A mitológica lenda de Merlin, o mago que protegia o Reino de Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda, é completamente envolta em mistérios e controvérsias.
Você já deve ter conhecido ao menos meia dúzia de versões, interpretações e adaptações sobre a lenda original que conta a história do guardião do Reino Britânico. Apesar disso, a maioria dessas lendas concordam que Merlin lançava um feitiço sobre o Reino de Arthur criando uma espécie de escudo mágico, impenetrável, que protegia os habitantes de ameaças externas.
Como você bem sabe, isso tudo não passa de uma lenda. No entanto, o PdH agora contará para você o verdadeiro e único registro historicamente comprovado que conta como Merlin efetivamente protegeu o Reino Britânico.
O princípio dessa lenda remonta o século XII. Em 1136 um clérigo chamado Geoffrey, vindo de Monmounth no atual País de Gales, criava o personagem Merlin em sua publicação Historia Regum Britannie. Diante da impossibilidade de confirmarmos a veracidade de suas fontes e também das lendas que se seguiram, não entrarei em mais detalhes sobre o trabalho do galês.
A história que venho contar é outra, e começa com um brilhante jovem britânico chamado Henry Royce.
Henry era um curioso que desenvolveu grande conhecimento na construção de equipamentos elétricos e mecânicos. Em 1884 estabeleceu sua primeira empresa especializando-se em equipamentos eletromecânicos. Em 1904 construiu seu primeiro automóvel, o Royce 10 com apenas 2 cilindros. Apesar de simples o Royce 10 refletia a personalidade obstinada e perfeccionista de Henry. Despreocupado com design e frivolidades o Royce 10 trazia um esmero inacreditável em seus elementos mecânicos e elétricos.
Era um impressionante feito de engenharia.
Ainda no mesmo ano o projeto de Henry ganhava notoriedade nas ruas britânicas e logo chamou a atenção de um empresário chamado Charles Rolls. Charles era proprietário de uma revendedora de automóveis chamada de C.S. Rolls & Co.
Após um breve encontro em um quarto de hotel, Charles prometeu a Henry adquirir e comercializar absolutamente todas as unidades produzidas daquele fantástico veículo. Em pouco tempo Rolls estava vendendo modelos de 10, 15, 20 e 30 hps fabricados por Henry. A parceria de sucesso atingiria um novo patamar em 1906 quando a fusão do talento em engenharia de Royce com o tino comercial de Rolls resultou na criação da Rolls-Royce Limited.
Pouco tempo depois os sócios inauguravam sua suntuosa fábrica e concordaram em encerrar a produção de todos os modelos de automóveis anteriores para que Henry se dedicasse ao seu mais brilhante projeto até então, o Silver Ghost.
Com o desenvolvimento desse modelo a marca Rolls-Royce associou ao seu nome à imagem de qualidade inquestionável. O Silver Ghost era perfeito em todos os sentidos. O acabamento primoroso trazia um luxo com um requinte assombroso para os padrões da época. A mecânica não era menos impecável.
O Rolls-Royce Silver Ghost bateu o recorde mundial de distância percorrida no início do século XX. Após o feito, o automóvel foi totalmente desmontado e seria constatado que nenhuma única peça precisava ser substituída. O automóvel continuava apto a quebrar seu próprio recorde.
O Silver Ghost garantiu à Rolls-Royce o título popular de “melhor fabricante automotivo do planeta” de acordo com a publicação internacional Autocar, a mais antiga publicação automobilística, que existe até hoje. O chassis e o motor desse veículo deram vida à pretenciosa idéia de Winston Churchill de construir o primeiro carro de combate da história. Assim surgia também a Rolls-Royce Armoured Cars que fabricaria chassis a serem utilizados nas duas grandes guerras.
Empolgado com tanto sucesso Rolls, que hoje é considerado um visionário, queria explorar todo o talento em engenharia de Royce para outras linhas de negócio. Na época, Charles começava a desenvolver sua grandiosa relação de amor com a aviação.
Entretanto, ao tentar convencer Royce para que o engenheiro construísse um motor aeronáutico, foi imediatamente rechaçado. Henry Royce afirmava que jamais construiria uma máquina que não pudesse assegurar sua confiabilidade. A construção de um motor aeronáutico envolvia muitas variáveis a serem consideradas. Henry prometeu jamais colocar um avião no ar que pudesse acabar por enterrar seu tripulante.
A Guerra, a Rolls Royce e a Grã-Bretanha
A fabricação de automóveis de luxo ia de vento em popa porém o início da Primeira Guerra Mundial pegou Henry de surpresa. A pressão para que a Rolls-Royce construísse motores aeronáuticos aumentava e Royce insistia que não colocaria seu nome em algo que não pudesse assegurar sua confiabilidade, segurança e durabilidade.
Sua opinião foi completamente ignorada pelo Gabinete de Guerra britânico que ordenou a utilização da infra-estrutura da Rolls-Royce para a construção de motores aeronáuticos licenciados da Renault.
Pouco tempo depois Royce dedicava todo o seu talento para enfim criar um motor de avião minimamente confiável.
Ao final da primeira guerra mundial estima-se que metade de todos os motores aeronáuticos tenham sido projetados por Henry Royce.
Como não poderia ser diferente, a qualidade dos motores de aviação projetados por Henry sobressaia em relação à qualquer outro motor aeronáutico já construído até então. No final dos anos 20 o prestígio garantiu à linha de negócio aeronáutica da Rolls-Royce mais da metade de todo faturamento da companhia.
Com os negócios indo bem Henry teve tranquilidade para projetar com calma outra de suas obras primas. Tudo começou com a criação do chamado motor R que equiparia a aeronave Supermarine S.6B Seaplane. Utilizando o motor Rolls-Royce, esse avião quebrou o recorde mundial de velocidade atingindo mais de 400 milhas por hora em 1931!
Esse era um ótimo motor, mas era demasiadamente potente para determinados usos já que possuia mais de 1700hp. O motor Rolls-Royce aeronáutico mais simples possuía 700hp, logo a diferença de potência entre o maior e menor motor era grande demais. Foi decidida então a construção de um motor intermediário que possuiria cerca de 1100 hp. Ele seria chamado de Merlin.
Aguarde a próxima parte desse artigo para conhecer o lendário papel da grande criação de Henry Royce na Segunda Guerra Mundial…
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