Eu tenho 22 anos hoje. Não sou um poço de experiência, mas já vejo um mundo onde atualmente muita coisa está fora do normal. Basta ligar a TV e ver mãe colocando seu recém nascido em uma lixeira ou rio, pai espancando filho e o filho, por sua vez, matando o pai. Enfim, a lista de descaminhos possíveis para a instituição familiar é grande.

É inevitável não me pegar pensando nisso, e acabo sempre na mesma conclusão: muita gente regrediu, não agindo nem mais por instinto. Não sou nenhum guru em comportamento animal, mas, pelo bom senso, tanto a fêmea quanto o macho de qualquer espécie, ou pelo menos da maioria, protege sua cria, cada qual no seu papel. Mas não é isso que muitos indivíduos da nossa espécie de animal, dito racional, está fazendo.

Ah, se fôssemos mais assim…

Aquele desejo de preparar os filhos, tentar passar um pouco do que se aprendeu durante a vida, ou até observar de longe e ajudar a corrigir os erros, simplesmente não existe pra alguns. Não somos donos de nenhuma verdade, não é? Mas e a intenção de passar algo bom? Cadê?

Mas pensar isso dos outros é fácil. Foi com isso na cabeça que um dia me dei conta: “Cara, e eu? O que vou ensinar pro meu filho? Quais conselhos eu daria?” Quais conselhos eu vou dar quando a gente estiver sentado com um copo de whisky em cima da mesa de algum bar por aí?

Vou falar de balada, mulher e deixar o silêncio tomar conta, como se a vida se resumisse a isso? Somente a isso? Corri pegar a primeira folha em branco em cima da mesa e comecei a listar conselhos que eu daria pro meu filho, ele pedindo ou não. Com isso nasceu o texto que escrevo agora.

Abaixo estão os dez conselhos que eu daria pro meu filho, e a tentativa de estimular esse pensamento em cada um dos leitores do PdH.

Conselhos antes de entrar em cena; do diretor Jayme Monjardim para o filho André

Os meus dez conselhos

Filho…

“Assim que você toma alguma decisão, ou muda de atitude, é como se fosse jogado num oceano. Ou você nada, ou você se afoga. Prefira nadar, se isso te levar a algum lugar.”
“Tire uma manhã de domingo pra correr. Corra, mas corra muito. Corra até achar que não dá mais. Então continue correndo. Quando tiver a certeza que quer parar, vá um pouco mais longe. Você vai aprender duas coisas: o seu limite, e que endorfina vicia.”
“Parta da ideia de que o não e a rejeição já são realidade e já existem. O que vier, é lucro.”
“Deixe transparecer suas reais intenções em tudo que for fazer. Inclusive na aproximação com mulheres. É estranho, mas é melhor assim. Quem erra cedo, erra barato.”
“Saiba muito bem quem você ama, e então proteja essas pessoas. Deixe que elas saibam que se você as ama, que elas estão seguras.”
“Se for acusado de algo, fique calmo. Isso está sendo feito pelos princípios de quem te acusou e não pelos seus.”
“Saia da zona de conforto sempre que possível. Inércia mental tem feito parte da vida de quase todo mundo.”
“Não seja adepto do pensamento ‘deixa acontecer’. Tenha vergonha na cara para tomar frente pelo menos da tua própria vida. Deixar acontecer é deixar morrer.”
“Tenha algumas, mesmo que poucas, crenças inexplicavelmente fortes dentro de você. Não peça desculpa por quem você é.”
“A vida é sua, assim como é apenas seu o compromisso de fazer dela uma coisa da qual você se orgulha.”

Listados os meus conselhos e levando em conta que não serei pai sozinho, e que por mais difícil que seja imaginar alguns dos meus amigos atuais trocando fraldas e escolhendo berço, o tópico “conselhos para meu filho” puxou uma cadeira e acompanhou algumas brejas com a gente em alguns bares.

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O resultado disso é que, no auge da conversa, alguns conselhos foram pipocando em meio a porções diversas e muita breja gelada.

Conselhos dos amigos

Pedrinho Torel é o mano aqui abaixo. Tem 23 anos, é músico, vocalista da banda Holdana, mora em Botucatu e me conhece das antigas. Temos uma vasta bagagem de cagadas histórias juntos. Estes são os conselhos que ele quer dar para o seu futuro filhão.

“Saco roxo mesmo é ouvir mais de mil pessoas em uma só voz”, me disse uma vez

Filho…

“Nenhuma, nenhuma mulher é insubstituível.”
“Saia com meu carro escondido quando eu viajar com sua mãe. Isso te fará se sentir vivo. Só não me deixe descobrir.”
“Se você tem um sonho, faça dele seu objetivo de felicidade. Pois o que qualquer ser humano deseja é ser feliz. Então vá atrás, porque absolutamente ninguém vai fazê-lo por você.”
“Quando conseguir alcançar o tal sonho, lembre a cada segundo que você vai morrer, e não vai demorar muito. Pois só assim você vai olhar pra trás nos momentos finais e poder dizer que fez tudo que queria fazer. Sem remorsos, ressentimentos ou culpa por não ter feito nada quando e enquanto podia.”

Já o Bruno Padilha tem 22 anos, mora em Campinas e é um dos caras mais criativos e espertos que conheço.

Está explicado o “esperto”, concordam?

Filho…

“Nunca tenha vergonha de pedir desculpa, ou de admitir que errou. Muito pelo contrário, faça isso sempre que achar que deveria.”
“Seja compreensivo consigo mesmo e com os outros.”
“Tenha fé na vida, o universo sempre proverá.”
“Quando tiver medo, não se feche. Encare seus problemas de peito aberto.”
“Não tenha medo disso, mas saiba que você vai morrer.”

Esse lance de escrever os conselhos e torná-los mais palpáveis tornou mais clara pra mim uma forma de me manter sempre alinhado com minhas próprias convicções. Meus próprios conselhos traduzem meus valores, por isso eles servem como lembretes diários também para mim. Um pouco paradoxal, talvez, mas uma maneira que eu encontrei – e recomendo – pra começar e terminar todos os dias com uma postura fiel aos meus valores.

Fica o convite. Juntem-se à roda, abram uma gelada, e compartilhem conosco os conselhos que dariam pro filho ou caso ele já tenha dado boas vindas ao mundo, quais você já deu. A nova geração de brasileiros agradece.

Breno Spadotto

(Quase) publicitário e apaixonado pelo comportamento humano. Acredita que as coisas só vão para frente se a causa for abraçada: Take your risks