A antropóloga Débora Diniz analisou 25 livros de ensino religioso mais usados pelas escolas públicas do país e apresentou o estudo no livro Laicidade: O Ensino Religioso no Brasil, lançado ontem, na UnB.

Todo mundo já sabia que esses livros estimulam preconceito, cegueira e intolerância, mas é ótimo termos essa comprovação.

O que se ensina às crianças? Que ateu é quase nazista, que homossexualidade é doença, desvio, coisa não natural, que o catolicismo é a grande verdade e que as outras religiões não tem tanta importância:

“A imagem de Jesus Cristo aparece 80 vezes mais do que a de uma liderança indígena no campo religioso – limitada a uma referência anônima e sem biografia –, 12 vezes mais que o líder budista Dalai Lama e ainda conta com um espaço 20 vezes maior que Lutero, referência intelectual para o Protestantismo (Calvino nem mesmo é citado).” –João Campos, UnB Agência

Ora, o que mais se espera de editoras cristãs? Pra complicar, o governo controla e avalia todos os livros didáticos, exceto os religiosos. Perfeito.

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Pois é, o tal Dalai Lama, ignorado nos livros didáticos católicos, é o cara que viaja o mundo dizendo para as pessoas manterem suas religiões (não se converterem ao budismo por modinha), para os ateus se manterem ateus, para os cientistas serem ainda mais céticos, para os religiosos dialogarem com a ciência, usarem o método científico para estudar a mente e para todos cultivarem qualidades positivas e valores humanos sem depender de crença alguma, por puro bom senso, por humanidade compartilhada.

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Se queremos crianças mais humanas, talvez seja melhor não tocar em religião atualmente. Em vez de “caridade cristã”, melhor falar em “generosidade”. Em vez de vincular nossas melhores qualidades a Jesus Cristo, podemos ensinar como cultivá-las na vida cotidiana e aprender a vinculá-las a nós mesmos e aos outros. Depois, com o tempo, todos verão como esses valores estão presentes no cristianismo mais profundo, o que é muito diferente do que enfiar garganta abaixo um cristianismo meia-boca.

Se é para usarmos algum livro religioso, que seja escolhido um que não se oponha a ciência, que valorize outras religiões e que proponha um caminho de experiência, não de crença. Se Sua Santidade o Dalai Lama é um pulo muito grande, fiquemos então com Thomas Merton.

Fonte: UnB.

Gustavo Gitti

Professor de <a>TaKeTiNa</a>