Há quase trinta anos tenho recebido pacientes de todas as idades no meu consultório. 

Embora muitas dúvidas sobre o câncer de próstata se repitam, vejo que o tabu que envolve o exame de toque, aos poucos, vem diminuindo.

No início da minha carreira, a maioria dos pacientes eram diagnosticados com câncer já em uma fase avançada. 

Hoje, graças a divulgação na mídia, os homens vem se conscientizando sobre a importância do diagnóstico precoce. Com isso, procuram o urologista mais cedo para fazer os exames, o que permite a detecção do câncer em uma fase mais inicial, aumentando suas chances de cura.

Matéria bem-humorada e com bons dados sobre uma questão séria – quem quiser ver o Rafinha de fato fazendo o exame, que não dura nem 15 segundos, pode pular pra 9:30

Mesmo assim, ainda existem muitos mitos em torno da doença. Por isso acho importante discutirmos nesse canal alguns desses mitos:

1. O exame de toque retal não é necessário se eu fizer o PSA: MITO

O exame de PSA é realizado para medir o nível de Antígeno Prostático Específico (PSA) presente no sangue. 

O aumento dessa enzima produzida na próstata pode sinalizar alterações e doenças no organismo do homem, como infecção do trato urinário, infecção prostática, hiperplasia prostática benigna (HPB) e até mesmo o câncer de próstata.

Já o toque retal – que não dura mais do que 15 segundos –, tão temido pela maioria dos homens, identifica anormalidades da próstata pela mudança da sua consistência, que fica endurecida na presença do câncer, embora outras doenças também possam endurecê-la, como a prostatite ou hiperplasia prostática benigna com calcificação.

Os dois exames são complementares. 

Portanto, o exame físico e o laboratorial, associados à avaliação de outros sintomas, antecedentes pessoais e familiares, e até mesmo da biópsia de próstata são fundamentais para um diagnóstico eficiente do câncer de próstata, e para a maior chance de cura da doença.

2. O câncer de próstata vai interferir na minha vida sexual: VERDADE

A vida sexual vai mudando com a idade, seja na sua frequência, seja na sua qualidade, em função da queda do vigor físico. 

O desempenho sexual de um paciente com câncer de próstata depende muito da sua condição clínica no início do tratamento. Pacientes com maiores deficiências de ereção poderão ser mais facilmente prejudicados pelo tratamento instituído.

O câncer pode atrapalhar a qualidade da relação sexual conforme a extensão da doença, comprometimento dos gânglios e metástase. Pacientes com doença metastática nos ossos, por exemplo, são tratados pela hormonioterapia, que causa queda da testosterona e, por conseqüência, queda da libido, o que prejudica a qualidade da ereção. Os que forem diagnosticados em estágio inicial, tendo boa saúde física, podem se manter bem ou com pouca diminuição da ereção.

Tudo depende ainda da qualidade do tratamento de radioterapia ou da cirurgia radical da próstata, chamada de prostatectomia. 

No caso da cirurgia, é comum ocorrer a perda da ejaculação, pois se remove a próstata e as vesículas seminais que produzem o ejaculado, mas não o orgasmo. 

Os pacientes costumam dizer: “agora eu tenho um orgasmo a seco”.

3. Andar de bicicleta causa câncer de próstata: MITO

Pedalar pode causar um leve trauma na próstata, principalmente para homens magros que têm um períneo menos protegido de tecido adiposo. 

Esse microtrauma, que acontece nas paredes das células da glândula, pode aumentar a liberação de PSA para o sangue. Como o PSA permanece ativo por dois ou três dias, basta o paciente ficar alguns dias sem pedalar para descobrir o real valor do PSA. 

Em resumo: pedalar pode aumentar o PSA, mas não é causador de câncer.

Na verdade, exercícios físicos de rotina têm enorme importância na saúde das pessoas e devem sempre ser incentivados, já que diminuem a frequência de muitas doenças sistêmicas, como diabetes, dislipidemia, doenças cardíacas e também de muitos tipos de câncer.

4. Aumento da próstata é sempre sinal de câncer de próstata: MITO

Um dos principais sinais do câncer de próstata é o crescimento da glândula prostática, porém, nem todo crescimento da próstata significa câncer

Essa glândula pode começar a crescer naturalmente após os 25 anos de idade. Isso acontece por vários fatores: aumento de peso, antecedentes genéticos, doenças inflamatórias da próstata, aumento da testosterona, sedentarismo e doenças sistêmicas como diabetes, dislipidemia, entre outras.

Em alguns casos, a associação dessas causas pode acelerar ainda mais o crescimento da próstata.

5. PSA elevado significa ter câncer de próstata; PSA baixo significa não ter a doença: MITO

O PSA mostra apenas que algo está errado com a próstata e cabe ao urologista o diagnóstico.

Alguns tipos de câncer de próstata não produzem tanto PSA, enquanto outros, mesmo com volume menor, produzem muito PSA. De maneira geral, os tumores malignos mais graves produzem mais PSA, mas há exceções à regra. PSA maior que 10ng/ml em próstatas pequenas pode significar câncer em mais de 65% dos casos.

Mas, várias doenças – como inflamação, infecção e trauma – também podem aumentar o PSA, não apenas o câncer. 

Tratada a doença de base, o PSA volta ao seu real valor.

Vídeo com mais informações realizado pela Unimed Fortaleza com o Dr. Ariel Scafuri

6. O exame de próstata tem que ser realizado após os 40 anos: MITO

Até pouco tempo atrás recomendava-se que o exame de próstata fosse feito a partir dos 40 anos. Porém houve uma mudança de postura das Sociedades Européia, Americana e Brasileira de Urologia, que atualmente recomendam que essa investigação seja feita a partir dos 50 anos, com exceção de alguns casos, como:

  • homens que possuem antecedentes familiares de câncer de próstata

Esses pacientes devem ter o acompanhamento de um urologista à partir dos 40 anos, já que o risco de apresentarem a doença dobra com um caso familiar e aumenta de 6 a 12 vezes quando existem dois ou mais casos na família.

  • homens com menos de 50 anos que apresentem anormalidade para urinar
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Anormalidades para urinar podem indicar uma alteração na próstata em função de algum tipo de doença, como HPB, prostatite, infecção do trato urinário e até mesmo o câncer. 

Por isso, é importante que o exame de próstata seja realizado assim que se identifique a anormalidade, para que o médico possa realizar o diagnóstico e iniciar o quanto antes o tratamento da doença.

7. O câncer de próstata é hereditário: VERDADE

A resposta correta é parcialmente verdade.

A maioria dos casos de câncer de próstata são esporádicos, ou seja, o homem o desenvolve durante seu envelhecimento. Homens idosos podem ser portadores da doença e não apresentarem nenhum sintoma, alguns morrem sem sequer saber que tinham o câncer.

Mas existe uma forma de câncer de próstata que passa de pai para filho, sendo realmente hereditária – quando vários membros da família apresentam a doença com menos de 55 anos. Mas a porcentagem desse tipo de câncer de próstata é baixa, 2 a 3% dos casos.

Homens com vários familiares que tem a doença devem ser acompanhados por urologista a partir dos 40 anos. 

Ter um familiar direto com câncer de próstata dobra sua chance de desenvolver a doença, e ter mais de dois parentes aumenta de 6 a 12 vezes o risco. Se você tem um irmão com câncer de próstata, seu risco é maior do que se o seu pai tiver tido a doença.

8. Uma vida sedentária pode aumentar o risco de ter câncer de próstata: VERDADE

O exercício físico regular e uma boa alimentação trazem vários benefícios para a saúde: melhoram a qualidade de vida, diminuem o risco de várias doenças e a necessidade de tomar muitos remédios, e ainda podem prevenir o câncer de próstata.

Da mesma forma que o exercício físico faz bem para a saúde, a manutenção da função sexual regular traz benefícios diretos ao funcionamento da próstata, diminuindo a ocorrência da doença prostática benigna (HPB), e até mesmo do câncer de próstata.

O sedentarismo e a obesidade geram uma mudança metabólica em todas as células do organismo. 

Em outras palavras, podem modificar a fisiologia normal das células, gerando alterações em seu DNA e consequentemente, alguns tipos de câncer.

9. Após a cirurgia posso continuar potente: VERDADE

Após a prostatectomia radical, a evolução da ereção depende muito de como ela se comportava até o momento da cirurgia. 

Pacientes plenamente potentes podem continuar assim; por outro lado, os que já tinham necessidade de tomar algum remédio para melhorar a sustentabilidade do pênis, devem sentir mais o impacto da cirurgia, com perda de qualidade da ereção. Estes pacientes normalmente também demoram mais para recuperar a ereção, geralmente em torno de 9 meses.

Os casos em que a doença se encontra confinada à próstata terão mais chances de cura apenas com a cirurgia. Mas alguns pacientes podem apresentar recidiva da doença e receber outros tratamentos como radioterapia ou hormonioterapia, que costumam afetar diretamente a qualidade da ereção.

Vale dizer que a qualidade da cirurgia é fundamental para que a ereção se recupere. 

Isto é conseqüência de alguns fatores, como a experiência do cirurgião, as condições locais da próstata e dos tecidos periprostáticos; das anomalias vasculares e da inervação, do tipo de pelve e do biotipo do paciente.

10. A cirurgia é mais difícil no paciente obeso: VERDADE

Em pacientes obesos a localização da próstata é muito mais profunda, piorando sua visibilidade, a iluminação e o acesso dos materiais cirúrgicos até a glândula. 

A cirurgia pode ser um desafio para a perícia do cirurgião. Por todas essas dificuldades, a cirurgia robótica vem ganhando importância nos grandes centros especializados, pois tem tornado a cirurgia muito menos complicada, principalmente para os pacientes obesos.

* * *

E você, ainda considera ir ao urologista um tabu? 

Noto que muitos homens não dão tanta importância pra própria saúde e por vezes preferem ignorá-la, mesmo podendo gerar sofrimentos para si e para toda a família, no futuro. 

Seria excelente escutar sua opinião sobre o tema, nos comentários.


Nota do editor: aqui está a pesquisa mencionada no começo do texto; seguindo, ficamos muito felizes de publicar um artigo tão relevante sobre a saúde dos homens, por isso considero importante deixar aqui também a experiência completa do Dr. Francisco, reforçando a credibilidade de suas palavras:

Uro-oncologista especializado em cirurgias de alta complexidade de bexiga e próstata, rim e testículo, o Dr. Francisco Fonseca contabiliza um dos maiores números de prostatectomias radicais feitas no Brasil (cerca de mil casos) e cistectomias radicais (300 casos). 

Com 28 anos de experiência, trabalhou por mais de 25 anos no Hospital A.C. Camargo. É reconhecido no meio médico pelo seu pioneirismo e expertise desenvolvido nas cirurgias de alta complexidade. Frequenta os hospitais mais renomados de São Paulo, tais como o Hospital Sírio Libanês, Alemão Oswaldo Cruz, 9 de Julho, Bandeirantes, Samaritano, Santa Catarina, entre outros.

Graduado pela Faculdade de Medicina da PUC de Campinas na década de 80, fez Mestrado e Doutorado em Oncologia pela Faculdade de Medicina da USP e atualmente é professor de Urologia na disciplina Sistema Urinário na Faculdade de Medicina da Universidade Nove de Julho. 

Tem 13 artigos publicados em revistas científicas internacionais, 30 em revistas científicas nacionais, 14 capítulos escritos em parceria com outros profissionais, 4 orientações de Mestrado e 1 de Doutorado.

Dr. Francisco Fonseca

Com 28 anos de experiência, uro-oncologista especializado em cirurgias de alta complexidade de bexiga e próstata, rim e testículo, o Dr. Francisco Fonseca contabiliza um dos maiores números de prostatectomias radicais feitas no Brasil (cerca de mil casos) e cistectomias radicais (300 casos). É reconhecido no meio médico pelo seu pioneirismo e expertise desenvolvido nas cirurgias de alta complexidade. Você pode <a>saber mais sobre ele e marcar uma consulta</a> pelo seu site pessoal."