Nos primórdios da internet, as newsletters eram a melhor maneira de entrar em contato com as pessoas leitoras. Hoje, vinte anos anos depois, também.

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Era uma vez, há muito tempo, uma terra feliz onde todas as pessoas usavam o Google Reader para acompanhar seus sites preferidos e intergir com os amigos.

Um dia, entretanto, o Rei Google pirou na batatinha, decidiu dar um tiro no próprio pé e acabou com o Google Reader.

E, por toda a terra, houve choro e ranger de dentes.

O Rei Facebook, entretanto, aproveitou a situação para amealhar todos os órfãos do googereader: do dia para noite, milhões e milhões de pessoas migraram para o seu reino.

E, por toda a terra, houve regojizo e felicidade, e as pessoas foram muito felizes, curtindo as páginas dos seus sites preferidos e acompanhando novos posts e textos pelo facebook, e ainda curtindo, compartilhando, interagindo com seus amigos.

facebook_vs_google

Um dia, entretanto, o Rei Facebook foi tomado por um acesso infernal de ganância e avareza, e também deu um tiro em seu próprio pé:

Começou a mostrar as postagens para menos de 5% dos curtidores de uma página. Se a página quisesse atingir todos os seus próprios curtidores (ou seja, aquelas pessoas que curtiram a página porque queriam ver seus posts!), teria que pagar!

E, por toda a terra, houve choro e ranger de dentes.

As pessoas administradores de páginas ficaram desesperadas, sem ter como atingir seu próprio público, a não ser pagando altas somas!

As pessoas curtidoras ficaram desorientadas, sem entender porque de repente não viam mais tantas postagens de seus sites e páginas favoritos.

Então, em resposta à busca por novas maneiras de conectar produtores e consumidores de conteúdo, renasceram as newsletters.

 

Definindo as novas-velhas newsletters

Há muitos e muitos anos, ainda antes da históra acima, a internet era um meio txt, de fóruns, grupos de discussão e emails, mas quase nenhum site e pouquíssimas imagens.

Nessa época do byte lascado, as newsletters eram praticamente o único jeito de produtores de conteúdo entrarem em contato com um grande número de pessoas.

 

Página inicial da Amazon em 1994.
Página inicial da Amazon em 1994.

Aos poucos, a velocidade de transmissão foi aumentando e os navegadores (Netscape, Explorer, etc) se popularizando. Muitos dos primeiros sites nasceram literalmente como repositório estático do arquivo de textos das newsletters mais populares.

Foram essas mesmas condições tecnológicas que, ao mesmo tempo em que possibilitaram o boom das startups de internet entre 1998 e 2000, também começaram a matar as newsletters, abrindo caminho para o reinado supremo dos websites…

Até agora.

(Eu, por exemplo, fiz meu primeiro email @ax.apc.org e entrei na internet em 1994; instalei o navegador Netscape e comecei a acessar sites, em 1996; criei e manti uma lista de distribuição de tirinhas de quadrinhos de jornal no eGroups a partir de 1997; comecei a trabalhar com internet, para a StarMedia, no começo do boom, em 1998; levantei dinheiro com investidores e fundei minha própria startup em 2000; e quebrei em 2002, esquece, esquece!)

 

Definindo as novas-velhas newsletters

Quando falo de newsletter, não estou falando desses sites que enviam por email os links ou textos completos de seus últimos posts.

Se todo o “conteúdo” da newsletter já está disponível publicamente em um site aberto, então a newsletter é redundante.

Ela é apenas uma ferramenta de divulgação do site. Não adiciona nada. Não comunica nada de novo. Não se aproveita desse aspecto mais íntimo que o email fornece.

O novo formato de newsletter que está (re)ssurgindo é ao mesmo tempo inovador e tradicional. São textos personalíssimos, mais humanos e mais exclusivos. Que permitem que criadores de conteúdo se relacionem com seus públicos de maneiras mais profundas, mais bonitas, mais instigantes.

Uma boa newsletter, como aquelas lá dos primórdios, é aquela que se mantém por si só, independente de sites, como se ainda não existisse a web: apenas uma mensagem direta, humana e original, enviada de pessoa para pessoa.

Abaixo, algumas sugestões de newsletters que vêm tentando fazer justamente isso.

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As minhas newsletters preferidas

Juliana Cunha é baiana, foi pra São Paulo, escreve pra Folha, Trip e Piauí, e já ganhou por duas vezes o prêmio Zelda Fitzgerald de maturidade emocional. Ela escreve especialmente sobre literatura e estilo, e consegue transformar os temas mais simples em textos interessantes.

Olivia Maia é uma escritora paulistana que fugiu de São Paulo e está há um ano mochilando pela América Latina e compartilhando vivências incríveis.

 

Alessandro Martins, com Claudia Regina, em foto de Rodolpho PajuabaAlessandro Martins, com Claudia Regina, em foto de Rodolpho Pajuaba

Alessandro Martins é uma das pessoas mais lindas e humanas que já conheci. Em um dos encontros “As Prisões”, ele se definiu assim: “meu trabalho é ter uma vida interessante para poder escrever coisas interessantes.” O Ale é muito bom no seu trabalho.

Aline Valek escreve sobre feminismo para a Carta Capital e possui um talento incrível para explicar o feminismo didaticamente para quem ainda não entendeu.

Paula Abreu chutou o balde de uma carreira corporativo e decidiu ser mãe, escritora, coach, mestra. O seu tema principal é: podemos escolher nossa vida.

Por fim, se você gosta do que eu, Alex Castro, escrevo, assine a minha newsletter, com as atualizações do meu site e mais textos inéditos e exclusivos só para assinantes.

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Uma experiência pessoal com newsletters

Para mim, como produtor de conteúdo, poucas coisas têm me dado tanto prazer quanto o meu newsletter.

Ao contrário das caixas de comentários (que estimulam a agressividade e onde muitas vezes os comentaristas ficam se mostrando uns aos outros tentando “ganhar” a discussão), as newsletters promovem um contato ao mesmo tempo mais próximo e mais generoso, especialmente em relação ao feedback.

Ao responder à newsletter e entrar em contato comigo, a privacidade do email permite que as pessoas leitoras estabeleçam um contato mais pessoal e mais aberto, com mais troca e mais compartilhamento.

Ou seja, exatamente o tipo de comunicação íntima e refletida que seria impensável em uma caixa de comentários, entre o Bolão234 xingando o autor do texto e a MariaAracaju2 divulgando links do seu site de ecologia.

Em um email, ninguém nunca está querendo aparecer para a plateia.

 

Prisões, Natal, 30ago2014. Foto: Claudia Regina.
Prisões, Natal, 30ago2014. Foto: Claudia Regina.

Agora, ao longo do ano de 2014, estou viajando o Brasil com o encontro “As Prisões”, dando a versão final aos textos que vão formar o futuro Livro das Prisões e publicando-os um por mês aqui no PapodeHomem.

Sempre que acabo uma nova Prisão, envio uma prévia para as pessoas assinantes, recebendo em troca dezenas, às vezes centenas, de emails inteligentes e afiados, com críticas, feedback e sugestões que já modificaram e melhoraram os textos de forma significativa.

Dá pra contar nos dedos de uma mão os xingamentos, ofensas e trollagens que já recebi por email.

Muito, muito obrigada a todas as pessoas assinantes.

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Sugestões da equipe do PapodeHomem

Manual do Usuário: oferece conteúdo relevante sobre tecnologia. Foco zero em caça de cliques, só o que realmente importa sobre o tema entra aqui.

Brain Pickings: uma coleção de citações de escritores com comentários da Maria Popova. É excelente pra quem gosta de estudar sobre como ser mais criativo e produtivo.

Nieman Journalism Lab: uma newsletter dedicada a discutir o futuro do jornalismo.

The School of Life: eles se descrevem como uma empresa de cultura oferecendo boas ideias para a vida cotidiana. Já disponibilizamos conteúdo relacionado a eles por meio dos textos do Alain de Botton

Oene: uma espécie de janela antirruído na internet, com reportagens mais profundas, pontos de vista originais e uma curadoria cuidadosa. Já publicamos algumas coisas deles, por meio de textos do Pedro Burgos.

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Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu