Hoje podemos escolher os ingredientes, os processos, as técnicas, qual comida serviremos junto, o local onde beberemos e até os amigos que brindarão.
Enfim a cerveja volta ao seu posto de bebida importante para uma sociedade curiosa e não uma sociedade que quer esquecer os problemas. A cerveja é muito mais do que o bar de sexta ou o churrasco de sábado. Muito mais do que fuga, ela sempre foi um ponto de evolução.
A cerveja ainda não está em seu apogeu. Conseguimos colocá-la em uma posição de destaque, consumida no mesmo patamar de outras bebidas que se mostram importantes de acordo com a cultura e localização do povo. Se formos pensar na questão histórica, a nossa bebida dourada salvou vidas séculos atrás e, há milênios, carregou todo um conceito nas sociedades e revolucionou a maneira como nos comportamos.
O que está em alta nos agora é a qualidade que podemos oferecer ao sabor, textura, composição. Hoje, a cultura enraizada nela é que nos causa experiência e conhecimento.
E a nossa história está contada
As cervejas chegaram ao Brasil com a família real em 1808 e nunca mais foram embora. De lá para cá, muita gente produziu a bebida de modo artesanal, mas nunca com o papel assumido hoje, não com esse pensamento de qualidade e importância. Por isso não há um “ressurgimento” das cervejas artesanais, mas o nascimento delas com esse novo conceito.
A Cervejaria Canoinhense é provavelmente a mais antiga microcervejaria artesanal do Brasil, fundada em 1908 em Santa Catarina e funciona até hoje, mesmo depois da morte de Rupprecht Loeffler em 2011. Ele trabalhava desde 1924 na fábrica que foi fundada por seu pai.
Depois, de forma tímida e descontínua, tivemos algumas microcervejarias no Brasil, abrindo, fechando ou sendo compradas por outras marcas que cresceram no mercado.
Só em 1993 é que temos um maior número de fábricas aparecendo no cenário (algumas delas atuam até hoje no mercado). O Fritz, em Sumaré, a Dado Bier (Porto Alegre) e a Cervejaria Colorado (que primeiro abriu como brewpub), seguidas (em 1995) pela Krug Bier de Belo Horizonte, pela Cevada Pura (Piracicaba, em 1997), a Baden Baden (Campos do Jordão, em 1998), a Wals (Belo Horizonte, 1999), a Amazon Beer (Belém, 2000) e a coisa foi só aumentando. Não paramos nunca mais de crescer, com cerca de 300 microcervejarias no país.
Ainda não é fácil produzir artesanalmente no Brasil
O mercado brasileiro não é fácil para quem fabrica cerveja. Além de ser alto o custo para abertura de uma pequena fábrica, os ingredientes da cerveja são outro gargalo. Como já vimos no outro texto, existem 4 ingredientes básicos para se fabricar cerveja.
A água, que não anda tão abundante assim como estamos acompanhando pelo noticiário. O malte, ingrediente super importante para a qualidade da cerveja, mas que ainda é pouco fabricado no país nos moldes que precisamos. Até 2005 tínhamos uma variedade muito pequena do produto para ser comprado pelas pequenas fábricas, o que sempre limitou também a diversidade de estilos produzidos. O Brasil fabrica malte Pilsen, as grandes maltarias (que transformam o cereal em malte) estão em países da Europa e Estados Unidos e é delas que veem os maltes especiais com torras diferentes.
O lúpulo, que é o “tempero” da cerveja, não é plantado no Brasil por não termos o clima propício para isso, então temos que importar 100% do que utilizamos. E, por fim, as leveduras, que até pouco tempo atrás era somente importada e hoje temos uma empresa que fornece as danadas brasileiras também.
O que temos no país (que outros lugares não têm na diversidade que temos) são os adjuntos: frutas, flores, madeiras e a diversidade da natureza. Este é o nosso trunfo e muitos empresários já enxergam isso, tanto que podemos ver que os rótulos que estão pipocando são cheios de criatividade e brasilidade.
Mas as dificuldades não param por aí. Comprar garrafas de vidro para a cerveja, além de caro, é bastante trabalhoso. Algumas cervejarias importam, outras tem uma fabricação exclusiva de seu modelo e outras ainda sofrem para conseguir o produto básico com a alta demanda do mercado. O Brasil é o terceiro maior produtor de cervejas do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Segundo a Mintel, empresa britânica de pesquisas relacionadas a bebidas, o crescimento do setor de especiais no Brasil foi de 36% nos últimos 3 anos e o setor de cervejas em geral deve crescer até 54% até 2019.
Se não fossem as altas taxas, os impostos retrógrados e políticos desinformados, o país talvez tivesse uma estrutura melhor para gerar empregos e mercado de forma mais abrangente e fundamentada. Para isso, o país precisa estar sempre atento em como atender a demanda que cresce de todos os lados. O setor se ramifica e cresce desde a matéria-prima até as geladeiras que se enchem e esvaziam nos pontos de venda. O que está bom poderia estar maravilhosamente melhor. Altos custos e as cervejas aqui custam muito mais caro do que as de lá fora. Este é o “custo Brasil” que incide sobre os produtos.
Mas ainda estamos bem
A ajuda vem com essa nova onda de “gastronomização” (me recuso a escrever gourmetização!!). O consumidor está mais exigente e buscando rótulos com melhores ingredientes, estudando as composições do que vão na bebida que ele ingere, evitando cada vez mais as produções que privilegiam o gosto duvidoso em prol da produção em larga escala e cheias de composições químicas malucas.
Esse novo conhecimento gerou novos esforços do comércio para atender cada dia melhor o consumidor. Hoje o que não faltam são cursos de especialização em vários moldes, preços e conteúdo.
As cervejas artesanais estão por aí. Comprá-las hoje é relativamente fácil e a tecnologia tem nos ajudado bastante também. Lojas online aos montes, clubes de cerveja que entregam na sua casa, os empórios e os supermercados já estão modificando suas prateleiras, antes cheias de cervejas iguais. Existem até mesmo as lojas exclusivas de cervejas, preocupadas em dar diversidade de escolha, com suas prateleiras cheias de rótulos coloridos e em diversas línguas e valores.
Os bares aos poucos se enchem de torneiras com líquidos coloridos e cheios de aromas e sabores e copos divertidos. Os restaurantes, ainda tímidos, quem sabe um dia perceberão que a cerveja também é gastronomia e seus cardápios serão ainda mais cheios de sabor. As próprias fábricas de cerveja são ótimas para se conhecer o processo e provar “direto da teta da vaca” o líquido tão antigo e famoso! Várias cervejarias abrem suas portas para receber esse turismo etílico! E ainda melhor, os eventos cervejeiros que crescem a cada dia no país, unem as pessoas pela bebida, mas fazem mais do que isso, dão boa música, boa comida e aquele papo super descontraído com pessoas que buscam o mesmo que você brindar a vida, a busca pelo desenvolvimento.
O Brasil está caminhando, mesmo que a passos mais lentos, isso sempre foi o que a cerveja fez por nós como sociedade, ela nos faz transpor as dificuldades, por que no fim é assim que se vive!
Saúde!
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.