Há um tempinho, fiz um teste de Ética na empresa em que trabalho. O objetivo era alinhar todos os colaboradores nos conceitos de transparência, lealdade e responsabilidade. As perguntas tratavam de situações cotidianas e outras possíveis saias justas do mundo corporativo.
Isso me fez pensar se aquilo tudo realmente se tratava de Ética. Aquela Ética que era elucubrada pelos pensadores barbados da Acrópole. Aquela Ética que assisti no extenso vídeo da Marilena Chauí na faculdade.
No começo da década, ocorreu um fenômeno curioso. As mudanças econômicas impulsionaram as empresas a adotarem novas posturas com relação aos mercados e aos seus funcionários. Com o capital mais fluido, as companhias passaram a buscar boas práticas de gestão. Assim, “funcionários” viraram colaboradores. “Chefes” viraram gestores e assim por diante.
Link YouTube | Hoje, nas empresas, não há mais o comportamento de “chefe”. Pelo menos não deveria
A preocupação com a Ética emergiu nesse balaio. A empresa passou a ser vista por um prisma além da sua atividade econômica. Ações de responsabilidade social e de melhorias da qualidade de vida passaram a compor a agenda do departamento de Recursos Humanos. Pipocaram salas de descompressão e o casual day se alastrou.
Entendendo Ética como um conjunto de princípios e comportamentos para uma vida justa, equilibrada e possível em sociedade; esse frenesi da Ética corporativa acabou se tornando uma mera formalidade.
Mas isso não é culpa puramente das empresas. As mudanças informacionais que passamos nas últimas décadas tornaram o mundo culturalmente complexo. Hoje, nosso gestor pode estar na Argentina, sendo comandado por um diretor malaio que mora na Inglaterra. E é aí que as Éticas se confundem e se perdem.
A Ética ocidental é a que mais sofre. Enquanto que nossas academias continuam bebendo no classicismo filosófico, o mundo corporativo tem de lidar com arestas mais instáveis. Dessa forma, a Ética corporativa, mesmo formal e superficial, busca deixar todo mundo no mesmo compasso.
Agora, cabe saber se essa “década da Ética” nas empresas serviu para alguma coisa. Será que a Ética tomou o lugar da gravata? Temos que usá-la, mesmo sem querer usar? E indo mais além, ela deixa o figurino realmente mais bonito? Ou é só mais um adorno que mostra que queremos fazer parte da brincadeira?
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