Em uma tarde ensolarada de 2005 tive o meu primeiro passeio de carro solo da vida, ainda com a carta de habilitação brilhando de nova. Foi realmente um dia marcante, pois me sentia o dono do mundo ali no meu Celta preto (sem ar condicionado, sem direção hidráulica e duas portas).
Depois de pegar muito trânsito e fazer uma difícil baliza eu já estava suado e totalmente esbaforido. A tarde ensolarada fez meu carro virar um forno ambulante. A direção pesada e o vidro na manivela também não ajudavam — porém, naquela época, para mim tudo era diversão.
Anos depois, descobri que o primeiro com ar condicionado — como conhecemos hoje, equipado de fábrica, data de 1939! Já no meu caso, somente depois de quatro anos de — literalmente — suados salários economizados, consegui comprar um Palio com ar e direção hidráulica mas isso já é assunto para outro texto.
Na história dos automóveis, as tecnologias são mostradas primeiro nos modelos mais sofisticados e, com o passar do tempo, chegam aos modelos mais baratos. Atualmente, os carros mais baratos do Brasil já tem como opção as comodidades que faltavam no meu Celta — ar e direção são informalmente chamado de “kit dignidade” por alguns vendedores.
Porém, agora o novo sonho de consumo de muitos brasileiros é comprar seu primeiro carro com câmbio automático. É disso que vamos falar hoje.
Algumas pessoas têm o câmbio automático como desejo por viverem em grandes centros congestionados e outras, claro, por puro status. A prova desta crescente demanda é que até carros de entrada — como os famosos Gol e Ka — agora contam com este opcional. Neste momento, surgem diversas dúvidas.
— Mas automático é tudo igual Lucas?
— É hidramático que fala, né, meu neto?
— CVT não é coisa de Scooter?
— Calma, galera! Pega uma bebida gelada (à sua escolha) que vou te ajudar a conhecer mais sobre os tipos de câmbio para, aí sim, você escolher o melhor.
Câmbio manual — #savethemanuals
O câmbio de acionamento manual consiste, basicamente, em um sistema em que o motorista seleciona as marchas manualmente (ah, vá! Não me diga!).
Ele conta com o pedal de embreagem para desacoplar temporariamente o motor da transmissão enquanto se seleciona a marcha. Ao soltar do pedal progressivamente o conjunto se reconecta, enviando novamente a força do motor para as rodas. Não vou me prolongar neste, pois acredito que todo mundo na vida já dirigiu um carro manual, nem que seja na auto-escola.
Vantagens: controle total das mudanças de marcha e menor preço de compra.
Desvantagens: existe certa habilidade manual, atenção e controle.
Carros: é visto em carros como o Renault Sandero RS, Troller entre outros.
Câmbio automático — o clássico
Nesse tipo de transmissão as marchas são trocadas automaticamente (sério?! De novo?), com a principal diferença de termos apenas dois pedais — acelerador e freio.
É o mais difundido e o primeiro que pensamos quando falamos de carros automáticos. Basta colocar a alavanca em D (drive) e deixar o conjunto fazer o resto. Um conversor de torque regula a ligação entre o motor e câmbio. As marchas são trocadas para cima e para baixo por um controle eletrônico que usa dados como a posição do pedal de acelerador e rotação do motor. Atualmente, temos modelos com até 10 marchas.
Vantagens: comodidade e conforto, sendo quase impossível o motor apagar.
Desvantagens: preço de compra e consumo.
Carros: é visto em carros como VW Amarok, Chevrolet Onix, Hyundai HB 20, Jeep Renegade entre outros.
Câmbio automatizado — ou robotizado monoembreagem
Para esta opção, usa-se um pouco dos dois tipos anteriores. Apesar de ter apenas dois pedais, existe um também sistema de embreagem. Porém, ela é acionada eletronicamente, sem influência do motorista. Assim, caso o condutor continue a acelerar, as trocas não são tão suaves como o automático convencional, porém, a comodidade se mantém. Quando foi lançado, esse tipo de câmbio custava metade do valor de um automático.
Vantagens: menor consumo e baixo custo frente ao automático convencional.
Desvantagens: não apresenta o mesmo nível de conforto.
Carros: é visto em carros como Fiat Mobi, VW Up entre outros.
Câmbio automatizado de dupla embreagem — troca rápida
Neste tipo de câmbio, existem duas embreagens (como o próprio nome já adianta) que são responsáveis pela ligação da transmissão com o motor de modo semelhante ao automatizado acima. Porém, enquanto uma marcha está em uso, a seguinte já fica pré-engatada, proporcionando uma troca rápida.
Geralmente, uma das embreagem é responsável pelas marchas pares enquanto a outra seleciona as marchas ímpares. Eu, particularmente, gosto da nomenclatura que a Porsche dá para esse câmbio — PDK tente dizer voz alta em bom alemão Doppelkupplung.
Vantagens: baixo peso do conjunto e rapidez na troca de marchas.
Desvantagens: requer manutenção especializada.
Carros: É visto em carros como VW Golf, MINI Cooper, Porsche entre outros.
Câmbio CVT — transmissão continuamente variável
Essa transmissão é mais “diferentona” das demais apresentadas até aqui. Quem define as marchas são duas polias cônicas ligadas por uma correia metálica. A distância variável entre elas é que cria as relações de “marchas” mais curtas ou mais longas. Desta forma, é possível se obter infinitas combinações de marchas, sem interrupção. No início, ao acelerar fundo esse tipo de câmbio, o motor se estabiliza automaticamente na rotação de potência máxima, enquanto a velocidade aumenta. Porém, para muitos motoristas, isso tornava o carro “estranho” ao dirigir, parecendo que o carro tem apenas uma marcha única ou com um efeito elástico. Nos modelos mais atuais, o CVT tem algumas posições de polias pré definidas para emular a troca de marcha dos automáticos convencionais.
Vantagens: eficiência energética.
Desvantagens: certa monotonia nas versões sem simulação de marcha.
Carros: é visto em carros como Toyota Corolla, Renault Captur, Nissan March, Honda HR-V e praticamente em todas as scooters.
Muito basicamente é isso, pessoal.
Cada câmbio tem suas vantagens e desvantagens. Para aqueles que querem dar férias ao pé esquerdo, a boa notícia é que com a maior disponibilidade e popularização, a tendência é o preço deste opcional baixar.
Espero ter deixado mais fácil para você escolher sem nem precisar suar a camisa. Ficou alguma dúvida? Chega junto nos comentários que estaremos por lá.
Até a próxima!
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