Fala-se muito da obrigação de ser bem informado, de estar antenado, de seguir o noticiário.
Mas… por quê?
Eu sou o jornal da minha mãe
Ontem, passei o dia com a minha mãe.
Ela queria muito conversar comigo sobre as últimas notícias, que eu utilizasse minha “borbulhante cultura” para lhe explicar o mundo. Quando eu disse (como sempre digo) que não sabia nada de nada, ela não acreditou. Me acusou até de estar mentindo por preguiça de explicar:
Que feio um filho que nem conta as coisas pra própria mãe! Te carreguei nove meses, engordei vinte quilos, etc.
“Ai Alex, por que você é sempre do contra, hein?”
Qual é o benefício prático de acompanhar, digamos, os acontecimentos da Líbia? Por que isso é bom? Por que é desejável? Por que eu deveria investir nisso meu tempo e meu dinheiro – que teriam que sair de outras atividades, pois ambos são recursos finitos?
Possuir essas informações me tornaria uma pessoa melhor, mais humana, mais aberta, mais generosa, mais digna? Não existe um certo frenesi aquisitivo nessa obssessão de acumular mais e mais fatos?
As respostas são sempre tautológicas:
Se informar é bom porque é bom, ué. Temos que saber o que está acontecendo no mundo porque é importante! Claro!
E eu pergunto:
Como sua esposa toma café? Que dias o lixeiro passa na sua rua? Qual é a flor preferida da sua mãe? Em quem você votou pra vereador na última eleição? Como seu avô e sua avó se conheceram?
Não faltou assunto
Sobre o quê minha mãe e eu conversamos?
Sobre o acidente no bondinho de Santa Teresa, sobre o escravo cubano cuja autobiografia eu estou traduzindo, sobre as obras no meu apartamento, sobre os moradores de rua do Flamengo, sobre as grades da Praça Tiradentes.
Quais são suas prioridades?
Existe algo de seriamente errado em uma cultura que vende como fundamental a necessidade de saber o nome do presidente da França mas não do porteiro do prédio.
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