Era tudo o que a educação escolar brasileira precisava. Um bando de americanos com um cronômetro em mãos no fundo das salas de aula de 400 escolas públicas, em Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Ideia de quem? Do Banco Mundial.
Os americanos até filmam as aulas, como se medir o desperdício de tempo (entre chamada e tentativas de disciplinar os alunos) fosse contribuir para melhorar a qualidade de nossa educação. Ora, perda de tempo mesmo é mobilizar pessoas para essa avaliação, criar uma tensão desnecessária com os professores e não chegar a lugar algum.
Mas o absurdo não para por aí. A revista Veja dessa semana apoia totalmente o método, citando uma “especialista” (em que mesmo?), um pedagogo americano e a secretária de educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin:
“Pode-se dizer que o cruzamento das avaliações oficiais com um panorama tão detalhado da sala de aula revelará nossas fragilidades como nunca antes.”
A matéria afirma que estão sendo coletadas “informações valiosas” e trata a revolta dos professores como “manifestação de corporativismo”. Eis a conclusão de Veja (assinada por Roberta de Abreu Lima):
“Nesse sentido, os cronômetros são um necessário passo para o Brasil deixar a zona do mau ensino.”
Não é possível que alguém escreva isso. Sério. Ela deve ter se confundido e passou, como um erro de ortografia. Investir em formação de professores é besteira, né? Melhor chamar americanos com métodos (escolha entra “avançados” ou “ridículos”) baseados em um cronômetro.
Eu fiz Pedagogia na USP, onde seria um dos melhores locais para se pensar a educação no Brasil. E minha conclusão é simples: a saída para a educação não está nas escolas. Mas isso é tema para outro post.
Fontes: Veja e Diário de Pernambuco.
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