Convido você a usar a seguinte entrevista da revista Caras com Marco Scabia, ex-marido de Daniela Mercury, para um experimento mental bem simples.
Tente reconhecer quais outras vozes internas e joguinhos já surgiram e surgem frequentemente em sua vida com uma fala e uma atitude bem similar à dessa repórter. Não apenas no contexto de traição ou abandono, mas em relação a qualquer experiência que podemos atravessar com um pouco de sabedoria ou nos perder em meio a ataques, joguinhos, aflições, visões restritas.
– Você foi pego de surpresa?
– Não, eu sabia. Daniela e eu sempre nos falamos tudo. Por isso, entre nós dois jamais haveria surpresas… Por outro lado, acredito que fui o primeiro a saber. E, conhecendo a personalidade determinada de Daniela, vejo isto como um passo normal.
– Então, não há mágoas de sua parte?
– Nenhuma. Antes de casarmos, Daniela e eu fomos amigos e agora voltamos a ser amigos. Não vejo motivo para me sentir magoado.
– Muitos homens poderiam se sentir traídos. Digamos, duplamente traídos.
– Não é o meu caso, até porque, com a Malu, Daniela começou o relacionamento quando nós dois já estávamos separados… Não houve traição.
– Também não foi uma revanche de Daniela por você ser um homem muito assediado? Talvez você, alguma vez, tenha cedido a esse assédio?
– Não, nada disso! Nem eu a traí nem ela me traiu. Nosso relacionamento acabou pelo desgaste típico de qualquer casal, pelo passar do tempo e porque sempre houve um fator que incomodou um pouco os dois: o lugar onde morar. Ela nunca se adaptou a São Paulo, Daniela é muito baiana. E, fora isso, sempre está com shows, indo daqui para lá…
– E você, Marco, nunca pensou em se mudar para a Bahia?
– Cheguei a cogitar isso, mas percebi que todos os meus negócios estão em São Paulo, que passaria a depender dela e esse não é o meu estilo. Levei vinte anos ‘semeando’ em São Paulo… Mas isso incomodava e só, claro que não foi decisivo. Decisivo mesmo foi o desgaste natural.
– Você conhecia Malu, o novo amor de Daniela?
– Conhecia socialmente. Ela estava junto com a Fabiana Crato, assessora de Daniela, e, portanto, vez ou outra eu a via, mas não com muita frequência e sem nenhuma intimidade.
– Gosta que Malu seja a esposa de sua ex-mulher?
– Se Daniela a ama, eu nem preciso ter opinião a esse respeito…
– Mas a Malu vai passar bastante tempo com as suas filhas. Isso o agrada ou existe alguma objeção a esse respeito?
– Olha, Daniela é sensível e inteligente demais. Se ela escolheu a Malu, é porque ela tem todas as condições para integrar o núcleo familiar, ajudar a criar as nossas filhas, que hoje são o nosso maior interesse, como sempre foi. Eu avalio a Malu pela escolha da Daniela, pois não poderia emitir opinião por mim mesmo, porque, como já disse, nunca tive mais proximidade do que a eventual de alguma festa, lançamento, show…
– Daniela já disse que foi avisando a cada um da família e aos amigos mais próximos. A pergunta é: com as suas três filhas, quem falou? Ou vocês falaram juntos?
– Primeiro, devo dizer, que, aos poucos, as meninas foram sabendo, por pequenos gestos nossos, falas, aquelas coisas que criam clima, como quando da separação. Mas, na hora ‘H’, quem sentou e falou com elas foi Daniela. Ela é muito determinada e sabe como e quando falar. E com as nossas filhas tudo está bem, elas entenderam direitinho.
– E as meninas, ficaram com quem?
– No fim do ano elas se mudaram para a Bahia; deixaram São Paulo e foram para Salvador. O que demonstra que nada surgiu de um dia para outro. Eu vou todo final de semana, viajo sempre. Às vezes, pode haver um final de semana que, por conta de coisas de trabalho, eu não consigo ir, mas, no seguinte, não deixo de ir nem que o mundo caia.
– Então, durante a semana, as filhas são responsabilidade de Daniela e nos fins de semana você toma conta delas? É isso, meio a meio?
– Seria injusto falar meio a meio, porque ela cuida delas durante cinco dias e eu, dois. A maior responsabilidade é da Daniela. O peso maior ela carrega nas costas, mas para ela não é peso: ela ama as nossas filhas!
– E economicamente, as contas vão para qual domicílio, o seu ou o de Daniela?
– Também dividimos. Escola, seguro saúde, tudo… O que se deve entender é que esta foi uma separação na boa e como qualquer outra. E que, se alguém ficou com mais trabalho por causa da separação, foi Daniela. Eu não sou vítima.
– Alguma das meninas falou alguma coisa em particular, seja a favor dos comentários ou contra? Os coleguinhas esta semana comentaram coisas com elas, as incomodaram?
– Nenhuma delas comentou nada, pois elas amam Daniela. E, pelo que infiro, na escola foi tudo foi bem, nada aconteceu porque conversamos diariamente e garanto que não houve comentário algum a respeito disso.
– Esta semana você foi alvo de comentários, piadas, alguma coisa nesse sentido por parte dos amigos?
– Não, nenhuma: tenho bons amigos, que entendem as coisas.
– Se Daniela houvesse dito agora que estava em um relacionamento com outro homem, para você teria sido melhor, pior ou indiferente?
– Para mim, seria a mesma coisa, nada mudaria. Só desejo que, em cada escolha da Daniela, ela não apenas acerte, mas no dia seguinte seja ainda mais feliz que no anterior, quando tomou a decisão…
– Ou seja, tudo está bem e normal na sua vida?
– Sim, perfeitamente. E não haveria motivo para que fosse diferente. Daniela fez as coisas direitinho, de acordo com as suas convicções.
– Então, você, em momento algum, nem como ex-marido nem como pai de três filhas com ela nem como “homem” — com aspas por motivos óbvios —, condena o novo relacionamento? E também não condena a divulgação da nova boda dela pela internet, que a tornou mundialmente pública?
– Eu, condenar? Nãoooo!!! Estou muito feliz, porque sei que ela está sendo feliz e é isso o que importa para mim. A mamãe de minhas filhas hoje voltou a ser feliz; o que mais eu poderia querer? Ela sempre foi uma grande mãe, mas não duvido que agora, feliz, vai ser melhor mãe ainda, se é que isso é possível…
– Para encerrar: nada, nada, nem um mínimo de mágoa?
– Nada mesmo, ao contrário.
E aí? Localizou alguma repórter da Caras sutil surgindo por aí de vez em quando? Aqui encontrei várias.
Talvez, por vivermos com essa atitude interior — que prontamente valida e justifica mágoas, conflitos, sofrimentos, vinganças silenciosas, ofensas, exclusões, fofocas, desistências, preconceitos ao menor gatilho emocional — a gente não saiba direito reconhecer nem validar ou mesmo admirar quando encontramos visões de sabedoria, de destemor, de compaixão e equanimidade, de serenidade. Caso contrário, não aceitaríamos nem reproduziríamos tantas besteiras por aí.
Talvez, talvez, a nossa mente normal aparentemente saudável possa ser radicalmente transformada em “corações e mentes extraordinários”. E isso seja humano — não sobrenatural, não místico. Mais humano até do que nós.
Acho muito útil pegar coisas pelas quais sentiríamos repulsa (como se aquilo não nos pertencesse) e aproveitar para reconhecer tais obstáculos em nós. É um jeito de não pessoalizar ou apontar erros, enxergando a repórter junto comigo, não lá longe. Homo sum; humani nil a me alienum puto.
O experimentou funcionou com você também?
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