A gente viu lá no Judão essa parada aqui.
Brian Michael Bendis é um roteirista da Marvel e, atualmente, escreve para a revista All-New X-Men. O cara que escreve pra Casa das ideias mantém um tumblr e, lá, ele acaba respondendo a perguntas feitas pelos fãs, dentre outras coisas. Pois bem.
Por esses dias, um leitor anônimo foi questioná-lo sobre sua preferência de dar destaque à personagens femininas na revista, em “detrimento” aos protagonistas clássicos — masculinos — do grupo de mutantes. Com isso, o leitor quis indicar que o roteirista estava estragando as histórias que deveriam ter como destaque os personagens masculinos, já que, na sua concepção, a revista era majoritariamente para homens e que isso — dar destaque para mulheres nas histórias dos X-Men — seria uma manobra para atrair mais meninas para ler as revistinhas em quadrinhos.
Aquele velho papo de “azul é de menino e rosa é de menina”. Segue, abaixo, a pergunta do leitor e a resposta brilhante do roteirista (com o comentário do Renan, autor do post lá no Judão:
“Eu entendo que vocês têm tem que fazer os quadrinhos amigáveis para as meninas, mas vocês não estão preocupado em perder sua principal audiência, que é masculina? Nas publicações dos mutantes vocês tem focado mais em mulheres como Jean e Kitty, enquanto o Ciclope foi o astro dos gibis dos X-Men por anos. O que garante a estas personagens mais páginas do que a ele? Jean e Kitty são personagens secundários. Vocês ficam ouvindo muito os mimimis das mulheres. Elas estão causando todo esse drama no mundo dos quadrinhos”.
Eu, sinceramente, mandaria ele ler a Saga da Fênix Negra, para ver o quanto a “Jean é personagem secundária”, e Dias de um Futuro Esquecido, para fazer o mesmo pela Kitty Pryde. Ou ignoraria e pronto. Só que Bendis, que atualmente é o roteirista de All-New X-Men, foi genial na resposta.
“Uau. Você é a primeira pessoa que eu fico aliviado por ter perguntado como anônimo, porque eu não quero te conhecer.
Como um leitor do meu trabalho, eu quero que você me ouça com atenção: você tem grandes, grandes problemas. Quase todas as linhas da sua pergunta cheia a uma incompleta incompreensão sobre você como homem e sobre as mulheres em geral.Tudo bem você se interessar mais em um personagem do que em outros. Quer dizer, tudo bem você gostar mais do Ciclope do que da Jean Grey, mas você sugerir que as personagens femininas não são interessantes porque você é homem ou porque você acredita que eu estou sendo manipulado por reclamações das mulheres é algo fora da realidade.
E, como um leitor dos X-Men, que tem como filosofia a tolerância e o entendimento… Você perdeu o ponto”.
Mais do que nunca, os X-Men são sobre preconceitos. Ok, são homens e mulheres com superpoderes que salvam o mundo, mas também uma grande alegoria para o sofrimento das minorias. Diversas vezes os gibis da equipe serviram para entender o mundo no qual os leitores estavam inseridos.
Vale lembrar do teste Bechdel
O Teste Bechdel tem como objetivo chamar atenção para o fato de grande parte da produção cultural contemporânea ser feita por homens, para homens, sobre homens. Para passar no teste, a obra precisa somente atender um requisito aparentemente simples:
Existem duas ou mais personagens femininas que conversam entre si sobre um assunto que não seja homem?
O teste não mede a qualidade nem o “feminismo” de um filme. O fato de um filme passar no teste não quer dizer que seja feminista, politicamente correto, ou mesmo bom. O fato de não passar não quer dizer que seja machista, ou ruim.
O problema não são esses filmes individualmente. O problema é a gigantesca maioria dos filmes serem assim.
Outras personagens femininas que arrebentaram por aí
Isso chutando baixo aqui, lembrando algumas de cabeça. Tem muito mais por aí e queria até pedir ajuda nos comentários pra lembrar de mais personagens femininas que chutariam muito mais bundas e seriam tão interessantes do que personagens masculinos.
Tá valendo.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.