Tá certo que o povo do Congo, antigo Zaire, não precisava de muita ajuda para piorar sua situação. Foram longos anos batalhando contra tiranos cleptomaníacos e milícias psicopatas até que, em 2010, um grupo ativista decidiu ajudar fazendo pressão para bloquear a compra de minerais oriundos de áreas de conflito.

A ideia até que era boa. Por meio de lobby, eles aprovaram uma lei obrigando fabricantes a garantir que seus componentes não contêm materiais financiados por genocidas, encrenqueiros e outros tipos de africanos congoleses. É, a lei especifica o país. Veja mais aqui.

Até aí, tudo parecia lindo, claro. Só que na prática a coisa não funcionou assim. Como hoje em dia é cool que as empresas sejam socialmente responsáveis, pouca gente quer comprar materiais com alguma chance de terem financiado conflitos. Principalmente se há vários fornecedores dos mesmos materiais.

Assim, compradores internacionais simplesmente deixaram de lado os fornecedores congoleses e a cotação dentro do país despencou, fazendo com que uma das atividades mais rentáveis da humanidade não desse mais lucro. Pelo menos não tanto lucro.

Quem sobrou comprando no país foram principalmente os chineses, cujos dirigentes estão honestamente pouco ligando para conflitos morais, éticos ou religiosos (contanto que não se envolva seu quintal), e ainda curtem imensamente o fato de poderem adquirir quantidades monstruosas de minérios a preço de banana. Sim, eles compram tudo com um desconto violento.

Os mais afetados, claro, são os pequenos mineiradores. Falamos daquele tipo que vai peneirar o rio com os 15 filhos enquanto ainda não está na hora de colher a safra. Essas pessoas estão passando fome hoje porque os únicos compradores também estão com dificuldade de escoar a produção.

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Os únicos que se deram bem com a história foram os Senhores da Guerra, que têm condições de comprar minérios baratinho no mercado local e contrabandear para o exterior sem serem incomodados.

A parte irônica é que essa lei na verdade é um puxadinho inserido num contexto maior para combater a má gestão financeira. Apesar de pedidos da comunidade congolesa, os lobistas por trás desta gambiarra mantiveram seus corações puros e foram em frente para salvá-los do maldito dinheiro que move o mundo.

Pessoalmente, essa história me lembra muito aquele ranço de cancelamento da dívida de países pobres. Quem emprestaria dinheiro para alguém que precisa ter sua dívida cancelada? Só agiotas, claro.

É por coisas como essas que o inferno estaria cheio dessas pessoas bem intencionadas, caso ele existisse.

Daniel Bender

Jornalista, Diretor de E-commerce e Caçador de Descontos no <a>1001 Cupom de Descontos</a>. Sempre disponível para conversar no boteco. "