trash is for Tossers</a> e fundadora do <a href="http://www.thesimplyco.com/">The Simply Co.</a>. "