Não vou falar de esportes, nem do Phelps nem da Sara Brightman cantando na abertura dos Jogos Olímpicos. Eu vou falar de um assunto polêmico, pra variar. E, pra variar de novo, vou ser do contra.

A mais nova moda, depois da franja e das calças apertando os colhões, é falar mal da China. É cult sentar num bar ou no almoço do trabalho falar que a China tem censura, que ninguém tem liberdade, que o Estado manda em tudo e blábláblá. Em jornal, revista, na TV, na internet, todo mundo que quer parecer contra-cultura e modernoso fala isso. No dia da abertura quase apanhei quando falei que a China é foda.

Mas ninguém – ou quase ninguém – tenta entender porque isso acontece. E é isso que eu, com toda a minha sapiência e falta do que fazer, vou explicar.

Noções como higiene, honra ou questões sexuais são absolutamente frutos de uma imposição social que se fez normal com o passar do tempo. Se hoje incesto é inadmissível e completamente condenável, há algumas centenas de anos não só era corriqueiro como era algo incentivado. As noções de higiene que temos hoje eram absurdas há no século retrasado.

A maior prova disso é a Bíblia: a Bíblia se fosse filmada pelo Tarantino ia ser o maior épico ‘sangue-espirrando-na-tela’ de todos os tempos. Forte matança, sanguinolência, praga, peste, gente cortando cabeças e Deuses matando criancinhas. Mas também poderia ser o filme pornô definitivo se fosse estrelado por Márcia Imperator, Vivi Fernandes e Alexandre Frota. Ou alguém aí já se esqueceu da estória das duas cidades da Bíblia, Sodoma e Gomorra, que são praticamente a terra prometida pra todos os homens do mundo, menos eu, que sou um sujeito apaixonado e não teria nada pra fazer nessa terra de putaria, sexo o tempo todo, sacanagem, mulheres gostosas peladas andando pela rua e falta de moral e bons costumes?

Pois é, nenhum livro tem mais putaria, violência, incesto e desgraça do que a Bíblia. E isso não só era aceito e normal, como ATÉ HOJE é compreendido pelos cristãos. Matar criancinhas, comer a própria irmã e as filhas e empalar inimigos ta tranqüilo, mas proibir manifestações públicas não? Pimenta no olho puxado dos outros é refresco…

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A China pode ser um país empolgante
Então, agora que já entendemos o lance cultural, vamos à China. Eu sei que há exageros, admito, apesar de adorar a cultura da China. Sei que impedir ONG’s de trabalhar ou ter sites hospedados por lá é, no mínimo, autoritário, mas tem um fundamento lógico. Na cultura ocidental o foco principal é o indivíduo. O bem estar do indivíduo, a carreira de cada um, enfim, o indivíduo é a grande estrela da cultura ocidental. Sem esquecer que isso foi culturalmente construído ao longo dos séculos.
Já no oriente, o grande foco de tudo é a coletividade. O bem estar da coletividade, a evolução da coletividade, em detrimento do indivíduo. As bonecas já devem estar gritando ‘que absurdo’, ou ‘isso é censura!’. Antes de gritar, vamos nos lembrar do que eu falei no parágrafo anterior sobre cultura. Se hoje na cultura ocidental é aceito o sujeito sonegar impostos, pagar mal aos seus funcionários ou se eleger a um cargo público e construir casas de milhões pra ele mesmo e empregar a família inteira, vamos tentar entender a cultura do vizinho.
Uma quinta-feira morna na China

E hoje em dia, um dos únicos paises que ainda vivem essa cultura é a China. Muitos paises orientais se ocidentalizaram. Não estou falando que isso é bom ou ruim, é só um fato. E no pensamento chinês, abrir mão de direitos em nome dos deveres da coletividade não só é normal como é quase uma regra de conduta.
Mas aí as bonecas que não se deram por vencidas vão falar que o povo chinês não pensa assim, e que muita gente preferia não ser assim a realidade de seu pais. Bom, eu também preferia não viver em um pais que paga R$500mil por mês para um jogador de futebol e R$600  pra um professor, ou que em meu pais não fosse normal um político criminoso não poder ser julgado por ser político, ou que eu meu pais as pessoas não enchessem meu saco reclamando que eu sou chato, homofóbico e preconceituoso, e fossem censurados e espancados em praça pública pra deixarem de ser viadinhos e filhos de vó.
Nem toda cultura é unânime, assim como nem toda religião. Assim como há chagas, há vantagens indiscutíveis, como a Medicina Tradicional Chinesa, o incentivo aos esportes, a educação infinitamente mais ampla e completa que a nossa, e muito mais.
Qual o preço que eu pago por viver num pais ‘livre’ é não poder sair de noite sem ser assaltado? Não poder usar um hospital público porque não funciona, não ter uma escola que incentive meu filho a praticar esportes e aprender alguma coisa que não seja matemática-química-física porque o governo não acha isso importante, ou ver o Estado exportando bundas e putaria como o principal atrativo do meu pais?
Quem paga caro mesmo?

Leonardo Luz

Fã de polêmicas, adora cutucar onça com vara curta. Também detona no blog <a>"Eu e Meu Ego Grande"</a>."