Recentemente tem-se vinculado na mídia um verdadeiro bombardeio de notícias especulando sobre a chamada “crise imobiliária”.

O assunto chama a atenção não só pela sua repercussão nos mercados financeiros como também pela súbita preocupação dos economistas brasileiros a respeito de sua profundidade e de como ela poderá afetar o Brasil.

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Senta a bunda em uma posição confortável que a explicação vai começar

Crise no Brasil é sinônimo de preocupação, nosso histórico deixa muito a desejar em momentos de crise. A volta da temida inflação, uma aperto fiscal ainda maior, enfim, o brasileiro treme toda vez que a frase “crise econômica” começa a ser veiculada com freqüência.

Mas o que mudou? Estamos realmente em condições de lidar com outra crise? Porque o mercado imobiliário norte-americano é tão importante? Como esta crise poderá afetar minha empresa? Estas são perguntas importantes, sobre um assunto que poucos dominam, e que tentarei responder de forma clara e objetiva em cinco passos, sem abusar do economês.

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A coisa ficou feia lá fora

1.

Vamos começar voltando agora a 11 de setembro de 2001, na época do atentado ao World Trade Center, quando o presidente dos EUA George W. Bush, pede aos americanos que vão as compras, por medo de uma recessão. Esta medida visava manter a demanda evitando uma queda acentuada no consumo, que teve início após o atentado. Para viabilizar este pedido, o FED (o Banco Central dos EUA) diminuiu a taxa de juros básica da economia, tornando assim o dinheiro barato, o que levou os americanos aos financiamentos e ao aumento do consumo.

2.

O baixo custo dos financiamentos aqueceu o mercado imobiliário nos EUA, elevando o número de empréstimos. Neste momento entra em cena a engenharia financeira criando subprodutos destes financiamentos.

3.

Para diminuírem o risco da operação os bancos passam a vender títulos lastreados nestes financiamentos, ou seja, passam a vender papéis que têm base nos juros destes financiamentos e desta forma dividem o risco da inadimplência.

De forma mais clara: o banco está negociando o rendimento da operação no mercado aberto, e assim antecipando os vencimentos e em troca oferecendo o próprio rendimento da operação.

4.

Fundos de investimentos então compram estes papéis de várias instituições financeiras e vendem cotas destes fundos a acionistas no mundo inteiro. Desta forma o aumento da inadimplência no pagamento dos financiamentos aos bancos afeta o mundo todo. Esta é a chamada “bolha imobiliária”.

5.

O problema ocorreu quando os recentes indicadores mostraram um aumento da inadimplência nos EUA. Além disso, vieram a tona a quebra e a dificuldade financeira pela qual grandes empresas americanas de financiamento estão passando.

Este efeito se alastrou como uma onda de choque e aterrorizou a todos que têm dinheiro nestes fundos ou possuem ações destas empresas. Para se protegerem, investidores pelo mundo todo realizam lucros, ou seja, vendem seus papéis que tiveram rentabilidade nos últimos meses. E isto afeta diretamente a bolsa brasileira – que estava em alta – e se torna palco da famosa fuga de capitais, realçada ainda mais pelo medo nos investidores, que logo retiram seu dinheiro de aplicações de alto risco.

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Este é o fenômeno por trás da queda nas bolsas e a valorização do dólar. O raciocínio é simples, ao sair o investidor estrangeiro vende suas ações em reais e compra dólares, sendo assim, o aumento da procura pela moeda eleva seu preço. Movimento esse que ocorreu nas últimas semanas.

No entanto, o Brasil hoje se encontra bem mais preparado para uma crise do que esteve no passado. O Banco Central tem a sua disposição uma enorme quantidade de dólares, a chamada reserva internacional. Estas reservas dão a tranqüilidade para os investidores de que não faltará dólar, e de que seu preço não deve oscilar muito. Além disso, os juros no Brasil estão mais baixos e os indicadores conjunturais da economia brasileira vêm melhorando, o que deixa o país em uma posição mais confortável do que esteve anteriormente.

E para quem tem dinheiro na Bolsa?

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Nada de pânico, ninguém precisa sair correndo deseperado, a Bolsa precisa de sangue frio

As últimas notícias são boas, tanto que a Bovespa voltou a subir e o dólar a cair. Entretanto, ainda não é possível mensurar o real tamanho da crise, já que as instituições de crédito nos EUA não mostraram com clareza os seus balanços, e como a inadimplência as afetaram e ainda vai afetar.

O alerta fica para as empresas e pessoas que possuem investimentos na bolsa. Não aconselho retirar o dinheiro da bovespa, mas o momento é de cautela nos papéis de mais risco.

Entretanto, para aqueles que não são avessos ao risco e para os quais crise pode ser sinônimo de oportunidade, a dica é a seguinte:

O Brasil deve, em um período de um ano a um ano e meio, atingir o chamado investment grade. Isso significa que o Brasil será considerado, pelas agências de risco, um lugar seguro para se investir. Dessa forma, os fundos de pensão, fundos de investimento e investidores mais conservadores, que ainda não investem aqui por falta de confiabilidade irão começar a comprar nossos papéis.

Este movimento deverá elevar a movimentação na Bovespa, aumentado a sua liquidez e valorizando as ações e títulos de empresas consideradas sólidas. Isto significa que o momento é de comprar, aguardando esta onda de valorização que é esperada para a bolsa de valores.

Fica aí a dica, quaisquer outras dúvidas, terei prazer em responder nos comentários. Abraços.

João Marcos é um jovem economista formado na UFMG e consultor da DMN Company – empresa de comércio exterior baseada em Belo Horizonte.

João Marcos

Economista por ideal; contador por praticidade, sempre inquieto, ainda acha que vai criar coragem para pular de parquedas. Ensinou a muitos clientes do Unibanco e do Itaú como investir em ações, engordando um bocado de contas bancárias.