Você tem medo de morrer? Por quê? Que diferença faz?
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No meu texto Sou ateu porque preciso, um leitor perguntou:
Como alguém, um ser humano, consegue suportar a ideia de que, a qualquer sopro malfadado do destino, pode morrer e simplesmente sumir? Nunca mais sentir, amar, sorrir, brigar, pensar, EXISTIR? … Para a minha pobre consciência simplesmente e inadmissível deixar de existir.
Se tudo acaba, se até mesmo o sol vai acabar, por que seria justamente eu a não acabar? Por que eu seria tão importante assim? Aliás, por que a questão da minha existência seria minimamente importante? Por que eu deixar de existir é mais ou menos dramático do que um coelho deixar de existir?
Passei a existir no momento no tempo que convencionamos chamar de 1974 mas, antes disso, eu não-existi por um período literalmente infinito. E não foi ruim. Não doeu. Não foi desagradável.
Muito em breve, voltarei a não-existir por um período infinito de tempo. Se não era ruim antes, por que seria ruim depois? Por que ter medo de voltar a um estado que já experimentei e que não foi ruim?
Na verdade, considerando o tempo que passamos existindo e o tempo que passamos não-existindo, nosso estado natural é a não-existência.
Existir seria apenas um breve soluço, um glitch, um bug, dentro de uma perfeita, plena e eterna condição de não-existir.
Somos todos seres inexistentes que, por um acaso, existem.
Mas não por muito tempo.
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Aí, alguém pergunta:
Então, você está vivo pra quê?
Pra nada, ué. Pra absolutamente nada. Tem que estar vivo pra alguma coisa?
Puxa, ninguém nunca me avisou… E agora?
A pessoa insiste:
Qual é o sentido da sua vida, então?
Nenhum, ué. A vida tem que ter sentido?
Ninguém me avisou também! Porra, ninguém me avisa nada!
Mas ó. Vou te dizer. Tenho vivido minha vida a esmo, sem objetivo e sem sentido, e ela tem sido muito boa, viu?
Não fez falta nenhuma até agora.
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Aí, alguém desafia:
Então, por que você não se mata?
É como se eu estivesse gostosamente me balançando na rede e alguém perguntasse:
Se você sabe que vai ter que levantar daí inevitavelmente, por que não se levanta agora?
Ué, que pergunta louca.
Não levanto porque estou bem aqui me balançando. Não me mato porque estou bem aqui vivo.
Quando chegar a hora de levantar, eu levanto. Quando chegar a hora de morrer, eu morro.
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Quando eu dava aulas na universidade e meus alunos começavam a surtar antes da prova final, eu dizia algo mais ou menos assim:
Pensem comigo. Somos todos primatas sem alma, vivendo vidas sem sentido, presos na superfície de uma bola de pedra girando em torno de si mesma e se deslocando em círculos pelo vazio do espaço, destinados a morrer em breve, junto com todos nossos entes queridos, assim como nossos países, nossas culturas e nossos idiomas, que vão desaparecer também, aquecidos por um sol que logo se auto-destruirá, levando com ele tudo o que já conhecemos. Então, sinceramente, no grande esquema das coisas, que importância pode ter essa prova?
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Um dos meus textos mais famosos sobre esse assunto, Pessoas-que-acreditam-em-coisas, faz parte do meu livro Liberal Libertário Libertino, à venda aqui no PapodeHomem por R$20. Recomendo.
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