Gosto muito de filmes de animação, principalmente depois que a Pixar entrou no mercado, levando o jogo pra outro nível ao contar histórias que além de entreter tinham também valor artístico e estético.
Depois da divulgação dos 21 candidatos ao prêmio de melhor animação, resolvi colocar minhas impressões sobre os filmes que julgo serem os três melhores e favoritos ao prêmio.
Valente
O Oscar de melhor animação não é chamado de “prêmio Pixar” à toa. O teaser do filme já me deixou fisgado. A cena em que Merida, a protagonista, acaba rasgando seu vestido ao atirar flechas representa a tensão de liberação dos papéis de gênero tradicionais sem dizer uma palavra.
Isso, conjugado com o cabelo da menina e a execução da cena mostra porque a Pixar é a Pixar e o resto costuma ser só um pessoal muito esforçado.
Mas esse também foi o primeiro filme da Pixar em que ela conta uma história feminina. Enquanto, curiosamente, a Disney contou uma história masculina em Detona Ralph. Nada contra histórias femininas, mas não suporto histórias femininas contadas pela Disney.
Além disso, os obrigatórios números musicais me parecem um pouco deslocados, como se a Pixar tivesse relutantemente aceitado o método Disney de trabalhar.
Mesmo aparentando tão constrangida pela mãe como sua personagem principal, a Pixar consegue entregar um belo filme. O arco de desenvolvimento pelo qual Merida e, principalmente, sua mãe passam é bem executado. Mesmo não sendo brilhante, ainda faz jus aos sucessos do estúdio.
Detona Ralph
Não sei se o título passa bem a ideia do protagonista. Em inglês, wreck me parece estar mais ligado a destruir, significado distante do que a gente costuma associar, na gíria, ao verbo detonar.
A primeira impressão pode ser de que se trata de Toy Story para videogames. Mas na verdade, Detona Ralph tem mais a ver com filmes como O Estranho Mundo de Jack, no sentido de que são ambas histórias sobre personagens solitários mal compreendidos que, cansados disso, tentam corrigir as coisas de uma forma que pode prejudicar a existência de todos.
A questão de quem ou como se torna um inimigo é central no filme e eu gostaria de ver o tema – associado à “programação” – explorado com mais profundidade.
Talvez muito do meu amor pelo filme venha das referências e reflexões que ele lança sobre o estado atual dos videogames. Perceber como um vilão de um videogame dos anos 80 se encaixa perfeitamente no papel de herói atual é uma sacada de gênio e diz muito sobre a glorificação da violência e nossa fascinação recente por anti-heróis.
Além disso, a sargento Calhoum se destaca não só por ser um excelente desenvolvimento da premissa da “programação” mas também por ser um belo tapa na cara dos roteiristas de videogame, notoriamente incapazes de desenvolver um personagem feminino interessante.
Tanto Detona Ralph como Valente seriam dignos do prêmio de melhor filme, e acho que o mais provável é que a estatueta fique entre esses dois.
Mas se eu pudesse escolher, o prêmio iria para:
Paranorman
Muitos filmes de animação, incluindo os dois acima, sofrem de um problema: a história tem que ser contada em um ritmo frenético, alternando momentos de ação e tiradas engraçadas, para prender a atenção do público mais jovem.
Em Paranorman, a preocupação com o desenvolvimento dos personagens e com o tom do filme torna tudo mais lento e suave, o que é uma boa coisa.
Com bons comentários sobre os clichês sociais e um olhar diferente sobre zumbis, Paranorman é uma história divertida sobre as consequências do ostracismo social e das emoções negativas que estão por trás.
Pela execução e personagens, pra mim levaria o prêmio de melhor filme de animação. Além, é claro, de ter sido feito em stop motion. Tudo é melhor em stop motion.
Então, agora eu quero saber. Quais animações assistiram em 2012? Quais acham as melhores?
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.