Cânticos entoados a uma só voz. Coreografias ensaiadas. Tinta para pintar o rosto dos outros torcedores. Somada a tudo isso, a camisa amarela com detalhes em verde dava ares de torcida organizada à multidão de pessoas que se espalhava pelos arredores da Arena Fonte Nova, em Salvador, antes do jogo entre Holanda e Costa Rica.

Na parte de trás da camiseta, um só nome e um número. Neymar Jr? 10? Não. John, 3.16.

“Porque Deus amou tanto o mundo que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna”.

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Depois de mais de um ano de preparo, a Convenção Batista Brasileira colocou seu time em campo em todas as cidades sede da Copa, mirando a evangelização como se fosse um título. Com a frase Jesus Transforma também estampada na camiseta, os voluntários se empenhavam em interagir com os passantes e entregar panfletos que misturavam curiosidades sobre futebol com a defesa pelo arrependimento dos pecados e a confiança em Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

Entre as centenas de pessoas que se dedicavam à tarefa, foi Natalice Rocha que me escolheu para conversar. Sentada em um banco com vista para o estádio e os orixás do Dique do Tororó, ela mantinha o sorriso nos lábios e o olhar sereno ao assistir às apresentações artísticas executadas por seus irmãos de congregação.

Se preocupava em espalhar a palavra, mas também em ouvir.

Me perguntou se eu já escutara algo sobre Jesus Cristo e o que pensava sobre tudo o que faziam ali. Interessado em fotografar o que estava acontecendo e em não estender o assunto, respondi educadamente que até acreditava em Deus, mas que não tinha religião. Em troca, recebi mais consideração, reflexão, ponderação, racionalismo e abertura para o diálogo do que minha desculpa apressada e recheada de preconceito esperava (ou merecia).

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Você vê, existem várias religiões por aí, e todas dizem que estão certas. Não vou dizer a você que a minha, Batista, é melhor. Pra mim, o certo é Deus. Religião tem ser humano. E onde tem ser humano tem erro, tem defeito.

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Uma Copa do Mundo se faz com pessoas.

As que entram em campo, as que viajam para testemunhá-la, as que enchem as ruas, as que se voluntariam, as que torcem e as que veem no evento uma oportunidade para garantir seu sustento ou para extravasar.

A seção “Álbum de Figurinhas” pretende contar, com um microrrelato artesanal e um retrato por dia, a história de algumas dessas pessoas, muitas vezes invisíveis, que povoam os bastidores da Copa do Mundo do Brasil.

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Para ler todos os textos, basta entrar no nosso Álbum de Figurinhas.

Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas. Siga-o no <a>Instagram</a>."