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(Seguindo…)
O Merlin deveria ser um projeto tão grande para a aeronáutica quanto o Silver Ghost foi para os automóveis. Henry dedicou muito cuidado na concepção de seu projeto.
O resultado foi o magnífico Rolls-Royce Merlin refrigerado a água com capacidade volumétrica de 27 litros com duas bancadas de 6 cilindros cada dispostas em V a 60 graus uma da outra. O novo motor chamou a atenção do Ministério Britânico da Aeronáutica e o governo requisitou que equipassem seus novos aviões Supermarine Spitfire e Hawker Hurricane.
Ao final do projeto Henry decidiu deixar seu último legado para a história da engenharia. Se seus motores fossem ser utilizados por aviões de combate, sua eterna preocupação com confiabilidade e resistência não seria menor. Henry somente entregaria um Merlin para a aeronáutica se pudesse assegurar que não seria uma falha mecânica a derrubar um avião pilotado por um cidadão inglês.
A construção do motor infalível
Royce criou um programa de desenvolvimento de durabilidade que deveria permitir que o Merlin continuasse a funcionar mesmo depois de atingido por disparos de metralhadoras ou até mesmo foguete leves. O motor deveria ser capaz de minimamente permitir ao piloto conduzir seu completamente avariado avião de volta à sua base. O início do projeto consistia em ligar os motores e operá-los em força máxima até que falhassem. Quando falhavam a causa era analisada e uma solução era estudada.
Após dois anos de testes o programa foi capaz de aprimorar o Merlin de tal maneira que ele pudesse operar durante mais horas de vôo que qualquer aeronave seria capaz de resistir. O resultado final era um motor capaz de funcionar por mais de 8 horas em um vôo uninterrupto de bombardeio em força máxima!
Ao final do projeto um dos mais formidáveis motores desenvolvidos para aeronaves de combates recebia o emblema da Rolls-Royce, mas seu idealizador morrera durante a etapa de testes. Henry não viveu para ver o tamanho de sua contribuição para a segurança do Reino Britânico e, consequentemente, para a formação do mundo moderno.
Em 1939 eclodia a 2a e maior de todas as guerras mundiais. Em meados de 1940 as forças nazistas do eixo haviam manobrado ao redor Linha Maginotcom extrema facilidade.
Em 18 de junho de 1940 o Primeiro Ministro Britânico Winston Churchill discursava na Casa dos Comuns:
“A Batalha da França acabou. A Batalha da Inglaterra está para começar…”
Luftwaffe vs Royal Air Force Britânica
A batalha da Inglaterra foi a primeira grande batalha travada exclusivamente nos ares. A Luftwaffe (Força Aérea Alemã) tinha por objetivo derrotar a Royal Air Force Britânica (Força Aérea Real) no intuito de assegurar o livre trânsito dos bombardeiros do eixo sob os céus de Londres.
A batalha começou com bombardeios estratégicos por parte dos alemães em bases aéreas, fábricas de aeronaves e prédios do governo. Parte da tática nazista envolvia disseminar medo e reduzir a moral da tropa britânica. Mas Hitler não contava com os discursos inflamados de Winston Churchill capaz de trazer esperança ao coração do mais amedrontado soldado.
Quando Londres estava sobre bombardeio Churchill se recusou a deixar a cidade. Quis mostrar para os ingleses que estaria lutando com eles. Entre uma sirene e outra o Primeiro Ministro era facilmente encontrado inspecionando os escombros deixados pelos bombardeios.
Winstou deu a ordem,
“Soltem os Spitfires”.
Os principais caças nazistas eram o Messerschimitt BF109E e BF110C. Eles estavam em número muito superior aos Hurricane MK I e os pouquíssimos Spitfire MK I da RAF britânica. Acreditava-se que os Messerschimitt também eram tecnicamente superiores aos adversários ingleses por possuirem maior velocidade de ganho de altitude e por serem cerca de 40 milhas por hora mais velozes.
Contudo, os caças da RAF necessitavam de um raio muito menor para realizarem uma manobra de retorno em 180 graus. Existem diversas outras características tanto de Messerchimitts quanto de Spitfires que os tornam ora melhores, ora inferiores.
Porém, é conscenso que os fatores que determinou o vencedor dos combates entre RAF e Luftwaffe eram:
- a estratégia,
- habilidade dos pilotos,
- número de aeronaves,
- situação tática,
- e emprego da luz solar.
A Inglaterra tinha poucos pilotos, mal treinados e inexperientes. Combatentes estrangeiros de países aliados foram convocados para pilotarem aeronaves da RAF. Os pilotos da Luftwaffe eram mais numerosos e com farta experiência em combate adquirida durante a guerra civil espanhola. O resultado inicial era previsto, as baixas britânicas foram enormes. Logo em seguida a estratégia britânica mudaria. Seria relativamente simples, porém ousada.
Estratégia 5 contra 1
O comando da aeronáutica enviava pequenos destacamentos para interceptar esquadrões inteiros de bombardeiros. A idéia era atacar pontualmente de forma a quebrar a formação defensiva dos esquadrões nazistas. Uma vez que os bombardeiros fossem isolados, poderiam ser facilmente destruídos um a um. Devido a sua maior manobrabilidade e resistência à avarias o ataque era iniciado pelos Spitfires que enfrentavam diversos Messerschimitts de escolta ao mesmo tempo.
Embora os Spitfires conseguissem despistar o inimigo com facilidade, eram comumente cercados por mais de uma aeronave. Quando isso acontecia não havia como escapar da linha de tiro de ambos inimigos. O trunfo da RAF ignorado pela Luftwaffe era a resistência dos motores Merlin que suportavam bravamente às perfurações das metralhadoras alemãs e permitiam aos pilotos britânicos retornarem com suas aeronaves para um parque de manutenção.
Os Spitfires Merlin eram reparados e voltavam ao combate em pouquíssimo tempo.
Mesmo que em menor número, cada Spitfire resistia a muitos mais combates que os Messerschimitts. Ao final da batalha os Spitfires contabilizavam uma média de inimigos abatidos significativamente superior a dos aviões nazistas. Ao desmancharem as linhas de formações das escoltas da Luftwaffe, os Spitfires abriam caminho para que Hurricanes derrubassem os pesados e caros bombardeiros alemães.
A insistente estratégia de guerrilha aérea empregada pela RAF foi determinante para a vitória britânica em outubro de 1940. A Luftwaffe desistiu de enfrentar a Royal Air Force e redirecionou sua força aérea para a também famosa Operação Barbarrosa desferida contra a União Soviética.
Henry Royce, aonde quer que estivesse, certamente sentiu orgulho de mais uma de suas máquinas indestrutíveis. Não foi através de magia, mas sim de engenharia, que de fato Merlin protegeu o Reino Britânico de seus inimigos.
De certa forma, nem toda lenda é verídica mas Merlin de fato criou um escudo de proteção ao redor de Londres e trouxe sim os cidadãos britânicos de volta para casa…
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