“Porra, mas a única coisa de legal que a gente tinha na vida… e vem os caras lá e querem falar que faz bem e tirar o pouco de transgressor que ainda temos!”.

Foi um desabafo parecido com esse que um amigo me indagou antes de eu viajar à Bruxelas para a 7ª edição do Simpósio Internacional de Cerveja e Saúde (Beer & Health), momento em que vários pesquisadores e estudiosos se reúnem para trocar apresentações e experiências com novas descobertas dos benefícios que a cerveja pode trazer.

O convite nos foi feito pelo pessoal da Sociedade da Cerveja e, como recrutado da casa, lá fui eu — o cara que não bebe no PapodeHomem — justamente para ser convencido (se é que havia verdadeira necessidade para tal) que o consumo moderado de cerveja poderia ser benéfico para a saúde.

Tomar cerveja faz bem

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Doutores e intelectuais já pós-doutorados juntos e ouvindo especialistas da Alemanha, Espanha, Romênia, Dinamarca e Bélgica sobre pesquisas específicas sobre a produção de cervejas com livres de glúten ou o papel das fibras nesses benefícios do consumo de cerveja. Mas, para os mais leigos, vale entender que ingerir uma média de um copo de cerveja por dia pode deixar sua saúde muito mais em dia, assim como já se está instituído, hoje, que o vinho tinto traz muitos bens para o corpo se tomado um cálice todos os dias.

Em ambos os casos, os polifenóis dão o ar da graça, substâncias antioxidantes com propriedades anti-inflamatória e antibiótica, assim como a proteção cardiovascular que já era de conhecimento, no caso do vinho, mas se estendeu à cerveja, de acordo com estudos recentes que mostram grupos que consumiam vinho obtiveram resultado cardiovascular 32% superiores a quem não bebe, e 22% positivo para quem consumia cerveja.

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A barriga de cerveja não existe!

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Não é a cerveja a grande vilã no caso de barrigas protuberantes e, no final, caloria é sempre a mesma coisa. A grande diferença entre o consumo de vinho e o de cerveja — vale lembrar que uma taça de vinho tem mais calorias que uma lata de cerveja — são os hábitos alimentares que acompanham ambos.

A cerveja pode trazer consigo uma pior alimentação, dado o exemplo da inclusão do vinho na tão falada (e saudável) dieta mediterrânea que poderia tranquilamente substituir o vinho pela cerveja, tomadas as devidas proporções de consumo.

E como ficamos, nós, os transgressores?

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O álcool acompanha a história de todas as civilizações que já pisaram nesse mundo, do Egito antigo à Babilônia. A cerveja já aparece antigos sumérios, egípcios, mesopotâmios e ibéricos pelo menos 6.000 a.C.

De rituais a festas, ela vem embalando as nossas posturas sociais mais e menos comedidas. A representação etílica do malandro brasileiro, dos Hugos Carvanas que não queriam trabalhar, da tarde preguiçosa no banco da praça vendo o dia passar e acumulando copos e garrafas e “cascos”. Porque haveria de ser, essa bandeira dourada e líquida de decoro quebrado, sinônimo de boa saúde e alimento saudável?

“A única coisa legal que a gente tinha na vida…”

A recomendação dos estudiosos é que se consuma até 200ml de cerveja por dia, o equivalente a um copo americano. Acima disso, ainda é contravenção, rompimento, violação, quebra com os bons costumes.

E tem momento pra um e momento pra outro.

Aproveitem.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados