Não é novidade que a economia brasileira está eufórica com a proximidade dos grandes eventos esportivos. Cada um a sua maneira, os setores vem se preparando para garantir sua golada na enxurrada de dinheiro que aportará no país. Nessa euforia, o setor de serviços rouba os holofotes. Principalmente, as atividades de hotelaria e transporte. Especialmente, o transporte aéreo.

O plano de voar parecia ser bem mais simples

De uns dez anos para cá, voar de avião deixou de ser uma coqueluche para poucos. A adoção do regime de metas de inflação coincidiu com a entrada no país do paradigma de aviação de baixo custo. Com o poder de compra mais ou menos perene, mais brasileiros puderam cruzar os céus por mais vezes. De 2001 para cá, o crescimento sustentado da demanda na casa dos 12% ao ano (em média três vezes o crescimento do PIB) ilustra bem esse fenômeno.

Concentrar para sobreviver

Nesse cenário, a tendência seria a manutenção das receitas por meio de uma equalização da oferta, uma vez que o transporte aéreo brasileiro é sobremaneira oligopolizado. Só que uma pedra no trem de pouso das companhias atrapalhou a decolagem rumo ao infinito. Na verdade não foi só uma, mas pelo menos três: a quebradeira financeira de 2008, a primavera dos povos árabes e o colapso fiscal americano e europeu. Sem falar, claro, no inconveniente e intermitente vulcão Puyehue.

Diversos analistas de crédito se questionam se compensa manter mais de uma empresa nos mercados aéreos domésticos. De fato, essa é a opinião de Nawal Taneja. Em seminário ocorrido no mês de maio na cidade de São José dos Campos, o pesquisador da Universidade de Ohio apontou que houve uma tendência histórica de concentração da indústria aérea na América Latina.

E mesmo que muitas companhias locais deixaram de existir, ainda há espaço para mais consolidação. É o caso da recente aquisição da Webjet pela GOL e da parruda fusão entre TAM e LAN Chile.

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A vulnerabilidade à turbulências no cenário econômico internacional e os altos custos operacionais são as principais coordenadas dessas análises e movimentos. Existem diversos corretores e operadores do mercado financeiro que se recusam a comprar papéis de companhias aéreas.

“Decola sim, pô! Só empurrar aqui e fazer uma chupeta. Tão trazendo os cabos já”

Não só pelos riscos conjunturais de prejuízos, mas também pela reduzida margem de lucro operada pelas empresas. Margem essa que tende a se deteriorar ainda mais em 2012. Segundo dados da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA), no próximo ano a margem líquida média mundial deve ficar em modestos 0,8%. Valor não muito distante do rendimento da poupança no Brasil.

A concentração do mercado brasileiro acaba mais atrapalhando do que ajudando a lucratividade das companhias. Com os custos altos, sensíveis a um dólar oscilante e a um preço do petróleo sem direção definida, as líderes de mercado acabam por se degladiar em uma desavergonhada guerra de tarifas. Melhor para o consumidor, óbvio, mas que pode custar algumas dezenas de milhares de emprego caso a guerra se agrave. No mercado acionário, isso se reflete em especulação e grande volatilidade dos papéis das principais companhias brasileiras.

A saída pode estar no chão

Por outro lado, o incômodo causado pelo perrengue de infraestrutura aeroportuária pode ser uma saída rentável para as empresas aéreas. O consórcio e a participação na construção de aeródromos no interior brasileiro pode ser uma alternativa para a geração de receitas domésticas auxiliares que aliviem um pouco as oscilações cambiais. Para que as nossas bravas empresas não tenham de chegar a esse ponto:

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Flaco Marques

Rapaz do interior de SP que vive suas desventuras na cidade grande. Poliglota valente, busca equilibrar o jeito cosmopolita de ser com a simplicidade caipira de viver.