O momento em São Paulo, assim como no País, quiçá no mundo todo, não é de toda alegria. Política e revoluções sociais em ebulição, mas, sem esquerdismos ou direitismos, somos um povo festivo e isso conta muito para seguirmos a vida em meio a tantas questões.

Entendida a seriedade do momento e a necessidade da celebração, estou, sim, curtindo o carnaval de São Paulo. E espero que todos que ficaram por aqui estejam também. E a festa não é aquela dos desfiles no Anhembi, mas a da rua! 

Pé no chão, pé no asfalto (Foto: espacohumus.com)

Ela, que é tão democrática e, pelo menos por onde passei, parece que está com uma cara bem boa mesmo. Claro que encontrei cenas mais tensas de bagunça e não de alegria. Mas quero falar da alegria.

Estive em alguns desfiles de blocos de rua que, diga-se de passagem, foram muitos este ano e todos com um toque de criatividade a serem levados em consideração. 

E fui bem feliz. 

Tem o Bloco Socialista, Me Fode Que Eu sou Produção, Jegue Elétrico e até os mais tradicionais, como o Acadêmicos do Baixo Augusta, estão agitando os foliões.

A rua se apresenta tão democrática que resolvi compartilhar essa experiência por aqui. E ocupar a rua para festejar tem me parecido uma constante em São Paulo também. Temos a tradição da Virada Cultural; este ano o aniversário da cidade foi comemorado com palcos espalhados pela região central; e agora o Carnaval. Na “leste”, como carinhosamente é chamada uma de nossas periferias por seus moradores, o carnaval também parece estar renascendo.

Acadêmicos do Baixo Augusta (Foto: G1)

Ouvi de uma amiga que mora em Cidade Líder, extremo leste paulistano, que há mais de dez anos uma escola local do bairro não saía à rua para sambar e este ano… pimba!, lá estavam eles. Segundo ela, o mais legal foi ver gente de todo tipo, crianças, adultos, senhoras, religiosos, corintianos e palmeirenses, se divertindo juntos no bairro onde cresceram e vivem.

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Este é o conceito de conviver em sociedade, além das dificuldades em respeitar o espaço do outro. É sabermos que somos da mesma rua, do mesmo bairro e, em alguns momentos, faz parte transbordar alegria e festejar juntos.

Voltando ao centro que, para mim, é um espaço subestimado em São Paulo, também tenho visto gente de todo jeito, estilo e grau de alegria. Os moradores de rua, importante lembrar deles, afinal o bloco “invade suas casas”, aproveitam para se divertir um pouco. Somos todos filhos de deus, não?

Bloco da Nega Zilda, na Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade, há 35 quilômetros da praça da Sé, marco zero da capital (Foto: Catraca Livre)

Reforço que não quero ser hipócrita. Conheço todos os problemas da cidade, mas também acho que é possível se divertir. Falo isso, inclusive, porque vi muita gente recolhendo seu próprio lixo, procurando um banheiro para não fazer na rua e por aí vai.

Esse é o espírito de festa que temos que aproveitar. É um aprendizado para os paulistanos, que corremos todos os dias, pegamos trânsito, vemos enchente, não temos água: divertir-se na sua cidade. Afinal, temos grupos empenhados em nos proporcionar isso. Obrigado organizadores de blocos! O mais importante sempre é seguir aquela premissa básica universal: respeitar o outro, seja esse um folião ao seu lado, a rua, o espaço público, enfim, o outro, que é tudo que nos cerca.

Viva o Carnaval! 

Danilo Gonçalves

Um cara alegre e gosta de ser lembrado assim. Jornalista de formação, com um pé na publicidade, gosta de Novos Baianos, Doces Bárbaros e Beatles. Já gostou de Calypso e como todo gay que se preze, é fã da Beyonce.