Ele já foi considerado “bebida de velho”, coisa dos anos 70, da época que nossos pais eram jovens e mais uma porção de infâmias. Hoje volta à cena como forte expressão de sofisticação e bom gosto. Assim como os grandes heróis, tem uma história atribulada e cheia de peculiaridades, com seus primeiros registros no século XI.
A principal característica do gin é o uso do óleo essencial de zimbro (genièvre do francês e jenever do holandês) adicionado a um álcool de cereais neutro. Como sempre friso, a maioria dos álcoóis é obtida da mesma forma e o processo pós-destilação é que lhes confere as características peculiares de sabor, cor, aroma e textura.
Fins medicinais ou recreativos?
Desde a idade média são conhecidas as propriedades medicinais do zimbro, tais como:
- digestivo,
- antifúngico,
- antiinflamatório,
- diurético,
- anti-reumático,
- imunoestimulante
…entre mais uma dúzia de aplicações que naquela época poderiam salvar vidas, visto que as condições de higiene e conservação de alimentos eram péssimas. Assim ele tornou-se rapidamente parte da cultura popular como “um santo remédio”.
Foi na Holanda do século XVI que o médico-cientista Franciscus Sylvius concebeu a mistura com álcool que hoje conhecemos como gin, para o tratamento de males como gota, doenças de rim, estômago e cálculos biliares. Ele era vendido em pequenos frascos nas farmácias. E foi assim até a Revolta Holandesa, conflito entre protestantes dos Países Baixos contra católicos do império Espanhol, de 1566-68 a 1609.
Poção da guerra
Os ingleses, aliados dos protestantes, tiveram contato com uma substância considerada calmante – largamente consumida pelos soldados holandeses antes das batalhas. Ao final da guerra ficou conhecida no Reino Unido como “Calma Holandesa”, a qual foi amplamente difundida na Inglaterra uma vez que o governo permitiu sua produção com grãos de baixa qualidade que não serviam para a fabricação de cerveja.
Com o passar do tempo desencadearam-se uma série de problemas de saúde pública ligados ao alcoolismo, o que forçou o governo inglês a tomar medidas duras como aumento dos impostos de produção e restrições nas vendas, sendo necessárias licenças para comercialização. Além disso, os destiladores só poderiam fornecer a vendedores em sua mesma jurisdição, para ter maior controle e fomentar a economia local.
Como vimos na semana passada, nas colônias britânicas em países tropicais o gin era usado para disfarçar o sabor do quinino usado preventivamente no combate à malária. Mas nos Estados Unidos essa desculpa não colou durante a lei seca e ele tornou-se o principal produto traficado pela máfia italiana, visto que nos anos 20 do século passado cheirar cocaína e fumar maconha eram hábitos de socialização e a bebida que era o grande mal.
O cinco tipos de gin nos dias de hoje
Atualmente existem diversos tipos de gin, que se dividem em cinco grandes grupos classificados pela família aromática dos ingredientes utilizados em suas notas botânicas. São eles:
Clássico: aqueles predominante de zimbro com um ligeiro toque cítrico e picante. São os gins conhecidos secos apesar de que, na verdade, todos os gins são geralmente secos e sem açúcar, por isso estes são denominados ou London Dry Gin.
Exemplo deste tipo de gin: Seagrams, Plymouth, Tanqueray ou 209.
Cítricos: Aqueles em cuja composição botânica é dominada pelos citrinostransversais, aromas e notas de sabor tais como laranja, limão, grapefruit ou tangerina.
Exemplos:: Tanqueray Ten, Larios Londres # 1 ou 12.
Especiados: composição botânica com caráter reforçado de especiarias como coentro, raiz de angélica(ou erva do espírito santo) , raiz de lírio, canela, cardamomo, pimentas dos mais variados tipos e noz-moscada.
Exemplos: Magellan, Citadelle e Brecon.
Herbais: Notas marcantes de ervas como tomilho, hortelã, alecrim, manjericão.
Exemplos: Gin Mare e Blackwoods.
Florais: Aqueles em cuja principal característica vem de flores ou frutos como flor de uva verde, jasmim, violeta, olho de dragão e cassis.
Exemplos: G’Vine Floraison, Fifty Pounds ou Geranium.
Uma curiosidade que merece detaque é que o Steinhaeger também é um gin, o mais notável da Alemanha.
Os Gins no Brasil
Esta é uma bebida pouco consumida atualmente em nosso país, ficando atrás de vodka, cachaça, whisky e tequila. Portanto, somente as grandes indústrias têm porte para manter algumas boas marcas no mercado e os melhores gins do mundo, que geralmente são de alguma destilaria boutique, infelizmente não são encontrados por aqui. O preço do gin no Brasil é uma realidade completamente diferente dos países mais consumidores, mas sinceramente acho que o investimento vale cada gota.
Alguns dos gins mais consumidos na europa e ásia são encontrados facilmente por aqui, como o Tanqueray em suas versões London Dry e Ten, o Beefeater, o Gordon’s e o Bombay Sapphire. Estes gins encontram-se na faixa de R$ 80,00 a R$ 140,00.
Se você nunca bebeu gin ou ainda tem algum tipo de restrição, aconselho começar com marcas nacionais mais acessíveis de forma a ambientar seu paladar, pois o sabor e aroma do gin são completamente diferentes dos demais destilados que conhecemos. São fortes, “assanhados”, visto que gin tem teor alcóolico bem superior a whisky ou tequila, chegando fácil na casa dos 47° ou mais.
Suas portas de entrada podem ser Gilbey’s ou Seagers. Os dois estão na mesma faixa de preço (entre R$ 20,00 a R$ 30,00), porém o Gilbey’s é mais aprimorado chegando mais próximo dos importados.
7 receitas para se fazer com Gin
Se você se dispôs a experimentar o destilado preferido do Dr. Drinks, segue uma série de drinks que já fiz com ele, acompanhados de bons textos, claro:
Orange Blossom
Link YouTube | Playlist com todos os vídeos
Dry Martini
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Negroni
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Watermelon Gin Fizz
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Gin Fizz
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Melongrape
Link YouTube | O vídeo ficou menor assim porque gravamos com outra câmera.
Gimlet
Link YouTube | Playlist com todos os vídeos
Agora que já sabe um pouco da história, como é feito e o que fazer com gin, mãos à obra! Tenho certeza que ninguém ira reclamar se você oferecer um drink com gin e provavelmente será visto como uma pessoa inovadora e de bom gosto. Vão em frente, arrebentem, se destaquem e me contem aqui embaixo como foi. Enviem também suas dúvidas em relação ao gin, histórias, enfim, falem do quão próximos vocês estão do meu destilado favorito!
A primeira Oficina do Dr. Drinks está chegando…
Nós do PdH juntamente com a Mundo Mundano vamos realizar oficinas literárias inspiradas nos sabores de bebidas e receitas de drinks. Tudo a ver com o que fazemos por aqui. Nesses encontros usaremos os sentidos para estimular a criatividade literária e os sentidos dos participantes. A primeira oficina acontecerá no dia 21/05 e para abrir o ciclo ninguém melhor que a nossa cachaça.
Por isso queria pedir a ajuda de vocês na criação dos sabores que irão inspirar e regar a oficina.
Deixem aqui nos comentários referências culturais, históricas, literárias ou qualquer outra que vocês gostariam de ver traduzidas em drinks. Me comprometo a fazê-los aqui na coluna depois e adoraria ter sua participação na oficina também.
Bebam com responsabilidade e não dirijam se forem beber.
Um beijo e até semana que vem.
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