Nascido em Oeiras, Piauí, Roque Antônio Arrais construiu a vida a milhares de quilômetros de casa. Morou por 25 anos no Paraná – nove dos quais lavando 15 carros por dia, de domingo a domingo, com a ajuda da esposa.
Primeiro da família a ir para o Sul, levou consigo mãe, irmãos e outros parentes. Em 2013, foi também o primeiro da família a retornar.
A mudança ficou pelo caminho, supostamente consumida por um fogo que o caminhoneiro que fez o frete ainda tem de lhe explicar.
Morador do município de Pio IX, usou parte das reservas que tinha para erguer uma casa, arrumar o lote de 10 hectares à beira da estrada que comprou antes de voltar e construir o mais charmoso dos campos de futebol — entre a aridez da terra seca e o verde dos cajueiros.
Iniciada há dois meses e meio e ainda incompleta (ele pretende acrescentar um alambrado), a obra já consumiu a pequena fortuna de 36 mil reais e vai continuar representando gastos elevados em função dos carros pipa — essenciais em uma região que não tem condições para poços artesianos e onde a água da defesa civil não chega com a frequência prometida.
A ideia é reaver o dinheiro aos poucos, com o aluguel de 100 reais a hora e a venda de comes e bebes não alcoólicos no barracão ainda em construção ao lado do gramado. “Aqui é um lugar bom de se morar. Tem a dificuldade que pra ganhar dinheiro é difícil, mas o sossego vale tudo. Você pode dormir debaixo de um pé de caju desses, anoitecer e amanhecer”.
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Uma Copa do Mundo se faz com pessoas.
As que entram em campo, as que viajam para testemunhá-la, as que enchem as ruas, as que se voluntariam, as que torcem e as que veem no evento uma oportunidade para garantir seu sustento ou para extravasar.
A seção “Álbum de Figurinhas” pretende contar, com um microrrelato artesanal e um retrato por dia, a história de algumas dessas pessoas, muitas vezes invisíveis, que povoam os bastidores da Copa do Mundo do Brasil.
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