Responde pelo nome de Second Life a mais nova febre da Internet. Trata-se de um jogo que tenta emular na tela do PC todo um universo, daí o nome Segunda Vida. Mas, cuidado: os mais fanáticos ficarão ofendidos se você chamar SL de “jogo”. Para muitos, Second Life é bem mais que isso.

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Second Life não é um jogo, seu leigo!

Muitos já definiram o Second Life como um novo The Sims, onde todos os personagens são controlados por uma pessoa. Apesar de imprecisa, a definição dá uma idéia de como funciona a engine do jogo. De fato, Second Life e The Sims têm algumas semelhanças.

Outros já categorizaram SL como um MMORPG (Massive Multiplayer Online Role Play Game), categoria na qual se insere games como Ragnarok e Tibia. Estes também têm certa razão, embora elementos comuns a esses jogos, como magias e dragões, não estejam presentes em Second Life.

A presunção de criar um mundo totalmente virtual me afastou de SL em um primeiro momento. Mas depois de várias matérias elogiando o game, resolvi arriscar. Afinal, se existe em SL uma embaixada da Suécia, endossada pelo governo, é porque o jogo merece algum crédito. E se pessoas como Bono Vox jogam SL regularmente, é necessário ao menos ver para crer.

Mas algumas coisas podem atravancar o processo de fazer parte desse mundo virtual. Se você não tem uma boa banda larga, é melhor nem tentar: o jogo ficará lentíssimo, travará o tempo todo e você sentirá uma vontade incontrolável de chutar o PC. Outra coisa que costuma encher um pouco é a imersão nesse novo mundo. Leva algum tempo até nos acostumarmos com tantas novidades, comandos e conceitos. Uma “ilha tutorial” tenta ensinar algo aos iniciantes, mas ela também é, por si só, um pé no saco.

Mas com um pouco de paciência, é possível se divertir com Second Life. Em meu caso, fiz amizade com uma jovem americana e juntos tentamos descobrir qual era, afinal, a do Second Life. Em teoria, tudo que é possível fazer na vida real, também é possível com seu avatar no universo de SL. Lá também é possível fazer duas coisas que fazem parte dos sonhos dos humanos: voar e se teletransportar para onde quiser.

E foi num desses teletransportes que caímos, a esmo, na boate de um alemão que já era expert em SL. Foi ele que nos deu uma idéia mais clara do que era o jogo. Ele não admitiu, mas decerto é um viciado no joguinho e já investiu dinheiro real para chegar ao ponto de ser dono de duas boates.

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Aliás, quase tudo em Second Life parece ser voltado para a diversão: o que mais se vê são cassinos, boates, shoppings e similares. E como ganhar dinheiro para participar disso tudo? Se você tiver a sanidade de não gastar dinheiro real nessa empreitada, o modo de adquirir lindens, a moeda do jogo, é exatamente a mesma do mundo aqui fora: trabalhando. E apostando, investindo, aplicando, como qualquer negócio real. Sem algum trabalho, porém, é difícil conseguir um capital inicial.

E é aí que as coisas começam a ficar estranhas. Uma regra não-declarada do Second Life é que todos encaram aquilo como uma vida propriamente dita. Isso foi um pouco demais para mim. Como não há razão para pudores, as mulheres (os avatares femininos, melhor dizendo) normalmente optam por algo relacionado a prostituição. Não foram raras as vezes que chegaram me oferecendo “sexo pago”. Como minha reação, normalmente, era cair em risos, fui tomado como louco. Sim, o louco lá era eu…

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É tão bom ser uma mulher livre, independente e que trabalha por sexo em um mundo virtual.

O trampo que meu avatar conseguiu foi ser uma espécie de promoter da boate do tal alemão. Tudo que eu tinha que fazer era usar a camisa do local e entregar cartãozinhos a quem eu encontrasse. Em pouco tempo, ganhei meus primeiros lindens, que usei em apostas e jogos, chegando, por fim, à soma de 136, o que equivaleria a “incríveis” US$0,50 no câmbio atual, se eu pretendesse trocar essa merreca. Ainda assim, é muito mais do que a maioria dos novatos consegue no jogo. E, por mais absurdo que isso possa parecer, se eu tivesse a paciência e o tino necessários, eu poderia, sim, ganhar dinheiro real com Second Life.

É inegável, portanto, que o potencial de Second Life é imenso. Quem tem disposição pode, por exemplo, criar objetos e comercializá-los como bem entender. Quem não entende inglês pode se refugiar em áreas em que o português é a única língua falada. E quem tiver curiosidade, pode se aventurar numa experiência nesse mundo, que certamente será diferente da minha e poderá, com alguma sorte, ser até agradável.

Marcelo Morato