Sempre adorei fotografia. Acho mágico algo tão palpável ser formado de luz. 

Luz que eterniza momentos. 

Sou tímida, prefiro estar por tras das lentes. 

Em meados de 2011, conheci uma fotógrafa que me convenceu a fazer um ensaio Boudoir (o vulgo ensaio sensual).  Foi uma experiência indescritível. 

Na época, eu estava entrando numa depressão horrorosa. Estava obesa e numa relação abusiva. Deixei de me gostar e me amar, mas ver aquelas fotos me fez tão bem.  Eu olhava com frequência e pensava: até que sou bonita. Houve um pouco de resgate de auto-estima e amor próprio, mas não o suficiente. 

Saí da relação, recomecei minha vida. Novo emprego, novos desafios, novas rotinas.  Mudei cabelo, fiz mais tatuagens, alguns piercings e aí veio a vontade de ser uma modelo alternativa. 

Babava nas Suicide Girls, mas eu pensava: não tem espaço pra mim! As meninas são deliciosas e lindas. Deixei a ideia por anos adormecida. 

Acabei me envolvendo em movimentos feministas, fui entendendo valores culturais, sociais e padrões impostos e me aceitando cada vez mais. 

Nunca fui mignon. Sempre fui troncuda, ombros largos, pernas grossas, seios fartos. Essa sou eu. 

Toda essa massa que forma meu corpo, sou eu. Como não me gostar? Não dava! 

No começo de 2017, decidi que ia atras da minha vontade. 

Conversei com o Lucas Souza (que ja foi crush e descrushamos – eu acho) e decidimos fazer essas fotos. 

Fui atrás de um local bacana, que refletisse o que sou, conversamos bastante, mandei algumas referências e fomos. 

Minha relação com o nu é muito tranquila. 

Tenho um corpo fora do "padrão", mas padrão pra quem? Eu gosto do que vejo no espelho e é só isso que me importa. 

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Celulite, estria, mancha, hematoma, cicatriz, dobrinhas de monte. Não aceito retoque, por que retocar uma foto, tira a essência do que eu sou e deixa de ser eu. 

O processo de tirar a roupa foi tranquilo. Colocamos uma música agradável (não sei fazer nada sem música), tomei um vinho por que no dia estava bem frio e foi fluindo. 

Acho que fazer "carão" é uma coisa ta comigo. Sai naturalmente. 
As amigas as vezes veem as fotos e falam: menina, que cara é essa? E penso: que cara? Essa sou eu! 

O feminismo ajuda muito nesse processo de auto-aceitação. A gente vai ficando mais blindada, menos encanada, aprende a dar valor a outras coisas  que são tão menos efêmeras que o corpo. 

Acho que um ensaio nu deveria ser um estagio obrigatório na vida de uma mulher. 
Se ver pelos olhos do outro da um tesão danado! Esse ano fiz 5 ensaios. 

A cada um que termina eu penso: Ooooo mulherão da porra!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jhurricane

Cerveja e coentro. Tatuagem e arte erótica. Não vivo sem música. Odeio banho e comida quente, mas amo a liberdade. Modelo alternativa, feminista e adoro investir tempo em boas risadas. Estou no Instagram como <a>@_me_hurricane</a>."