Sugiro um teste bem simples para sabermos se estamos agindo com algum nível de liberdade, sem tantas perturbações cognitivas e emocionais, durante os momentos em que decidimos terminar um namoro, mudar de empresa, seguir na empresa, comprar algo, cancelar um encontro, enfim, qualquer tipo de ação significativa.
1) Verifique se surgem vozes internas, panos de fundo, perfumes, paisagens ou mesmo se você se flagra soltando explicitamente os seguintes pensamentos: “Eu preciso fazer isso”, “Não dá mais para esperar”, “Não há outra opção”.
2) Imagine você seguindo por outro caminho. Sinta se você fica confortável e tranquilo ou se tal possibilidade o aflige só de trazer à mente.
Minha hipótese é simples: decisões motivadas pela sensação de ausência de opção, necessidade e urgência, raramente são por liberdade; enquanto que movimentos que levam o selo “Eu poderia tranquilamente fazer outra coisa” são frequentemente iniciados de modo livre.
Não é um teste fácil de se fazer.
Você está lá prestes a pedir sua namorada em casamento e aí tenta imaginar se separando dela, seguindo a vida, bem, tranquilo. E então descobre que não está agindo exatamente por liberdade. Como seria pedir em casamento por liberdade?
Você está lá prestes a sair da empresa estressante e aí detecta todas as sensações juntas: urgência, necessidade e ausência de opção. E então descobre que não está agindo exatamente por liberdade. Como seria sair da empresa por liberdade? Será que faríamos algo antes ou faríamos algo diferente, com menos pressa e aflição? Como seria seguir na empresa por liberdade? Será que mudaríamos algo internamente?
Você está lá, certo de que não dá mais, depois dessa traição é o fim, você precisa logo encontrar com ela para ouvir explicações e entender tudo o que ocorreu, detalhe por detalhe, como isso pode acontecer. E então descobre que não está agindo exatamente por liberdade. Como seria seguir a relação por liberdade? Como seria lidar com a situação por liberdade? Como seria terminar o namoro (não a relação, que sempre segue) por liberdade?
Talvez seja por isso que a ação mais sábia e compassiva aumente as possibilidades, nossas e dos outros, aumente o espaço de liberdade, ou, como definiu Heinz von Foerster em seu imperativo ético: “Aja sempre de modo a aumentar o número de escolhas”.
Há outros jeitos mais sofisticados de investigar se estamos livres ou não, mas em geral eles são mais exigentes, raising the bar, com um critério de liberdade mais preciso. Por meio deles eu aposto que vamos descobrir que não temos uma mente; é nossa mente que nos têm. E que, sim, é inacreditável, mas, sim, existem métodos de enfim ter uma mente a nosso serviço, a serviço de ações que sejam saudáveis para nós e para os outros, ampliando nossa liberdade e a dos outros, a cada passo.
Seguimos o papo nos comentários. Abração!
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