Quem bebe whisky quase sempre sabe que a idade é considerada um grande fator para a qualidade da bebida. Mas não é determinante. O caráter do whisky é determinado também por um conjunto de outros fatores, como a região de produção, as propriedades da água, a queima da turfa e a qualidade dos barris de carvalho, para citar alguns desses fatores.

É possível que você conheça alguém que procure sempre beber um whisky de no mínimo 8 anos, por exemplo – mesmo que seja para misturar com energético. Temos este e este texto aqui no PdH sobre o assunto, escritos pelo camarada apreciador Rodrigo Almeida.

Eles são ótimas referências, onde você pode aprender bastante – recomendo a leitura especialmente se você deseja aprender a diferença entre Single Malt e Blended –, mas preciso fazer uma correção. O artigo do primeiro link diz que o Scotch precisa envelhecer por no mínimo 6 anos. Na realidade, o tempo mínimo de envelhecimento de um whisky é de 3 anos.

“O whisky, para ser considerado whisky, precisa ter envelhecido pelo menos 3 anos em barris de carvalho com capacidade máxima de 700 litros e ter sua gradação alcoólica entre 40% e 95,8% no ato da destilação.” –Milton Pires, no livro O mundo do Whisky: na dose certa

Livro O mundo do Whisky: na dose certa
Leitura recomendada para quem se interessa em começar a aprender

A regra também diz que, em um blended, o whisky mais novo na mistura é o que determina a idade a ser estampada no rótulo. Então, se um blended for composto 90% por um whisky 25 anos, 9% por um 12 anos e 1% por um 3 anos (o mínimo), ele terá que ser rotulado como um 3 anos, sinto muito.

Bebendo com a experiência

Sabendo que a idade não é o único fator determinante, você pode experimentar whiskies de diferentes regiões e, mesmo sem ser um expert, perceberá diferenças sutis. O autor do livro indicado Acima, Milton Pires, me apresentou ao Laphroaig. Nunca tive experiência em beber whisky, mas bastou eu aprender um e comecei a gostar de degustar a bebida.

O Laphroaig é um exemplo de whisky da região das ilhas escocesas, especificamente de Islay. O Milton serviu um pouco, colocou uma pedra de gelo para soltar os aromas e me conduziu na experiência (o whisky era um single malt).

O mais interessante e gostoso em se beber aquele whisky foi ouvir as instruções de um conhecedor e identificar o aroma da maresia (algumas destilarias armazenam os barris à beira-mar), o forte sabor da turfa (material usado na queima da cevada, que nessa região é impregnado de sabor de algas e detritos marinhos) e o gosto levemente iodado.

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No livro, Milton conta que nas primeiras propagandas desse whisky o slogan era “Sua primeira prova pode ser a última”, já que muita gente não gosta do sabor forte dos spirits dessa região.

Bastou um pouco de informação para eu sentir um prazer diferente em experimentar um whisky novo.

Islay

Experimente provar um Jack Daniels após ler um pouco sobre ele e saber que ele é feito de centeio e milho. Perceba as diferenças do whisky escocês para o whiskey (com ‘e’) irlandês, que geralmente não usa turfa na queima (deixando a bebida menos defumada).

Beber, assim como qualquer outra atividade, pode ser muito mais prazeroso se você souber o que está fazendo.

A idade, no fim das contas, foi um detalhe para o qual aprendi a não dar tanta importância. Mas não significa que não deveser considerada.

Três é o mínimo, 8 é o maduro

Para sequer ser considerada um whisky, a bebida precisa ser envelhecida por no mínimo três anos. Sim. Mas isso não significa que será um bom whisky. É raríssimo encontrar um whisky considerado premium com menos de 8 anos. Há um entendimento que essa é a idade da maturidade para o whisky:

“Um whisky novo, não maturado, tem um acentuado sabor metálico. Qualquer pessoa que já pode experimentar uma amostra fresca direto do alambique é capaz de relembrar este sabor desagradável.
Com o tempo de maturação no barril, este sabor indesejado diminui cada vez mais seguindo a linha vermelha no diagrama. Depois de 5 a 8 anos, ele geralmente já desapareceu. (…) É por esta razão que praticamente não existe no mercado um whisky premium com idade abaixo de 8 anos.”
Whisky.de, “The Maturation of Whisky in casks”

Já vi garrafas estamparem 5, 6 e 7, mas é incomum. É a partir dos 8 que a bebida começa a “ter orgulho” da sua idade, estampando-a em números garrafais no rótulo.

Sendo assim, se não está escrito em lugar nenhum que é 8 anos (por exemplo, se apenas diz algo como “Red Label”, sem nenhuma indicação da idade real), não considere e nem aceite o garçom te vender como se fosse.

Chivas 38 Anos
Esta garrafa é uma festa só para maiores de 38

Chamar um blended comum de 8 anos sem ter essa informação é mostrar falta de conhecimento e desmerecer a qualidade dos blends realmente envelhecidos, que têm em suas misturas, além do brilhante trabalho dos master blenders, spirits raros, com não menos do que 12 anos, no caso de um Aged 12.

Vítor Barreto

Editor da <a>Lúcida Letra</a>/<a href="http://www.2ab.com.br/">2AB Editora</a>