Como dizem que a primeira vez a gente nunca esquece, aqui vai meu depoimento. Adianto uma coisa: foi dolorido.
No domingo retrasado (7/3), a cidade de São Paulo movimentou muitos corredores com a 1ª etapa do Circuito Vênus do ano (5km e 10km), corrida que acompanhamos ano passado e com a Meia Maratona Internacional de São Paulo (10km e 21km), uma das principais corridas do circuito nacional. No Rio de Janeiro aconteceu a etapa de Outono do Circuito das Estações.
Esse ano me inscrevi para participar, pela primeira vez, no percurso de 10km da Meia Maratona de São Paulo. Adoro correr essas provas de rua e acho que 10k tá de bom tamanho para se obter os prazeres que a corrida proporciona e participar sem muito sofrimento.
Acontece que quando fui retirar meu kit de corredor (camiseta da prova, chip de cronometragem e alguns brindes de patrocinadores), um amigo que trabalha na Yescom – empresa responsável pela organização da prova – me presenteou com acesso para largar junto ao pelotão de elite.
Imagine largar ao lado de Frank Caldeira, Marílson dos Santos, os quenianos e demais atletas da elite brasileira de corrida…
O desafio: correr 21km
Porém, como nem tudo são flores, para esse feito poder se concretizar, eu teria que participar dos 21km, senão meu chip não registraria meu tempo de prova. Aí gelou a barriga. Nunca havia corrido nem 15km! Corro porque gosto, pra me divertir, me sentir bem; para atingir esses objetivos, 10km é mais que o suficiente. Correr mais do que o dobro do que estava acostumado seria um desafio e tanto. Enfim, aceitei o presente e fui pra casa. Fiquei sexta e sábado analisando todos os prós e contras desse desafio.
Após expor minha situação no jantar de sábado à noite com os #twittersrun (grupo de tuiteiros apaixonados por corrida) e ouvir incentivos apoiando minha participação nos 21k e as vantagens que eu tinha por ser praticante de corrida há algum tempo, pela minha média de tempo nas corridas de 10k e, principalmente, pela previsão do tempo propícia para arriscar um desafio na manhã seguinte, resolvi tentar encarar os 21km da Meia Maratona Internacional de São Paulo.
Consciente que seria uma prova muito mais demorada do que estava acostumado e que precisaria me preparar psicologicamente para suportar o cansaço, tracei uma meta bem razoável para minha primeira Meia Maratona. Meu objetivo era completar essa prova em 2 horas.
A corrida: todo mundo me ultrapassando
Realmente é um privilégio e tanto largar junto com a “nata” dos corredores de rua. Havia umas 50 pessoas na área reservada ao pelotão de elite. Atrás de nós havia um mar de gente se espremendo (local onde fico habitualmente). Sair na frente numa corrida dessas exige que você seja muito consciente de suas limitações e humilde para aceitar que existem muitas pessoas melhores que você.
Logo que foi dada a largada e comecei a imprimir o meu ritmo de prova, as pessoas começaram a me ultrapassar. Esse fato me acompanhou durante todo o percurso. E eu nem tava num ritmo tão lento assim: no primeiro quilometro, completei em 3’45” e passei o Km 2 com 8’ de prova. Não é nada animador ver pessoas com o dobro da sua idade, acima do peso e outros correndo “tudo errado” ultrapassando você com tranquilidade. Isso sem falar nas mulheres me deixando pra trás…
Por isso, é importante ter em mente que a corrida é um desafio contra nós mesmos. Esqueça os outros.
Desconforto no primeiro 1/3 da prova
Após o km 4 começa a bater aquele cansaço chato que é a adaptação do corpo ao esforço que está sendo feito. É a hora que o coração e o cérebro começam a se entender com relação à quantidade de sangue que precisa ser enviada ao corpo para suprir a demanda energética. Concentrei-me nos passos e não demorou muito para que houvesse o entendimento entre os dois e eu voltasse a correr confortavelmente.
Próximo ao Km 7 era a última chance pra desistir de correr os 21km e continuar o trecho de 10km, pois ali separava as duas distâncias. Respirei fundo e segui rumo aos 21km. Agora não tinha mais como voltar. O segredo era manter a concentração, respiração, frequência cardíaca (FC) e passadas controladas. Enquanto isso, as pessoas continuavam me ultrapassando…
Música: a salvação para permanecer concentrado
Link YouTube | Uma das músicas que me salvaram
Depois de completar os 10km abaixo do tempo que estava acostumado e, consequentemente, abaixo do previsto pra esta prova, fiquei animado. Então lembrei que não havia completado nem metade da prova ainda. Retornei para a “casinha” e mantive o ritmo. No Km 12 as pernas começaram a doer, e via logo à frente a subida de um viaduto. Neste momento saquei o bom e velho MP3 player – já estava engatilhado, porém desligado – e comecei a curtir uma música agitada para motivar. A cabeça já não estava dando conta do recado sozinha. A música distrai e te faz não pensar no esforço das pernas.
No Km 16 já corria por inércia. Como não estava acostumado com essa distância, as pernas estavam bem cansadas e a música não estava sendo eficaz para garantir a continuidade por mais 5 km. Eis que começa a tocar GMS. Música eletrônica com batida bem forte. Fiquei arrepiado com a batida e empolgação que a música trouxe. Foi a salvação, pois estava na segunda passagem pelo Minhocão e é um trecho com uma subidinha contínua bem chata.
Os últimos quilômetros pareciam não ter fim. A impressão que dava era que um demorava mais que o outro. A avenida Pacaembu parecia eterna. O tempo não passava, a frequência cardíaca estava alta e o cansaço das pernas no limite. E quando olhava pro lado, as pessoas me ultrapassando. Agora em menor quantidade, mas ainda ultrapassavam. “Haja coração”, como diz Galvão Bueno.
Andei 2 vezes durante a prova! Pois é, no Km 14 e no Km 19. Foram 2 situações que estava muito difícil manter o ritmo e precisava desacelerar. Caminhei por 1’30” no Km 14 e por 1’ no Km 19. Não foi fácil assumir que precisava tomar essa atitude, mas foram momentos que o cansaço era demais, corria com sofrimento, e esse definitivamente não é meu objetivo. Por isso, andei e não me arrependo. Esperei a FC abaixar um pouco e retomei numa boa.
No Km 20, quando passa ser possível visualizar o local da chegada, é só alegria. O piloto automático é ativado e seu corpo vai sozinho até cruzar a linha de chegada.
Resultado:
- 21km em 1h53min
- FC média de 176bpm
- 1952kcal
Tá bom ou quer mais? Mesmo com centenas de pessoas me ultrapassando durante todo o percurso, terminei a prova 7 minutos abaixo do tempo esperado.
Conclusões
Correr minha primeira Meia Maratona foi um desafio e um exercício de superação e autoconhecimento.
Se um dia você resolver que quer completar uma, treine pra isso. Não dê uma de louco e ache que correr 21km é como ir daqui à esquina. Comece devagar, escute seu corpo e não dê importância se muitas pessoas o ultrapassarem.
Link YouTube | Treine igual ao Forest
Beba água em todos os postos de hidratação. Muitas pessoas passam mal durante as corridas por desidratação, principalmente em dias quentes. Na Meia Maratona, é importante você ter um carboidrato em gel para ingerir na metade da prova. Recomendado um sachê para cada 50-60 minutos de prova.
Agora respeito ainda mais o maratonista. A pessoa que consegue completar uma maratona tem o poder da mente e da superação. Tiro o meu chapéu.
E você, participou de alguma corrida esse ano? Pretende participar de alguma? Qual sua distância preferida? Compartilhe conosco suas experiências e ambições nas corridas.
Se tiver alguma dúvida, meu email é drfitness@papodehomem.com.br
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