Como bom filho que você é, concluiu o curso de graduação. Foi duro, nós sabemos. Muitos professores carrascos, conteúdos de disciplinas extremamente complicados, madrugadas e mais madrugadas de estudo para um dos dias mais importantes da sua vida: a formatura.
Você aproveitou, bebeu, conversou, gargalhou, derrubou bebida naquela sua tia gorda e saiu quase desmaiado de sua festa. Tudo isso para esconder um simples fato:
“É, meu caro. Agora você faz parte das estatísticas: está desempregado.”
O mercado de trabalho anda cada vez mais competitivo. No caso de algumas profissões, procurar um emprego logo após formado é a chance que você tem de arrumar um emprego chato, desinteressante, que demande muito tempo e dê pouco retorno financeiro. Vamos pegar, como exemplo, a minha profissão: Engenheiro Florestal.
Tenho alguns amigos que, logo após se formarem, arrumaram emprego no setor. Arrisco-me a falar que a maioria deles não foi trabalhar com Engenharia Florestal propriamente dita, e sim coordenar equipes e atividades de execução. Ou seja, foram trabalhar nos setores operacionais da empresa. Ficam imersos em relatórios, planilhas e resolução de pepinos dentro da empresa. É esse o emprego dos sonhos que eles buscavam quando se formaram? Pior: é isso em que eles se imaginavam trabalhando quando ingressaram no curso? Generalizando, acho que não.
Mas quer dizer que toda essa história de profissão era uma ilusão? Onde eu coloco todo o conteúdo técnico e científico que aprendi na universidade? Existe uma solução pra isso. (Na verdade, existem algumas…)
Quando você cursa uma graduação, na maioria das profissões, acaba se formando um profissional generalista, que sabe entender as demandas do setor em que trabalha e pode propôr solução de problemas. No entanto, qual é a profundidade do conteúdo que você realmente domina? A primeira sensação que temos quando nos formamos é que sabemos muito pouco sobre a nossa própria profissão. E eu me refiro aos conteúdos, puramente.
A verdade é que, realmente, você não sabe muito sobre a sua profissão após se formar. As aulas da universidade passaram apenas os conceitos básicos, insuficientes para lidar com a vida real. Aqui surgem duas alternativas: ou você mete a cara no mundo e passa a aprender tudo na raça, na base da tentativa e erro com o básico conhecimento que você tem e com o que vai adquirir ao longo do desenvolvimento da atividade, ou pode se especializar fazendo uma pós-graduação.
No Brasil, a pós-graduação é divida basicamente em dois caminhos:
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Stricto-sensu (ou “sentido restrito”): essa linha se refere aos tradicionais programas de mestrado e doutorado, que procuram formar o estudante apenas para a vida acadêmica. Ou seja, forma para seguir carreira de pesquisadores ou professores universitários.
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Lato-sensu (ou “sentido amplo”): são, em geral, os cursos de especialização e MBA, que visam apresentar alguns novos conceitos com maior profundidade de entendimento, além da troca de experiências entre os próprios alunos.
Atualmente, existe uma “sentença de morte” para aqueles que optam por fazer um curso de pós-graduação stricto-sensu:
“Se você fizer um mestrado perderá muito tempo estudando coisas que não usará na vida profissional.”
Isso é uma meia-verdade. Se o seu objetivo é trabalhar dentro de uma grande empresa ou com consultoria, essa linha de pós-graduação dá as ferramentas para você trabalhar na área técnica: chega de ficar preso em burocracia e planilhas. Você vai desenvolver novas tecnologias, ou seja, poderá atuar como pesquisador dentro da empresa. Essa é uma tendência que vem crescendo nos últimos anos, com as empresas procurando profissionais qualificados e especializados para atuarem em suas respectivas áreas de verdade. A desvantagem desse tipo de curso de pós-graduação é o tempo demandado: você tem, no mínimo, um ano e meio para concluir disciplinas (dificílimas, na maioria dos casos dos cursos de pós-graduação sérios) e desenvolver um projeto de pesquisa original. É muito difícil (e eu quero dizer “muito” mesmo) conseguir conciliar um curso de mestrado com um emprego fixo, por exemplo. Como ninguém vive somente de luz (nem as plantas, que precisam de outras coisas também), os cursos de mestrado e doutorado oferecem bolsas de estudo para que o aluno se dedique integralmente às suas atividades de pesquisa.
Os cursos de especialização (lato sensu) têm crescido muito no Brasil, sobretudo nas universidades particulares. São cursos que demandam pouca infraestrutura, cujas aulas são esporádicas (cerca de duas por mês) e caracterizados pela realização de muitos trabalhos práticos, normalmente em grupo. A grande vantagem destes cursos é a ampliação da rede de contatos que você pode obter, além da troca de experiência entre os integrantes. Por isso, se você é recém-formado, talvez não consiga absorver todas as vantagens que um curso de especialização pode lhe oferecer.
Agora, uma opinião pessoal: acho que os cursos stricto sensu adicionam mais uma característica que pode ser favorável ou não ao trabalho em uma empresa no futuro: você passa a se tornar um profissional mais crítico em relação à ciência e à forma como as coisas são feitas. O rigor científico que você encara num programa de pós-graduação desses pode fazer com que você não aceite certas ações e delegações dentro da empresa, podendo levá-lo a um conflito com seus valores pessoais e profissionais.
Acho que essas dicas que passei aqui se aplicam bem às áreas de engenharia, economia e administração, mas não sei bem se é assim que funciona nas outras áreas. Você faz pós-graduação em outras áreas? Contribua nos comentários contando como é a experiência. E você, recém-formado ou não, já pensou em cursar uma pós-graduação? Vamos conversando.
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